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Pré-candidatos ao Senado, Sachetti e Maria Lúcia divergem na ideologia e debatem temas delicados

Da Redação - Érika Oliveira

Olhar Direto inicia nesta semana uma série de reportagens especiais sobre temas centrais na vida de Mato Grosso e do Brasil, em que autoridades de diversos setores e formadores de opinião são convidados para debater ideias, propor soluções e lançar um olhar aprofundado sobre problemas enfrentados pela população e projetos para o futuro. Quatro perguntas idênticas foram feitas aos dois e cada um pode questionar o outro como fechamento do debate. 

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Para abrir o ‘Confronto Direto’, foram convidados dois pré-candidatos ao Senado Federal por Mato Grosso. Adilton Sachetti (PRB) e Maria Lúcia Cavalli Neder (PC do B). Com ideias de centro-direita, Sachetti deve formar chapa com o empresário Mauro Mendes (DEM), que ensaia candidatura ao Governo de Mato Grosso. Já Maria Lucia, filiada ao partido comunista, é pré-candidata ao Senado pelo grupo de Wellington Fagundes (PR) e também cotada para exercer a vice-governadoria ao lado do republicano.

Empresário renomado do agronegócio mato-grossense, recém filiado ao PRB, Sachetti já foi prefeito de Rondonópolis – seu reduto político -, e foi eleito deputado federal pelo PSB. O deputado votou a favor do Processo de impeachment de Dilma Rousseff e também da PEC do Teto dos Gastos Públicos.

Já Maria Lucia, que também se filiou recentemente ao seu atual partido, possui um histórico de participação política, principalmente na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), onde foi reitora entre os anos de2008 e 2016.

Confira abaixo o debate proposto por Olhar Direto aos dois prá-candidatos:

1) Os dois pré-candidatos são oriundos de diferentes áreas de atuação. Uma é professora universitária, com doutorado em Educação, tem a experiência de ter sido reitora da UFMT, e é filiada ao PC do B; enquanto o outro é arquiteto de formação, produtor rural de sucesso, já exerceu cargos de prefeito de Rondonópolis e deputado federal e, atualmente, está filiado ao PRB. De maneira direta, como cada uma se define ideologicamente ao eleitor?

Adilton Sachetti: Eu sou alguém de direita, dessa direita que pensa em um Estado pequeno, um Estado que cumpra a sua função: que é educação, saúde, segurança e infra-estrutura. E o restante é a sociedade que tem que fazer. A sociedade tem que ser livre para empreender. Quem gera o imposto não é o Estado, é o cidadão. Quanto mais o cidadão tiver liberdade de crescer e empreender, mais imposto ele vai gerar e maior será a capacidade de investimento do Estado. Nós temos que encontrar o equilíbrio disso.

Maria Lucia: Eu me defino como uma pessoa que compreende a necessidade de um desenvolvimento econômico e forte, mas que tem o desenvolvimento social como uma vertente fundamental. Pensar a sociedade carece de princípios fundamentais, um deles é a questão da democracia, pois nós não abrimos mão de defendê-la. Em segundo lugar, nós defendemos intransigentemente os bens nacionais, a soberania nacional, a defesa do patrimônio nacional. Talvez essa seja uma marca diferente [entre direita e esquerda], porque nós não aceitamos que se venda os patrimônios que foram conquista do nosso povo, como é o caso da Petrobras. Outro ponto que defendemos é a diminuição da diferença social. Nós atuamos de maneira muito forte para que o Brasil não tenha uma distancia muito grande entre as pessoas que têm salário mínimo e o maior salário, para que haja realmente uma maior distribuição de renda. Quem conhece a história sabe que o Partido Comunista veio para dar suporte ao governo do povo, justamente para resgatar o direito de o povo comandar o seu destino. A minha luta a vida inteira foi essa, então eu me sinto muito confortável em fazer parte de um partido que tem o povo, a classe trabalhadora, como sua preocupação principal.

2) A atual crise econômica pela qual o Brasil e Mato Grosso passam reacendeu o debate sobre a taxação do agronegócio. Tanto entre quem é favorável quanto entre quem é contrário à isenção, há quase uma unanimidade de que a Lei Kandir precisa ser revista e qualquer alteração terá de passar pelo Senado. Qual é o modelo defendido pelos senhores?

Adilton Sachetti: Eu defendo o menor imposto possível, não tem como a sociedade continuar pagando mais imposto. Se nós não rediscutirmos o tamanho do Estado, nós estamos perdendo tempo em discutir a taxação de qualquer setor. O único imposto que o agronegócio não paga é o ICMS, na verdade só uma parte, e todos os outros impostos que a sociedade paga o agro paga também. Falta um pouco de esclarecimento da verdade dos fatos do que aqui ocorre. Na época em que foi criada a Lei Kandir, se tivesse a tributação não teria produção no nosso Estado. E se hoje ela for recolocada, tem lugares que vão quebrar, porque a conta não fecha, a margem do produtor fica menor do que o que é arrecadado, então não vai ter plantio. Ninguém planta só porque quer plantar, é para ganhar dinheiro. Se não tiver renda, não tem plantio. Eu sou favorável que se reduza o tamanho do Estado e não o aumento de impostos.

Maria Lucia: Primeiro é preciso considerar que o agronegócio é um bem do Estado de Mato Grosso, na política é um processo forte, no desenvolvimento da economia, e que nós temos que ter muito cuidado com ao lidar com essa questão. Mas nós não podemos fugir da questão de que nós somos um dos maiores produtores de grãos do país, que nós precisamos valorizar o agronegócio, e o PC do B valoriza muito o processo produtivo, seja ele industrial ou agrícola. O que nós não apoiamos é o rentismo, você ganhar o dinheiro com aplicações com juros exorbitantes, um processo em que o trabalho não é valorizado. Nós valorizamos o agronegócio e compreendemos que precisamos apoiá-lo fortemente, com a logística de Mato Grosso e também favorecer a instalação de indústria no nosso Estado, porque hoje com essa produção espetacular de soja, algodão, milho e também na pecuária, nós temos que entender que esses bens saem de Mato Grosso para exportação sem pagar imposto. A lei foi criada para apoiar a produção, para que fossem competitivos no mercado. Não é uma questão só de taxar o agronegócio, a questão é trazer a indústria para Mato Grosso com uma logística forte, que aí implica ferrovia, transporte fluvial, além das estradas.

3) Existem teses divergentes sobre atual política do Estado brasileiro com relação ao aborto. Há segmentos da sociedade, principalmente ligados aos movimentos sociais de mulheres, que defendem a descriminalização da prática. Por outro lado, há grupos organizados e segmentos religiosos que defendem um endurecimento na penalização e uma redução de casos em que a prática é permitida. Na avaliação dos senhores, aborto deve ser tratado como caso de polícia? Qual é o modelo mais justo para essa questão?

Adilton Sachetti: Essa pergunta é muito ampla e traz uma discussão que a sociedade ainda não está madura para ela. O aborto é uma questão de vida, precisa de discernimento para as tomadas de decisões. O que hoje já está amparado por lei, eu acho que já está de bom tamanho. Nós precisamos esperar a sociedade amadurecer mais para discutir esse assunto com mais clareza. O que não pode é criminalizar o aborto, porque isso é uma questão humana, se levar para o lado do crime parece que é a coisa mais feia do mundo e existe uma serie de situações em que já é permitido. Eu não tenho uma opinião totalmente formada sobre esse tema.

Maria Lucia: Se você é um representante do povo, você precisa auscultar o povo. Eu tenho uma religião, mas não é a minha religião que tem que pautar a minha posição como senadora, ou como qualquer outro cargo público que eu exerça. A questão do aborto é realmente muito complexa, porque envolve primeiro uma questão de Estado. Se nós estamos em um país democrático, exige-se que você faça uma consulta pública para saber a opinião das pessoas. Segundo, há uma vertente religiosa que também deve ser respeitada. Mas, as religiões são muitas, então é preciso ouvir todas elas. E tem a questão do feminismo, a questão da mulher, em saber que o corpo é dela e que ela luta para ter poder sobre esse corpo. Então, são vertentes tão diferentes que nós precisamos, enquanto representantes, fazer uma proposição de uma discussão muito profunda. Eu tenho a minha opinião, mas eu penso que como representante não posso colocá-la como a correta. Se eu for eleita, vou primeiro me posicionar no sentido de que temos de discutir isso profundamente.

4) Existe um abismo sócio-econômico entre os municípios de Mato Grosso que têm sustentação da economia baseada no agronegócio, como Sorriso, Lucas do Rio Verde e Tapurah, considerados “ilhas de prosperidade”; e os mais antigos, com economia exaurida e baixo IDH, como Nossa Senhora do Livramento, Santa Cruz do Xingu e Jangada, entre tantos outros. Como o reduzir as desigualdades regionais de Mato Grosso, para que o IDH melhore tanto nas regiões produtoras quanto nas demais?

Adilton Sachetti: Eu vejo que hoje nós não podemos penalizar os municípios que estão dando certo, nós temos que estimulá-los para que dêem cada vez mais certo. Mas o Estado tem capacidade de criar políticas publicas de desenvolvimento das outras regiões, daquelas que não têm as mesmas condições das que estão implantadas o agronegócio. Trazer conceitos de desenvolvimento para essas regiões. Se não dá para produzir a parte agrícola, vamos desenvolver outras atividades. Eu acho que tem que se investir em educação urgente nesses municípios, criar pólos educacionais com a industrialização ao lado de regiões produtoras. Atividades que possam alicerçar a produção. O Estado tem que dar incentivo e incentivo não é dar nada a ninguém, é dar oportunidade.

Maria Lucia: Primeiro, propondo um modelo de desenvolvimento em que as regiões tradicionais e que não tem afinidade geográfica ou cultural para o agronegócio possam desenvolver indústrias relativas àquelas riquezas que lhe são peculiares. Por exemplo, a mineração. Além disso, nós temos hoje a indústria 4g, da internet, da robótica. Nós precisamos pensar em colocar pequenas indústrias vinculadas à ciência e tecnologia nessas cidades. É buscar uma vocação regional e estimular a criação de processos produtivos. E o que é mais importante, e aí vem a minha veia de educadora, é colocar nessas cidades – sobretudo as que não estão no arco do agronegócio – a questão da agricultura familiar. É preciso compreender que a agricultura familiar é responsável por 70% da alimentação do brasileiro. É preciso capacitar as pessoas para que os jovens e também os adultos possam se qualificar nesse processo produtivo. Nós podemos, a partir daí, criar pequenas indústrias, seja do doce, do leite, do picles, do couro, enfim. Nós podemos criar cinturões, porque aí teríamos uma integração das grandes propriedades do agronegócio com a agricultura familiar, que se assenta em pequenas propriedades.

Sachetti pergunta para Maria Lucia - Qual a participação da Universidade, da qual a senhora foi reitora, para o desenvolvimento do agronegócio de Mato Grosso?

Resposta: A Universidade tem contribuído muito para o desenvolvimento do Estado, o que inclui a questão do agronegócio. Primeiro, de todas as pesquisas hoje existentes no Estado, 90% das que estão ligadas ao agronegócio são feitas pela UFMT. Além do trabalho que a Universidade tem feito em relação à pequena agricultura, com trabalhos de extensão, cursos de formação e capacitação. Nós também formamos quase todos os profissionais dessa área. É uma contribuição muito forte na formação de pessoas. Enquanto eu fui reitora, criei uma série de mestrados e doutorados também nessa área. Aliás, a maior contribuição de pesquisas da Universidade é dentro do agronegócio. A UFMT tem dedicado uma atenção especial, em razão da importância desse setor para o desenvolvimento de Mato Grosso.

Maria Lucia pergunta para Sachetti - O Brasil enfrenta um de seus piores momentos econômicos, com desemprego que chega a quase 14 milhões, um caos na saúde, cortes profundos em programas sociais, sobretudo na educação, o que traz para a nossa gente um desalento muito grande. Diante desse cenário, qual a sua posição em relação à Emenda Constitucional 95 (Teto de Gastos), promulgada no final de 2016?

Resposta: Sou totalmente favorável, eu votei nisso. Eu acho que o legislador tem que ter responsabilidade de cada vez mais trabalhar para reduzir o tamanho do Estado. O Estado do tamanho que está, está incontrolável. O Brasil não tem mais capacidade de investimento, Mato Grosso não tem mais capacidade de investimento. E quando a gente colocou um teto, colocamos um limite para no futuro ter capacidade de investimento de novo. Não dá para continuar só gastando, sem gerar riquezas. Eu sou totalmente favorável ao limite de gastos adotado pelo Governo Federal, isso deveria ter sido adotado por todos os Estados e Municípios também. Isso vai fazer com que nós retomemos a nossa economia e nosso crescimento.
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