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Futebol ameniza tensão da guerra no Sudão, diz técnico brasileiro

G1

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08/03/09 - 13h32 - Atualizado em 08/03/09 - 13h41

Futebol ameniza tensão da guerra no Sudão, diz técnico brasileiro
Heron Ferreira dirigiu time local durante três anos e meio.
Capital era tranquila, mas interior tinha regiões instáveis, relata. 
O título de tricampeão nacional fez do técnico de futebol Heron Ferreira o brasileiro mais famoso no Sudão. Três anos e meio com ele à frente do Al-Hilal, maior time sudanês, ajudaram a promover o esporte, até então pouco expressivo no país, segundo ele.

“O trabalho foi tão bom que conseguimos transformar o time na potência do futebol de lá e ainda popularizar os jogos que contribuíam para reduzir as distâncias dentro de uma sociedade dividida”, disse ao G1, destacando, a temporada no país como o período mais enriquecedor de sua vida, apesar dos sustos.

A capital, Cartum, onde Heron vivia com a família, nem de longe se assemelha ao cenário de Darfur. Casos de conflitos são isolados, porém o suficiente para apavorar um visitante. Assim que desembarcou na cidade em 2005 vivenciou o pior momento de sua vida. O vice-presidente e ex-líder rebelde, John Garang, acabara de morrer em um acidente aéreo. As ruas foram tomadas por manifestantes que acreditavam ser um atentado para desestabilizar a poder. “Sem dúvida, foi a pior experiência. Fui obrigado a ficar dentro de casa três dias enquanto a população se armava do lado de fora”, relembra o episódio que deixou 130 mortos. 

Após essa recepção negativa, o técnico descreve como segura a temporada em Cartum. “Levava uma vida normal e até tranqüila. Não havia casos de violência urbana, comum nas grandes cidades”, comenta Heron. Por outro lado, regiões do interior do país eram instáveis e sempre que o técnico levava, a pedido do próprio governo, o time para jogar amistosos em outras regiões, recebia o apoio de militares. “Íamos com o objetivo de amenizar a tensão e tentar agrupar o Norte com o Sul reduzindo as diferenças culturais”, conta, ressaltando, que esses trajetos eram feitos sempre na companhia de homens do exército.

Morando em Ismailia há cinco meses para treinar o Ismalely, time grande do Egito, ele faz algumas comparações entre a capital do Sudão e a cidade egípcia. “Apesar da forte cultura muçulmana, o Egito é mais aberto, sem muitos extremismos e com um custo de vida bem inferior, coisas que faltavam no Sudão”, cita como justificativa para a busca de novos ares e a rescisão do contrato com o Al-Hilal. 

Do país vizinho, ele acompanha a repercussão dos últimos acontecimentos. “Os protestos que via no Sudão eram sempre em apoio ao presidente. Ele tem uma popularidade alta e a simpatia de muita gente”, opina o brasileiro que mesmo satisfeito com o novo trabalho não descarta a possibilidade de voltar a morar no país. “Provavelmente retornaria. Tenho um carinho grande pelos sudaneses e, eles, por mim. Quando saía de Kartoum via muita miséria e, apesar de tudo, um povo feliz que passou a gostar mais de futebol. Vivenciar a realidade do Sudão mudou a minha forma de ver o mundo.”



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