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Notícias / Cidades

Pastoral afirma que conflito em Colniza era ‘tragédia anunciada’ desde novembro

Da Redação - Isabela Mercuri

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) afirmou que o confronto que aconteceu em Colniza no último sábado (5), que matou um trabalhador rural, identificado como Eliseu Queres de Jesus, 38, e deixou outros nove feridos foi uma tragédia anunciada desde novembro de 2018. Segundo uma nota publicada, os trabalhadores vinham sendo ameaçados pelo ex-deputado José Geraldo Riva, proprietário da fazenda onde aconteceu o conflito, e por seus ‘capangas fortemente armados’.

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“A área do conflito, conhecida como Fazenda Magali, se encontra em uma grande gleba de terras da UNIÃO (que as famílias já solicitaram a arrecadação para ser destinada à reforma agrária), que é alvo de disputa entre os antigos grileiros e o ex-deputado estadual José Riva em sociedade com o ex-governador Sinval Barbosa, que supostamente adquiriram parte dessa área com dinheiro de desvios do erário público”, afirma a nota, que foi publicada no site da Pastoral, mas é também de entidades e organizações sociais de Mato Grosso.

Além disso, a Pastoral e as organizações afirmam que as vítimas foram surpreendidas enquanto iam buscar água no Rio Traíra, pelos seguranças armados. “Os trabalhadores denunciam que a Polícia Militar não queria sequer deixar o SAMU ir buscar as vítimas no local da tragédia e, inicialmente se negou a ir ao local também”, lamentam.

Neste domingo (6), quatro seguranças da empresa Unifort foram presos em flagrante pela Polícia Judiciária Civil de Colniza, suspeitos do crime. De acordo com o delegado à frente da investigação, Alexandre da Silva Nazareth “os elementos de informação produzidos pela perícia, até o momento, nos levam a acreditar que não houve confronto armado, pois só foram encontradas cápsulas de armas de mesmo calibre dos seguranças da propriedade”.
 
Leia a íntegra da nota da Pastoral:

Entidades e organizações sociais do MT divulgam Nota Pública sobre a tentativa de massacre em Colniza. Organizações já vinham denunciando o conflito desde novembro passado e a iminência de um massacre na área.

O ano de 2019 inicia com mais uma tentativa de massacre no campo em MT. Tentativa essa que já havia sido amplamente denunciada e anunciada no final de 2018 aos órgãos competentes. Um trabalhador assassinado – Eliseu Queres de aproximadamente 30 anos -, nove feridos, sendo três gravemente. Esse foi o saldo da tentativa de massacre ocorrida na manhã de hoje em Colniza. Os trabalhadores são ligados à Associação Gleba União, município de Colniza – MT e ao movimento de luta por terra 13 de Outubro.

O Fórum de Direitos Humanos e da Terra (FDHT) e demais entidades já haviam anunciado essa possibilidade de massacre conforme nota de 1 de novembro de 2018 “É baseado nesse histórico que tememos o pior. Das quase 200 famílias que lá estão sob a mira dos pistoleiros na Fazenda Agropecuária Baurú… Se algo acontecer, é uma morte anunciada. TODOS SABIAM.”.

A área do conflito, conhecida como Fazenda Magali, se encontra em uma grande gleba de terras da UNIÃO (que as famílias já solicitaram a arrecadação para ser destinada á reforma agrária), que é alvo de disputa entre os antigos grileiros e o ex deputado estadual José Riva em sociedade com o ex governador Sinval Barbosa, que supostamente adquiriram parte dessa área com dinheiro de desvios do erário público.
Há alguns meses vários trabalhadores foram ameaçados, pelo próprio ex deputado, pelos capangas fortemente armados que ele colocou na fazenda, que diuturnamente ameaçavam as famílias no acampamento, efetuando disparos de armas de grosso calibre, inclusive fuzis, e fogos de artifícios, na intenção de incendiar os barracos. Todos esses fatos foram denunciados amplamente pelos trabalhadores para o governo do Estado (Governador, Casa Civil, Casa Militar, SESP), bem como para o MPF, OAB e Assembleia Legislativa, solicitando as medidas cabíveis para estancar o conflito.

O fato das famílias terem cumprido a decisão judicial da Vara Agrária em Ação possessória e terem mudado o acampamento de local não foi suficiente para garantir sua segurança. Hoje pela manhã quando um grupo pequeno de trabalhadores se dirigia à estrada de acesso para irem ao Rio Traíra para buscar água foram surpreendidos pelos seguranças armados, sendo alvejados vil e covardemente. Os trabalhadores denunciam que a Polícia Militar não queria sequer deixar o SAMU ir buscar as vítimas no local da tragédia e, inicialmente se negou a ir ao local também. As vitimas da tentativa de massacre são:

ELISEU QUERES - ASSASSINADO 
MILTON JOSE DA SILVA – GRAVAMENTE FERIDO 
MOISES FERREIRA – GRAVEMENTE FERIDO 
VALMIR NUNES JANUARIO – GRAVEMENTE FERIDO 
ANTONIO JOSE MAIA SILVA 
MANOEL FERREIA BARBOSA 
MARCOS MARTINS DO PRADO 
NALBES APOLINARIO 
TAHIK BRUNO OLIVEIRA 
TIAGO ALVES LOPES

Mais um ato de extrema violência contra o povo do campo marcou o início de 2019, ano que promete ser mais violento que 2018. Entre 2017 e 2018, a violência no campo subiu 15%.

A impunidade é a característica principal da violência contra o povo do campo. Exigimos a punição dos culpados! Ou será que os mandantes desta tentativa de chacina também ficarão impunes como estão os da chacina de 2017, que vitimou 9 trabalhadores também no município de Colniza??

 
Entenda o caso


A empresa Floresta Viva, que administra a Fazenda Bauru, de propriedade do ex-deputado estadual José Geraldo Riva, em nota, afirma que é constantemente invadida por grileiros que desrespeitam ordens judiciais.

Há três meses, cerca de 200 membros da Associação Gleba União haviam acampado nas proximidades. Eles afirmavam que só deixariam o local se Riva apresentasse um documento que comprovasse a posse da terra de 46 mil alqueires.
 
Já o novo comandante da Secretaria de Segurança Pública (Sesp), Alexandre Bustamante, disse ao Olhar Direto que avaliava a situação para saber se iria enviar reforço policial ao município.
 
A Polícia Civil se deslocou para a propriedade rural onde ocorreu o confronto armado. A Delegacia de Polícia de Colniza solicitou reforço da Gerência de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil, Ciopaer, da Secretaria de Segurança Pública, e peritos da Politec de Cuiabá para realizar os trabalhos de local de crime e necropsia.
  
Há quatro meses, o Ministério Público Estadual, por meio da Promotoria de Justiça de Colniza oficiou o Governo do Estado sobre risco de conflito armado no local.

Em dezembro do ano passado, o juiz Carlos Roberto B. de Campos, da Segunda Vara Cível Especializada em Direito Agrário de Cuiabá, determinou uma reintegração de posse na fazenda. Um estudo do Comitê Estadual de Acompanhamento de Conflitos Fundiários de Mato Grosso comprovou a real situação da área e recomendou a participação de 20 policiais militares na desocupação. 
 
O magistrado também considerou que já havia um mandado de reintegração de posse relacionado a esta propriedade, contra o mesmo grupo, sobre a ocupação da fazenda. O mandado foi deferido no dia 31 de outubro de 2018, mas alguns ocupantes permaneciam no local.

Leia a íntegra da Nota da fazenda:

A empresa Floresta Viva, em decorrência dos últimos fatos ocorridos em sua propriedade rural situada em Colniza-MT, esclarece:

1) A Fazenda Bauru desde sua aquisição sofre inúmeras invasões ilegais, onde a propriedade é destruída e crimes ambientais são realizados. Todas as invasões foram devidamente comunicadas ao Poder Judiciário;          
                        
2) Os invasores insistem em desrespeitar as ordens judiciais, inclusive de afastamento dos limites da propriedade e, cometem toda sorte de crimes, como ameaça, crimes ambientais e etc. Tais ocorrências sempre foram devidamente comunicadas em tempo e modo as autoridades competentes;                          
  
3) Em razão das inúmeras invasões, a empresa contratou uma empresa de segurança privada, devidamente registrada  e previamente informada as autoridades, com a finalidade de proteger o local das inúmeras invasões;       
       
4)Infelizmente, no dia de hoje, empregados da empresa habilitada de segurança terceirizada privada, situada na Fazenda Bauru, sofreram uma emboscada realizada por terceiros, fortemente armados, que atentaram contra a vida dos seguranças e empregados da fazenda.

5) Lamentavelmente pessoas que se auto denominam trabalhadores rurais, mas que fazem parte de um grupo armado, novamente desrespeitando ordem judicial de reintegração de posse e de afastamento dos limites da propriedade, não somente atentaram contra a vida de pessoas como pretenderam com o uso da força, invadir a propriedade rural produtiva, para cometer crimes de toda ordem.

6)A empresa de segurança limitou-se a se defender no intuito de garantir a integridade física dos seus empregados.                             
  
7) A empresa Floresta Viva, imediatamente após o ocorrido, comunicou os fatos as autoridades competentes.

8) Igualmente, como em todas as ocasiões, a empresa Floresta Viva levará a situação ao Poder Judiciário para garantir a ordem e o cumprimento da lei.

9) Por fim, a empresa lamenta o ocorrido, externando sua preocupação com a vida e integralidade física de todos os envolvidos.
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