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Notícias / Cidades

Aumenta número de vítimas de violência doméstica que buscaram Delegacia da Mulher

Da redação - Thaís Fávaro

O segundo Anuário Estatístico da Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Cuiabá, realizado pela Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso, mostrou que foram registrados 3.054 casos de violência doméstica e familiar contra vítimas femininas em 2018. Em 2017, cerca de 2.718 mulheres vítimas de violência procuraram atendimento. O perfil da maioria das vítimas é de cor parda, na faixa etária entre 25 a 45 anos, com nível de escolaridade médio e desempregadas.
 
Os números também mostram que a maioria dos casos são registrados entre 19h e 8h, período em que a delegacia da mulher está fechada. Os casos acontecem, em sua maioria, nas terças-feiras e o bairro com maior número de registros continua sendo o Pedra 90.
 
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O documento, a exemplo do primeiro anuário de 2017, traça análise dos atendimentos de mulheres, que buscaram ajuda ou até mesmo uma orientação na Delegacia da Mulher após sofrerem algum tipo de violência. O Anuário traça o perfil do agressor e da vítima, além de dados das ocorrências quanto aos dias da semana com maiores índices de registros, horário dos fatos de maior incidência, bairros com maior número de registros e outras informações quanto às vítimas que procuraram a Delegacia, como idade, cor declarada, profissão, números de filhos da união com o autor, vínculo com o autor no momento do registro e outras peculiaridades. 
 
A apresentação do anuário contou com presença do juiz da 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar, Jamilson Haddad Campos, da promotora Elizamara Vodonos, do Núcleo das Promotorias de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar, da secretária de Assistência Social e Cidadania (Setasc), Rosamaria Carvalho, do Diretor Metropolitano, Douglas Turíbio Schutze, da Defensora Pública, Maila Cassiano, da Tenente Coronel, Emirela Martins, coordenadora da Patrulha Maria da Penha, da imprensa, e outros convidados ligados a segmentos de luta e defesa pelos direitos da mulher. 

A delegada titular da Delegacia Especializada Defesa da Mulher de Cuiabá, Jozirlethe Magalhães Criveletto, frisa que o documento é muito importante porque é uma referência para o conhecimento sobre vítimas atendidas na capital. Também mostra a seriedade e compromisso sobre o trabalho da Delegacia e a efetividade das políticas de segurança em torno do enfrentamento da violência contra a mulher em Cuiabá.
 
Para a implantação da patrulha Maria da Penha por exemplo, o estudo foi feito em cima da estatística das mulheres que residem nos bairros com maior índice de registros de ocorrência e que procuram a delegacia da mulher para pedir uma pedida protetiva. “De acordo com o percentual obtido no estudo é que foi feito em caráter de prioridade o atendimento da patrulha nesses bairros”, explica a delegada.
 
Junho foi o mês em que mais houve procura na Delegacia, sendo realizados 263 atendimentos de vítimas nesse período. Agosto (288) e outubro (284), seguido de julho (262) foram os meses de maiores incidências dos crimes relacionados à violência contra as mulheres. O dia da semana com mais quantidade de ocorrências é terça-feira, que acumula 15,5% das ocorrências, seguido de quarta-feira e domingo, com 14,0% dos fatos, cada. 

A violência mais recorrente entre as vítimas de violência doméstica não se limita ao uso da força física, mas sim à violência psicológica obtida pela ameaça. A violência está intrinsecamente ligada à demonstração do poder, já que impele a pessoa a submeter-se a sua vontade e/ou desejo através da força ou do medo. 

Os dados apontam também que os crimes mais denunciados são: ameaça 1804 ocorrências; seguido de injúria (1723), lesão corporal (496), contravenções penais relativas à perturbação do trabalho ou sossego alheio (468), e injúria real (297).
 
Bairros

A maioria das vítimas que procuraram a delegacia residem no bairro Pedra 90, em seguida vem as vítimas do bairro CPA 3 e bairro Dom Aquino. A lista com os bairros onde houve mais registros de ocorrência segue ainda com Doutor Fabio, Tijucal, Centro Norte, CPA 4, Santa Izabel e Osmar Cabral.
 
São mais de 300 bairros em Cuiabá com índice de registro de violência doméstica ou familiar. “Tem bairros como o Jardim Itália por exemplo, onde há registros de ocorrência de violência doméstica, então não é só na periferia. A violência contra a mulher está presente nas quatro regiões de Cuiabá, infelizmente”, afirma Jozirlethe.
 
Perfil das vítimas

A maioria das vítimas que procuram atendimento se declaram solteiras porque muitas delas já estavam separadas do agressor ou viveram em união estável com ele. “No momento do registro da ocorrência elas não estão mais vivendo esse relacionamento e se declaram solteiras, por isso é o índice maior de registro, sendo cerca de 1.214 vítimas”, afirmou a delegada.

Cerca de 7,7% das vítimas se declaram desempregadas e 7% como “do lar”, mas a maioria não soube definir a profissão que exerce, por isso o índice predominante no levantamento são as que não informaram a profissão, sendo 27,7%. “São mulheres que não conseguem nem definir as profissões delas e não é porque não passaram a informação, é porque elas não conseguem definir a profissão. Elas não querem serem enquadradas como “do lar”, mas elas não têm uma profissão definida, por isso foram registradas como outras”, afirma a delegada. A escolaridade das vítimas segue a mesma estatística de 2017, onde o nível de escolaridade médio foi predominante com 33.6%.
 
A condição de desemprego ou de subemprego das vítimas é algo preocupante e de acordo com a delegada, precisa da ajudar do poder público. Ela afirma a necessidade de que haja políticas públicas voltadas para essas mulheres, para que possibilite as vítimas saírem desse vínculo de violência. “Muitas delas relatam que o agressor é quem mantém a casa, que pagam o aluguel e sustentam a família. Quando a polícia chega lá para atender a ocorrência algumas perguntam se tem um lugar para onde ela possa ir com os filhos, porque quem paga o aluguel é o marido. Algumas acabam vivendo essa situação de violência porque não tem condições financeiras de se separar”, lembra.
 
A delegada ainda explicou que durante a noite e a madrugada ainda são os períodos de maior incidência de ocorrências, período esse em que a delegacia da mulher não está funcionando, isso reforça a necessidade de uma Delegacia da Mulher que tenha atendimento 24h.
 
Perfil dos Agressores

De acordo com as informações fornecidas pelas vítimas, em 80% dos casos, os agressores de mulheres são homens na faixa de 30 a 59 anos, sendo 15,33% (452) com idade de 30 a 34 anos; 25,54% (753) de 35 a 45 anos, e 13,81% (407) com idade de 46 a 59 anos. São em sua maioria, homens solteiros, 28,57 (842) casos, seguidos de casados 16,19% (477); conviventes 14,76% (435), divorciados 3,56% (105). Mas um percentual de 34,48% (1016) não declarou nada.  

Com relação à escolaridade, o ensino médio completo prevalece em 16,7% dos casos. Quanto à profissão do suspeito, 38% dos casos não foram declarados, tendo em vista que, em muitos casos, a vítima não detém a informação acerca da vida profissional do agressor, mesmo nos casos das relações domésticas.

Jozirlethe avalia o os dados divulgados no anuário e afirma que em 2018 não houve nenhum caso de feminicidio de vítimas que estavam com medida protetiva contra os agressores. Que as medidas tomadas ajudaram as vítimas a se livrarem desse ciclo de violência em que se encontravam.
 
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