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Delegado entende que silêncio de ‘funcionários’ de Arcanjo é por receio de histórico violento

Da Redação - Wesley Santiago

O delegado Luiz Henrique Damasceno, atualmente lotado na Delegacia Fazendária (Defaz), mas responsável pela investigação da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) na ‘Operação Mantus’, acredita que o silêncio dos integrantes do grupo ‘Colibri’, liderado por João Arcanjo Ribeiro e seu genro, Giovanni Zem, é por receio do histórico violento que envolve a organização.

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João Arcanjo Ribeiro foi o único ligado à organização Colibri a responder às perguntas das autoridades. Ele negou todas as acusações e afirmou que os R$ 200 mil encontrados em sua casa são lícitos e declarados.
 
Sobre o silêncio dos demais, o delegado acredita que “pelo histórico do grupo Colibri, os membros têm mais receio de confessar e entregar alguém. Existe o histórico de violência que todo mundo já conhece”.

As duas organizações responsáveis por comandar o 'Jogo do Bicho' em Mato Grosso e desmanteladas em ação da 'Operação Mantus', deflagrada nesta quarta-feira (29), travavam uma disputa acirrada pelo controle do jogo no Estado. Segundo a Polícia Civil, há o relato inclusive de sequestro mediante extorsão, praticada pela Colibri.

“Os elementos informáticos coletados apontaram que as organizações criminosas se valem de práticas violentas, como extorsão mediante sequestro e ameaças, já narrada alhures, para manter o monopólio da região comandada, estabelecendo uma concorrência entra as organizações na manutenção dos pontos de jogos, bem assim, na aquisição de novos pontos”, afirmou o juiz Jorge Tadeu, da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, que autorizou as prisões.

O Olhar Jurídico divulgou na quinta-feira (30) que supostos funcionários da empresa Colibri, ligada a Arcanjo, conversaram sobre métodos violentos de cobrança. Segundo diálogo, a contratação de três capangas custaria entre R$ 10 mil e R$ 15 mil.
 
Os detalhes constam em interceptação telefônica autorizada contra José Carlos de Freitas, acusado de atuar como gerente da organização criminosa na cidade de Cáceres (219 km de Cuiabá).

Na interceptação, em novembro de 2018, Freitas conversa com pessoa identificada como Mariano. Ele diz que está precisando dar um “piau em um cara” na cidade de Mirassol. Logo questiona sobre o preço do serviço praticado pelo “pessoal lá de Rondônia”.
 
Também questionado sobre o motivo de apenas os integrantes da FMC Ello, liderada por Frederico Muller Coutinho, falarem, o titular da GCCO, Flavio Stringueta, foi direto. “Quero acreditar que o pessoal da Ello é mais esperto que os outros. Quem confessa tem diminuição da sua pena, podendo até não ser apenado no fim”.
 
Até agora, os depoimentos colhidos dos membros da Ello, em que diversas pessoas confirmaram a participação e a liderança do empresário, complicam Frederico Coutinho, conforme o delegado.
 
As investigações iniciaram em agosto de 2017, conseguindo descortinar duas organizações criminosas que comandam o jogo do bicho no Estado de Mato Grosso, e que movimentaram em um ano, apenas em contas bancárias, mais de R$ 20 milhões. Uma das organizações é liderada por João Arcanjo Ribeiro e seu genro Giovanni Zem Rodrigues, já a outra é liderada por Frederico Muller Coutinho.
 
João Arcanjo Ribeiro, conhecido como “Comendador”, é acusado de liderar o crime organizado em Mato Grosso, nas décadas de 80 e 90, sendo o maior “bicheiro” do Estado, além de estar envolvido com a sonegação de milhares de Reais em impostos, entre outros crimes.
 
No ano de 2002, Arcanjo foi alvo da operação da Polícia Federal, Arca de Noé, em que teve o mandado de prisão preventiva expedido pelos crimes de contravenção penal, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e homicídio. A prisão do bicheiro foi cumprida em abril de 2003 no Uruguai. Arcanjo conseguiu a progressão de pena do regime fechado para o semiaberto em fevereiro de 2018, após 15 anos preso.
 
O empresário Frederico Müller Coutinho é um dos delatores da Operação Sodoma, que investigou fraudes que resultaram na prisão do ex-governador Silval Barbosa. Müller trocava cheques no esquema e chegou a passar dinheiro para o então braço direito do ex-governador. Os cheques teriam sido emitidos como parte de um suposto acordo de pagamento de propina ao grupo político do ex-governador.

A ‘Operação Mantus’ prendeu 29 pessoas, de um total de 33 mandados de prisão preventiva e 30 buscas e apreensão domiciliar. Entre os que se encontram presos está o ex-comendador João Arcanjo Ribeiro, apontado como o líder da ‘Colibri’, que seria a rival da FMC Ello.
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