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"Fazer filmes para a massa é mais difícil", diz diretor de "Os Normais 2"

Folha Online

O cineasta José Alvarenga Jr. fala com orgulho de seu maior "fracasso" nos cinemas, num mercado onde "sucesso" é atingir 1 milhão de espectadores: ele levou "apenas" 980 mil pessoas para ver "Zoando na TV" (1999), com Angélica.

"Quero fazer filmes para a massa. Isso é muito mais difícil", diz o diretor carioca, 48, que já contabilizou 3 milhões de público com "Os Normais" (2003) e estreia hoje sua sequência, em 430 salas, recorde do cinema nacional recente.

"Essa massa é uma intuição, você tem que descobrir quais diálogos dentro do seu filme que vão chegar nessa massa [...] E quando bate um milhão, é porque o filme saiu do gueto da classe média, quer dizer que sua empregada já viu, seu porteiro ou o trocador já viu."

Talvez esta intuição venha de sua experiência na TV, onde seu público é na casa das dezenas de milhares para os seriados que dirige para a Globo, como o próprio "Os Normais", "Força-Tarefa" e "Os Aspones".

Mas, ao contrário da TV, onde o diretor tinha reuniões semanais para saber o que podia entrar ou não na série "Os Normais", no cinema a trama despirocou geral. Desta vez, o casal Vani (Fernanda Torres) e Rui (Luiz Fernando Guimarães) passa a noite atrás de uma mulher para fazer sexo a três, na tentativa de espantar o tédio da relação de 13 anos. Algumas atrizes convidadas encaram o papel desta provável companheira, como Claudia Raia, Drica Moraes e Alinne Moraes.

Como no primeiro filme, as piadas seguem num tom que dificilmente passaria na TV. "Acho que a gente está no limite, mas não cai na vulgaridade", diz Alvarenga Jr. "Agora, dependendo do olhar de quem vê, isso pode ser vulgaridade."

O diretor conta que pensou muitas das piadas para seu filho de 14 anos, uma faixa etária que ele acredita ser o novo público do seriado criado em 2001 e que deve voltar à TV em 2010.

"É uma geração de caras muito mais ligados às barbaridades do humor. O humor deles é muito mais escrachado do que era o nosso", diz, ressaltando que, no entanto, o Brasil é ainda um país conservador. "A sociedade brasileira aparenta ser mais sacana, mais liberal, mas quando isso é externalizado, ela é mais conservadora."

Fogo amigo

Alvarenga Jr. tem também no currículo "blockbusters" com os Trapalhões e a Xuxa. Lançou neste ano "Divã", que fez quase 2 milhões de espectadores. Seus filmes recentes são cria da Globo Filmes, que já foi acusada de monopólio dos filmes nacionais. Recentemente, também recebeu fogo amigo da própria atriz global Deborah Secco, em entrevista à Folha. Para ela, fazer a personagem Bruna Surfistinha será sua verdadeira estreia no cinema, já que para ela não contam "esses filmes muito globais", como "Casseta & Planeta" e "Xuxa".

Para Alvarenga, a declaração é um disparate. "Às vezes você está envolvido em projetos que não são os seus projetos ideais. Mas isso faz parte do jogo", diz. "O artista que chega num momento de sucesso, ele já cantou em bar. Eu já cantei em bar, eu já fiz clipe do Dominó, saca?"

Ele lembra de quando estreou na direção de cinema, aos 26 anos, com "Os Heróis Trapalhões - Uma Aventura na Selva" (1988). "Não era o meu sonho dirigir o Renato Aragão, mas eu fui convidado para fazer e fiz com a maior dignidade [...] Foi um puta aprendizado. É a lógica do amadurecimento."

O diretor afirma que hoje já faz seu cinema ideal. Ele vai rodar seu próximo longa ainda neste ano, "Cilada.com", e fazer um musical com canções de Frejat e Leoni. "Cada filme meu é autoral. "Os Normais" é minha cara, essa sacanagem, brincadeiras, sou eu."
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