Imprimir

Notícias / Cidades

Relembre os impactos das queimadas no Pantanal e assista ao relato de fotógrafo que acompanhou destruição de perto

Da Redação - José Lucas Salvani

Nunca se falou tanto sobre as queimadas no Pantanal Mato-grossense como em 2020. A repercussão se justifica quando se leva em consideração que enquanto em 2019 a área queimada em hectares foi de 411 mil, em 2020, o número saltou para 2.387 mil, segundo dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Leia mais: 
Desmatamento, fogo em terra indígena e ‘encontro das chamas’; laudos detalham incêndios no Pantanal

O repórter fotográfico Rogério Florentino acompanhou de perto a destruição que o fogo trouxe para o Pantanal Mato-Grossense. Em relato exclusivo ao Olhar Direto, o fotógrafo contou quais foram os momentos mais difíceis durante a cobertura para agências de notícias internacionais, como também os momentos que mais lhe marcaram durante os finais de semana que esteve nas áreas mais críticas de destruição.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Uma publicação compartilhada por Olhar Direto (@olhardiretooficial)


O número de focos de calor também cresceu em toda região do Pantanal Mato-grossense. Dados do Instituto Centro Vida (ICV) apontam que entre janeiro a 15 de novembro de 2020 foram registrados 13.093 focos de calor neste bioma. Já os focos de calor no Cerrado chegaram em 13.712, enquanto na Amazônia mato-grossense são 20.291 focos. Confira abaixo o comparativo dos últimos três anos.
 
2018 
Amazônia: 11.621
Cerrado: 5.762
Pantanal: 649
Total: 18.032

2019
Amazônia: 17.654
Cerrado: 11.653
Pantanal: 1.862
Total: 31.169

2020 
Amazônia: 20.291
Cerrado: 13.712
Pantanal: 13.093
Total 47.096

Símbolo da destruição

Os animais foram os principais atingidos pelos incêndios. Batizada como Ousado, a imagem de uma onça-pintada estampou inúmeras campanhas de arrecadação de fundos para recuperação e manutenção do bioma. O final de sua batalha foi feliz e, em outubro, a onça foi solta em seu habitat natural.

O mesmo final não poderá ser esperado para Amanaci. Curada após mais de 70 dias depois do resgate, onça-pintada não tem mais condições de voltar a viver livre na natureza, já que perdeu funções que a impedem de executar funções básicas para sua sobrevivência, como caçar e escalar, explicou o veterinário Thiago Luczinski, no início de dezembro.
 

Para tentar minimizar os impactos negativos na fauna, o Governo de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA), criou o Posto de Atendimento a Animais Silvestres (PAEAS), localizado no quilômetro 17 da Transpantaneira, que liga o município de Poconé (a 102 km de Cuiabá) a Porto Jofre. Segundo a Pasta, o PAEAS resgatou mais de 190 animais feridos das queimadas.

Impacto urbano

Os impactos das queimadas no Pantanal também foram sentidas nas regiões urbanas. Em Cuiabá, no mês de setembro, o índice de qualidade do ar foi de 178 US AQI, o que é considerado insalubre e muito prejudicial à saúde. Em Chengdu, na China, o US AQI é de 152. Já em Nova Deli, capital da Índia, o US AQI registrado é de 157.

Ainda nesse mês, quando também foi registrado o maior número de focos de calor no Pantanal Mato-Grossense, segundo o ICV, Cuiabá chegou a 42,6ºC no dia 11, enquanto no dia 30 a temperatura registrada foi de 43,7ºC
 

Também em setembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) visitou Mato Grosso. A visita a Sinop não se deu devido às queimadas, mas foi motivada pela inauguração da Inpasa, a maior produtora de etanol de milho do continente. Na ocasião, seu voo arremeteu por causa da fumaça, que também invadiu Cuiabá, fazendo com que a capital se tornasse destaque em telejornais nacionais, como o Hora Um e o Globo News Em Ponto, ambos do Grupo Globo.

Já em outubro, o acidente de um helicóptero da Força Nacional, que atuava em combate às queimadas, chocou o estado. Renato de Oliveira de Souza foi o piloto da aeronave que sobreviveu à queda, porém ele acabou falecendo alguns dias após chegar ao Rio de Janeiro.

Repercussão nacional

Os números preocupantes de destruição da fauna e flora fizeram com que artistas como Almir Sater, Dira Paes, Marcos Palmeira, Mateus Solano, Thaila Ayala e Thiago Lacerda, se manifestassem por meio de uma carta durante uma reunião online da Comissão Externa da Câmara de Deputados, destinada a acompanhar e promover a estratégia nacional para enfrentar as queimadas em biomas brasileiros. A reunião aconteceu em outubro.

Em sua visita a Mato Grosso a trabalho, em setembro, a atriz Grazi Massafera lamentou a destruição nas redes sociais. Também no mesmo mês, Giovanna Ewbank publicou no Instagram um vídeo referente a chegada das chamas no Parque Estadual Encontro das Águas, na região do Porto Jofre. O local é conhecido por ser habitado pela maior quantidade de onças pintadas no mundo.

Alguns membros da classe artística se mobilizaram para arrecadar fundos ao Bioma. O artista plástico cuiabano, Adriano Figueiredo, leiloou 10 quadros da coleção Renascença, enquanto a cantora Anitta leiloou um dos figurinos usados no videoclipe “Me Gusta”, parceria internacional com os rappers Myke Towers e Cardi B.

Ação humana

Os laudos confeccionados pela Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), assim como as investigações da Delegacia Especializada de Meio Ambiente (DEMA), apontaram a origem dos focos de incêndios que assolaram o Pantanal este ano e identificaram os responsáveis pelas áreas. Diversos inquéritos estão sendo finalizados, com o objetivo de responsabilizar os culpados pelos diversos crimes ambientais.

“A ação humana foi preponderante para que o ocorrido este ano, no Pantanal e na Baixada Cuiabana, que resultou em perda do bioma e da nossa qualidade do ar. Foram identificados responsáveis. Como não há violência contra pessoas, é mais difícil um deferimento de pedido de prisão, ainda mais por conta da pandemia. Mas pretendemos atuar tecnicamente para responsabilizar, dentro da parcela de pertencimento criminal de cada indivíduo”, explicou a delegada Alessandra Saturnino, titular da Dema.
 
Imprimir