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Viggo Mortensen encara apocalipse em filme exibido no Festival de Veneza

Folha Online

Qual o limite da dignidade humana? Do que é capaz o homem quando perde tudo o que tem? Até onde ele iria para proteger um filho? Essas são perguntas que movem "The Road" (a estrada), longa do australiano John Hillcoat exibido ontem na competição do 66º Festival de Veneza.

A história se passa nos EUA, num futuro incerto, após um desastre ambiental que mata a maioria da população e acaba com a vida em sociedade. Os poucos que sobram vagam pelo país, em busca de alimento.

Viggo Mortensen interpreta um desses sobreviventes, um personagem sem nome, que conduz seu filho numa jornada sempre rumo ao sul, em direção ao oceano, onde, acredita o pai, haverá uma esperança de vida. Eles consomem o pouco que encontram pelo caminho, de insetos em florestas destroçadas a enlatados em um bunker abandonado. E, como estão sós, são caçados por bandos que, com o fim dos tempos, aderiram ao canibalismo.

"The Road" é baseado no livro homônimo de Cormac McCarthy, autor do romance que inspirou "Onde os Fracos Não Têm Vez", vencedor do Oscar no ano passado. "A Estrada", lançado no Brasil pela Alfaguara, venceu o Prêmio Pulitzer de ficção em 2007.

"Tenho reservas sobre visões pós-apocalípticas, mas o livro de McCarthy cria um universo realista e factível. Manter a fidelidade a essa obra era meu objetivo número 1", afirmou o diretor Hillcoat em entrevista coletiva no festival.

O resultado é um longa-metragem dominado pela angústia e pela iminência do perigo e da morte --especialmente em sua primeira metade.

Um mundo sem cor

A fotografia e o figurino são fundamentais para esse ambiente -tudo é cinza e sujo em "The Road", das roupas dos personagens ao céu, onde predomina uma poeira constante que encobre o sol.

"Visitamos lugares dos EUA muito atingidos pela pobreza e por desastres --fomos a Nova Orleans pouco depois do Katrina", disse Hillcoat, ao contar como a concepção visual do filme foi desenvolvida. A música de Nick Cave completa a obra.

O cenário fica ainda mais cruel quando o personagem de Mortensen dorme e sonha com o mundo colorido do passado. Nos flashbacks, surge a mulher dele (Charlize Theron) e tem-se uma vaga ideia dos eventos que levaram à separação do casal e ao início da caminhada pela estrada.

"Mais do que um filme sobre a relação pai e filho, esse filme é para mim uma história de amor entre duas pessoas. Difícil de assistir e difícil de interpretar", definiu Viggo Mortensen.

O menino (Kodi Smit McPhee), nascido na época do cataclisma, é o símbolo dessa ruína --um garoto que se espanta ao descobrir o que é um arco-íris. "Um aspecto importante para mim do livro original é a forma como mostra o impacto do mundo adulto no universo de uma criança", disse o roteirista Joe Penhall.

Viggo Mortensen acrescentou que o bom entendimento entre ele e Smit McPhee, o ator mirim que interpreta o filho, foi fundamental para a obra e ajudou a superar momentos difíceis, como as filmagens a "muitos graus abaixo de zero".

De fato, "The Road" depende dessa relação, e tanto Mortensen quanto McPhee dão conta do recado e sustentam as duas horas do longa.
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