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Cuiabanos com casa em Chapada mudam cadastro para antecipar vacinação e podem deixar moradores sem doses

Da Redação - Wesley Santiago

Cuiabanos que possuem casa de veraneio em Chapada dos Guimarães (64 quilômetros de Cuiabá) estão atualizando o seu cadastro no Sistema Único de Saúde (SUS) com o objetivo de conseguir antecipar a vacinação na cidade turística. A secretária de Saúde da cidade, Rosa Blanco, pontuou que está ciente do grave problema, que pode deixar moradores do município sem doses, já que a distribuição dos imunizantes é feita com base no Censo.

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“Realmente, estamos vivendo uma situação difícil. A vacina da Covid-19 é diferente das outras, vem para o morador local, em cima da nossa população cadastrada. Recebemos um x de vacinas em cima dessa população nossa, que tem o cartão SUS com o endereço daqui”, explicou a secretária em entrevista ao Olhar Direto.
 
Cerca de 30% das casas de Chapada dos Guimarães são de veraneio, de pessoas que não moram no município e que as alugam ou somente vão passar o fim de semana. “Por pagarem o IPTU, terem a casa aqui, as pessoas se acham no direito de vacinar aqui. Porém, quando você pega o cartão SUS, o endereço está como de Cuiabá. Estas pessoas ficam bravas, querem ter o direito”.
 
“O que está acontecendo é que estes donos de casas de veraneio estão pegando um comprovante de residência e atualizando o cartão do SUS, mudando como se morassem em Chapada, isso porque estamos avançando bem, já na faixa etária de 65 anos ou mais. Quando o endereço não é daqui, não podemos aplicar a dose, mas se tiver atualizado, não temos o que fazer e isso prejudica bastante”, pontua a secretária.
 
Para a secretária, como o município é obrigado a vacinar quando o endereço de cadastro aponta Chapada dos Guimarães como o local de residência, a opção é apelar para a consciência das pessoas. “Se você é de outra cidade, sua vacina está garantida lá. A medida que você muda o endereço, prejudica. Vai acontecer um déficit de moradores daqui. Pode ser que depois a gente tenha pessoas que fiquem sem”.
 
Rosa Blanco explica que já pediu ao Governo do Estado que envie doses extras para a cidade, justamente por conta deste problema. Porém, ela acredita que a equipe de Mauro Mendes (DEM) não atenderá a requisição.
 
A secretária comenta ainda que essas mudanças no cadastro irão atrapalhar também o trabalho a longo prazo, como na questão dos indicadores do SUS. “Não vamos conseguir fazer o acompanhamento destas famílias, o que vai impactar bastante no nosso trabalho, nas metas que são estabelecidas pela União”.
 
Chapada conta com três pontos urbanos de vacinação, sendo um deles drive-thru. Na zona rural, as equipes estão intensificando os trabalhos em pontos fixos e também nas residências das populações mais afastadas e de pessoas com dificuldade de mobilidade. Existe também toda uma estratégia para abrir o número cerco de frascos, evitando o desperdício de doses.
 
Rosa reforçou o pedido para que a população continue a praticar o isolamento social, principalmente o que estão com casos suspeitos ou confirmados da doença. “Temos uma situação difícil na nossa UPA, estamos aguardando regulação de pacientes para mandar a Cuiabá, não conseguimos e quando tem, demora”.
 
“Nossa UPA virou um hospital, o prefeito Osmar Froner tem feito de tudo e bancado medicação, oxigênio, sedativos, coisas caras, mas necessárias. Fizemos a contratação de fisioterapeuta, compramos equipamentos para realizar procedimentos. Estamos dando toda a assistência necessária”, disse a secretária.
 
O Complexo Covid, instalado na cidade, já atendeu mais de mil pessoas. “Qualquer um com sintomas vai para lá, onde é feita a triagem, são entregues medicamentos. Temos até leito para observação de um dia. Tudo isto garantido para tentar desafogar nossas unidades. O mais importante é a prevenção. Sou enfermeira e sei que temos de brigar para cuidar da vida e não da doença”, acrescenta a secretária.
 
Por fim, a gestora da Pasta volta a pedir compreensão. “Chapada não nega atendimento para ninguém, fazemos qualquer tipo de vacinação, inclusive de gripe para várias pessoas. Mas o problema é que essa vacina da Covid-19 vem direto para o morador. Sabemos que essas pessoas de veraneio são muito importantes para a cidade, mas é uma questão de consciência, de não tirar o direito de outros que podem sentir a falta depois”.
 
Dados de Chapada
 
O município de Chapada dos Guimarães já vacinou 2.712 pessoas com a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Deste total,  700 pessoas já tomaram as duas doses do imunizante.
 
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS/CG), na última semana foram três dias de vacinação, onde foram atendidos, com a primeira dose, idosos com idade entre 65 e 69 anos, e idosos de 75 a 79 anos de idade com a aplicação da segunda dose da vacina.
 
Até agora, a maioria dos vacinados são idosos. Mas, também já foram vacinados profissionais de saúde e quilombolas, conforme o Plano Nacional de Imunização do Ministério da Saúde.
 
Para ser vacinado é obrigatório a apresentação dos documentos de identificação pessoal, como CPF e RG. Além do comprovante de residência, cartão do SUS atualizado com o endereço de Chapada dos Guimarães.

Situação semelhante em VG

A cidade de Várzea Grande já iniciou a vacinação de todos os idosos com mais de 60 anos de idade. Segundo o vereador Bruno Rios (PSB), que também é presidente da União das Câmaras Municipais de Mato Grosso (Ucemmat), alguns cuiabanos tem tentado receber sua dose de vacina contra a Covid-19 na cidade industrial. No entanto, isso não é permitido.

“Infelizmente [tem] gente de Cuiabá querendo vacinar, é uma grande realidade em virtude do trabalho que tem sido feito lá. Infelizmente as pessoas, vendo a vacinação que está sendo feita em Cuiabá, estão procurando a Várzea Grande. A [vacinação de] Várzea Grande tem sido exemplo”, afirmou na última terça-feira.

“Estou com meus parentes que moram na Coophamil querendo vacinar aqui e eu falo que não pode. Infelizmente a gestão não está dando conta, mas aqui na Várzea Grande a gente tem cobrado e tem feito um bom trabalho”, garantiu Bruno Rios. Segundo ele, os cuiabanos não podem ser vacinados na cidade vizinha, isto porque cada município recebe número de doses proporcionais para sua população.
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