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Tiro pela culatra?

Ricarte de Freitas

"Política é como nuvem: você olha e vê um formato, mas quando olha de novo já vê outro". (Magalhães Pinto)

A frase acima, atribuída a Magalhães Pinto ex governador de Minas Gerais, embora outros a atribuam a Tancredo Neves, é a frase que melhor espelha o significado real de um processo político: quando se pensa que tudo está resolvido, o imponderável aparece, muda as regras do jogo e, muitas vezes, o resultado de uma eleição, senão vejamos.

Serra é o melhor nome que a oposição tem para o embate de 2010 contra o candidato ou a candidata do presidente Lula. Lidera toda e qualquer pesquisa e ninguém é capaz de imaginar que esta não seja a sua vez. O céu que hoje nós vislumbramos, a um ano das eleições, mostra que ele tem tudo para, enfim, realizar seu sonho de ser presidente da republica, coisa que tem sido seu principal objetivo ao longo vida.

Hoje, entretanto, dentro do próprio PSDB, há tucanos de alta plumagem e bicos enormes que defendem a candidatura Aécio Neves, já demonstrando que a lição de 2006 não foi aprendida, como o embate Serra x Alckmin na escolha da candidatura presidencial que culminou com a escolha de Alckmin e a fragorosa derrota para Lula no segundo turno daquelas eleições, com um PSDB acuado, nas cordas, sem ter sido capaz de defender uma das suas maiores vitórias, enquanto governo: as privatizações.
Há que se reconhecer que qualquer partido gostaria de ter dois nomes como Serra e Aécio para representá-lo numa disputa presidencial. Ocorre que no PSDB as coisas são diferentes. A briga interna é tão grande que até a vitória que parece assegurada pode mudar de mão no último segundo, como aquele gol na prorrogação que muda a história do clássico.

O argumento para a candidatura de Aécio? Serra seria ‘’ungido governador’’ na reeleição ao governo de São Paulo – o que não é pouca coisa – e Aécio, ainda jovem, não teria maiores prejuízos se fosse derrotado pela candidatura indicada por Lula. E Alckmin que hoje lidera as pesquisas para o governo de São Paulo? Alckmin seria o vice de Aécio, trazendo de volta, depois de muitos e muitos anos, a política do café com leite, unindo Minas e São Paulo, apaziguando o PSDB em definitivo e com o apoio do DEM que não tem, hoje, um nome de peso e densidade eleitoral que possa ocupar esse cargo. A negociação do seu apoio por não emplacar a vice presidência, seria semelhante ao papel que desempenha hoje o PMDB, ocupando grande parte do governo. A melhor parte, é claro.

Aqui em mato Grosso as coisas não são muito diferentes. Tudo que se fala hoje em 2009 pode não valer para 2010. A candidatura da situação, que o governador insiste em que recaia sobre Silval Barbosa, não tem o apoio nem da primeira dama, imaginem do resto do partido.

Pelos lados do PSDB a certeza da candidatura de Wilson Santos perdeu força com a operação Pacenas e a prisão de figuras ilustres do PSDB ligadas a ele. E Jayme Campos, que estava no jogo apenas como um possível candidato se a sorte lhe sorrisse, amanheceu invocado, com um novo ânimo, disposto a medir sua força eleitoral, depois da derrota acachapante que sofreu, com toda a sua família, com a reeleição de Murilo Domingos, contra seu irmão Júlio Campos na eleição de 2008 em Várzea Grande. Ou seja, as nuvens mudaram mais uma vez em tempo recorde.
Com todos esses fatos, Jayme viu aí a oportunidade de, além de dar a volta por cima, mostrar a insatisfação com a ‘’turma dos olhos azuis’’ que ele tem tanto criticado, pela deslealdade com que ele e seus companheiros têm sidos tratados pelo chefe do executivo e a sua turma da botina. Chegou a hora de dar o troco.

E o que fez Jayme? Resolveu fazer política pra valer: um pedido de licença por mais de 121 dias no Senado, para tratar de assuntos particulares. Poderia ser de 120 e o suplente não seria convocado. Mas ele fez por 130, o que obriga Pagot a sair da toca e escolher se quer ser senador, ou renunciar à primeira suplência do cargo, sonho de consumo de qualquer político.

Para assumir por esse período, Pagot precisa exonerar-se do cargo de Diretor geral do DNIT, assumir o cargo de senador e sonhar em retornar à diretoria geral para não perder a 1ª suplência, o que seria bastante improvável, uma vez que teria de ser submetido, novamente, a todo o processo de uma nova nomeação, que inclui a sabatina e aprovação no próprio senado, algo que da primeira vez levou mais de seis meses, além de uma rejeição total por parte do PSDB, em especial dos senadores Mario Couto e Arthur Virgílio, quase comprometendo sua indicação.

Com isso a vaga que seria de Pagot, caiu no colo, de graça, para o ex quase tudo na política mato-grossense, Osvaldo Sobrinho, indicado pelo PTB, na qualidade de 2º suplente para a chapa vitoriosa ao senado em 2006. A chapa apoiada pelo governador reeleito.

Jayme era o cabeça-de-chapa e representava o DEM, parceiro de primeira hora do governador. No início da campanha, a coligação deu apoio público a Alckmin. O governador reuniu num grande encontro festivo todo o empresariado do agro negócio do estado para receber Alckmin e sua comitiva aqui em Cuiabá. Alckmin foi para o segundo turno com Lula e, quando mais precisava, perdeu o apoio daquele que lhe manifestara, publicamente, lealdade e empenho para a vitória: o chefe do executivo mato-grossense que, eleito já no primeiro turno, mudou de lado e entrou de corpo e alma na campanha do ‘’companheiro’’ Lula.

A importância desse apoio a Lula foi tamanha, que até hoje o presidente reconhece, publicamente, o papel desempenhado pelo governador de Mato Grosso junto ao segmento do agronegócio.

Jayme manteve-se no seu partido e na sua aliança e agora, ao pedir licença, dá um pequeno troco, dá uma sinuca de bico em Pagot a quem tem desancado publicamente: ou sai do DNIT ou não será senador em momento algum até, pelo menos, 2014.
Pagot, que não desconhece as regras do jogo político, resolveu ficar onde está. Por várias razões: apoio do governador, do presidente da república, da ministra Dilma, possível candidata – e forte – contra a candidatura de oposição, além de um orçamento disponível que lhe dá a oportunidade de mudar a cara do Brasil em termos de transportes. Só em Mato Grosso, até o final do ano, 2,6 bilhões de reais em contratos estarão assinados com as respectivas obras em andamento. A mudança que já se vê nas rodovias federais em mato Grosso é algo que nunca aconteceu anteriormente. É muita coisa o que está sendo feito.

Então? Será que assumir uma cadeira por 130 dias no senado e voltar pra casa seria a melhor escolha? Você, leitor, o que faria? Ele, Pagot, acho eu, resolveu pagar pra ver.
Nessa história toda quem perdeu um pouquinho foi Osvaldo Sobrinho. Apenas alguns dias. Ocupará a cadeira por menos tempo que os 130 desejados. Isto porque o PTB já declarou apoio ao PSDB nas eleições de 2010, em encontro regional aqui em Cuiabá no final do mês de agosto, com a presença do presidente nacional, Roberto Jefferson e do presidente estadual Chico Galindo, que sonha assumir a prefeitura da capital com a renúncia de Wilson Santos, para concorrer ao governo do estado.

Osvaldo, então, não deverá receber, antes do prazo regimental de 30 dias, a tão sonhada carteira de senador e o passaporte diplomático. Afinal, assume como um senador que já estará na tribuna pela oposição, na casa do Congresso onde a maioria governista é fragilíssima e as votações de seu interesse são sempre uma incógnita.
Assume no lugar que seria de Pagot, que é um dos maiores defensores do governo Lula e com cargo de destaque na administração federal.

O maior drama de Osvaldo, hoje, é saber pra que lado ele quererá que as nuvens se posicionem no céu de 2010: Jayme candidato e, na hipótese de vitória, um mandato de quatro anos de senador, ou Wilson, seu primo, seu aliado, seu grande companheiro liderando a chapa de oposição e, nesse caso, lhe restaria dividir, de fato, não de direito, o poder com Chico Galindo na prefeitura de Cuiabá. Que dilema!

Como até lá muita água há de rolar debaixo da ponte e muitos temperos deverão ser testados e é bem possível que a turma da botina não ache um candidato que agrade todos os aliados, não encontre uma candidatura realmente consistente é muito possível que a salvação da pátria venha através de um nome a pacificar toda a base situacionista. Pelo trabalho realizado e pela força que a máquina do governo exerce em uma eleição por que não Pagot?

Se as nuvens mudarem, de novo, o tiro de Jayme terá saído pela culatra.
*Ricarte de Freitas é advogado e ex-parlamentar por mato Grosso. ricartef@gmail.com
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