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“Eu vou matar esse cara”: mulher que encomendou homicídio de marido tentou ‘ludibriar’ família

Da Redação - Wesley Santiago/Max Aguiar

Novos trechos das interceptações telefônicas realizadas durante as investigações da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) mostram que Ana Cláudia Flor, presa acusada de mandar matar o marido, o empresário Toni da Silva Flor, de 38 anos, no dia 11 de agosto de 2020, em frente a uma academia de Cuiabá, tentou ludibriar a família da vítima, dizendo que Igor Espinosa, autor dos disparos, não teria relação com o crime e que só foi teria sido pego por ter rompido a tornozeleira eletrônica. Em vários momentos, ela dizia que mataria o comparsa.

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Nas conversas de Ana Cláudia com familiares de Toni, às quais Olhar Direto teve acesso, foi possível notar certa demonstração de frieza quanto toda a situação envolvendo o assassinato do empresário.
 
Foram verificados pela DHPP diversos boletins de ocorrência narrando discussões e brigas entre o casal, bem como um em que Toni Flor teria ameaçado o amante de Ana Cláudia, após ter descoberto sobre o relacionamento extraconjugal.
 
Depois da prisão de Igor, Ana Cláudia começou a ter uma postura defensiva, em relação a família de Toni Flor, sendo que colocava em dúvida, a todo momento, que o crime havia sido direcionado ao empresário, criando a tese de que o verdadeiro alvo seria um policial rodoviário federal que frequentava a mesma academia onde ele foi morto.
 
Em uma das conversas interceptadas, a irmã da vítima relata que viu as imagens divulgadas na mídia que mostram características do atirador e Toni pedindo socorro. De forma firme, a esposa então pede que a cunhada tire prints, para serem compartilhados posteriormente.
 
Cunhada – Oi, você viu aquela reportagem?
Ana Cláudia – A que você mandou eu vi!
Cunhada – Você viu que tem foto, mais ou menos, do rosto do cara, de capacete com a viseira aberta...
Ana Cláudia – Não...
Cunhada – Quando você abre no computador, você vê uma imagem com viseira, aberta e o Toni entrando na academia

...
Ana Cláudia – Chegando lá em casa vou dar uma olhada, em que dar um print dessas fotos para divulgar!
Cunhada – Eu vou tirar uma foto, para te mandar
Ana Cláudia – Ai é bom para divulgar
...
Cunhada – Mas assim, se [for] algum conhecido dele, dá para identificar
Ana Cláudia – É, só a gente sabe, quando passa alguém de capacete, essas coisas, a gente sabe
Cunhada – Tem uma foto que ele está com a viseira aberta
Ana Cláudia – Tem que printar para divulgar

 
Enquanto a irmã fala sobre os últimos momentos do empresário e reitera que as fotos têm que ser compartilhadas, Ana Cláudia tenta minimizar e diz que estas imagens já eram do seu conhecimento e que já teriam sido compartilhadas em grupos de WhatsApp anteriormente.
 
Cunhada – Esse negócio das fotos do cara, se alguém conhecer, a gente identifica
Ana Cláudia – Aquela foto lá, no primeiro dia o investigador já me mostrou aquela foto. Eu falei para você, no primeiro dia ele me mostrou, perguntou se eu conhecia, se tinha brigado com algum promotor, alguma coisa assim, né?
Cunhada – Aham
Ana Cláudia – Do nosso convívio não. Graças a Deus. Mandei no grupo da academia. Não publiquei, mas, mandei para muita gente no privado...

 
Após a prisão de Igor, Ana Cláudia recebe uma ligação de uma mulher não identificada, dizendo que aconteceu uma coisa chata com o menino e que elas precisavam conversar pessoalmente no bairro Altos do Parque II. 
 
Mulher Não Identificada (MNI) – Lembra da menina que você trouxe uma compra no Altos do Parque II.
Ana Cláudia – Sim
MNI – Eu precisava falar com você, pois aconteceu um negócio com o menino
Ana Cláudia – Ah tá!
MNI – Tá, ai quando você puder, tiver tranquila, você me liga?
Ana Cláudia – Tá, eu ligo sim
MNI – tá, obrigada
Ana Cláudia – Nesse número mesmo?
MNI – Isso. É porque aconteceu um negócio bem chato, ai você me liga tá, fazendo favor, quando você puder falar.

 
Poucos minutos depois de receber a ligação, Ana Cláudia desesperada confidencia para a cunhada que cogitou matar Igor, fato inclusive ventilado pela filha mais velha do casal, sendo que ela respondeu para a menina: “A mãe vai mandar matar esse cara”.
 
Mais tarde, Ana Cláudia confidencia a mãe de Toni, usando o argumento de que Igor poderia ser solto, que ela iria ser presa porque iria matar ele. Nisso, a mãe do empresário responde dizendo para ela não fazer nada, já que o homem pode dizer quem mandou matar seu filho.
 
Ana Cláudia – Depois que ele falar, eu quero que ele morra. Se ele for preso, nós que vamos pagar a comida dele.
Mãe do empresário – É!
Ana Cláudia – Depois que ele falar, eu quero que ele vá para o inferno
Mãe – Depois que ele falar, é isso que eu quero também. Que ele vá pagar.

 
Em outras conversas, com a cunhada, Ana Cláudia volta a bater na mesma tecla de que Igor não estaria preso pelo assassinato de Toni, dizendo que os policiais estavam mentindo sobre o envolvimento dele e, mais uma vez, dizendo que iria mandar matar Igor.
 
Ana Cláudia – Eu soube lá de dentro da delegacia, porque eu paguei, o guri disse que não abriu a boca. Não falou nada. Esse guri vai sair de lá pela porta da frente.
Cunhada – Mas será que falou nada mesmo?
Ana Cláudia – Falaram que não falou nada (...) Eu vou matar esse cara, tá falando que não é agora, falou que era M. agora que era o Toni, agora fala que não é ele. Foi para audiência de custódia por causa da tornozeleira eletrônica. Não tá no processo, ele vai sair de lá.
...
Ana Cláudia – Eu já gastei muito dinheiro nisso. Só hoje foram R$ 4,5 mil...
Cunhada – Mas para fazer alguma coisa?
Ana Cláudia – Não, para ter informações sde dentro da delegacia.
...
Ana Cláudia – Eu vou gastar o que for preciso. Porque se esse rapaz disser que foi ele e for solto, eu matava ele. Tranquila e calma. Mas ele disse que não abriu a boca para dizer nada.


Contradição

Para o delegado Marcel Oliveira, responsável pela investigação, a mulher entra em contradição no momento em que diz que Igor só teria sido preso por estar sem tornozeleira. Porém, ponto divergente é que o executor do crime tirou o aparelho de monitoramento 12 dias antes da execução.

"Ela sugeriu pra mae e irmã do Toni matar o Igor após a prisão dele. Porque segundo ela [Ana Claudia] Igor só estava preso por romper a tornozeleira. Ai eu perguntei pra ela como ela sabia que o Igor tinha tornozeleira. Sendo que Igor só quebrou a tornozeleira 12 dias antes do crime para não ser localizado. Isso ela falou após a prisão do Igor. Não se prende ninguém por romper. Ele estava preso porque tinha mandado expedido. Ela disse que ele ficaria impune perante a Justiça. Ai a mãe e a irmã falaram que não era pra matar porque ai nesse momento seria o momento que ela ia ficar sabendo quem mandou matar o Toni", disse o delegado

Inclusive, Ana Claudia ficou distante da família por algum tempo e logo após a morte ela se aproximou. Chegou a fazer caminhada da paz, manifestação pedindo Justiça e quis colocar a família por diversas vezes para poder pressionar a DHPP.

Por último, o delegado disse que a TF Representações lucrava R$ 1 milhão por mês e esse poderia ser o motivo real que a esposa poderia ter mandado matar seu esposo. "A parte da comissão era 5% do faturamente. Após a morte do Toni, a empresa ficou totalmente para Ana Claudia. A reserva dava em torno de R$ 50 mil por mês", concluiu.

Amantes

Interceptações telefônicas realizadas durante as investigações da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) mostram as conversas que Ana Cláudia Flor, presa acusada de mandar matar o marido, o empresário Toni da Silva Flor, de 38 anos, no dia 11 de agosto de 2020, em frente a uma academia de Cuiabá, manteve com um amante antes e após a morte da vítima. Em uma delas, após o homem prestar depoimento, ela diz: “isso ainda vai sobrar pra mim”. Em outra, fala que ela está diferente e que “se alguém souber, vou presa”.

A manicure Ediane Aprecida Cruz, 21 anos, presa na manhã desta sexta-feira (27) pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) declarou que seu irmão foi amante da mandante do assassinato.
 
Ao delegado, durante acareação feita na DHPP, a manicure disse que foi responsável por passar o telefone de Wellington Honorio Albino, que teria feito a ponte entre Ana e Igor, Dessa dupla, Igor foi o responsável pelo tiro que matou Toni Flor e Wellington jogou a arma fora, nas imediações do Rio Manso, em Chapada dos Guimarães.

O crime
 
Segundo consta, Ana e Toni estavam casados há 15 anos, tendo inclusive três filhas fruto deste relacionamento. Porém, a relação estava deteriorando, por conta de relacionamentos extraconjugais da acusada. Antes de morrer, inclusive, a vítima teria dito para a mulher que queria o divórcio.
 
Inconformada com a separação e querendo ficar com todos os bens do empresário, Ana então começou a bolar um plano para matar o marido. Para tanto, pediu ajuda a sua manicure, Ediane Aparecida da Cruz Silva, que auxiliou na procura por um “matador”.
 
“Oportunidade em que esta acedeu à macabra solicitação e contactou Wellington Honorio Albino que, por sua vez, com o auxílio de seu amigo Dieliton Mota Da Silva, “terceirizou” o serviço homicida, propondo que a execução do crime fosse perpetrada por Igor Espinosa, que aceitou a tarefa”, diz trecho da denúncia.
 
“Quanto à acusada Ana Cláudia, há que se destacar que o desvalor de sua conduta é flagrantemente grave, já que ordenou a morte do pai de suas três filhas menores, jamais revelando qualquer arrependimento. Neste aspecto, é evidentemente macabra sua conduta de, após o delito por ela mesma planejada em todos os detalhes, ter promovido campanhas em mídias sociais e até eventos públicos onde cobrava justiça pela morte de seu marido”, pontua o promotor na denúncia.
 
O promotor ainda lembra que, durante o andamento do inquérito, foi revelado que Ana Cláudia ainda teria intenção de contratar alguém para matar Igor Espina, com evidente objetivo de evitar que fosse delatada pelo mesmo.
 
Na semana passada, foram decretadas as prisões preventivas de Ana Claudia de Souza Oliveira Flor, Igor Espinosa, Wellington Honorio Albino e Dieliton Mota da Silva.
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