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Estudo aponta que incêndios mataram 17 milhões de animais vertebrados no Pantanal

Da Redação - Fabiana Mendes / Michael Esquer

Pesquisadores da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) participaram de estudo que estima que, pelo menos, 17 milhões de animais vertebrados morreram em consequência direta das queimadas no Pantanal no ano passado. No total, 30 cientistas, vinculados a órgãos públicos, universidades e organizações não-governamentais (ONGs), participaram do estudo.

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O estudo ainda não foi publicado em revista científica, porém, já foi submetido ao periódico Scientific Reports, do grupo Springer Nature, e está, neste momento, sob avaliação de outros cientistas.
 
Os pesquisadores estiveram em campo entre 1º de agosto e 17 de novembro de 2020 e percorreram 114 quilômetros. As áreas eram vasculhadas em até 72 horas do inicio de cada foco de incêndio. Depois da observação, foi criado um modelo matemático que apontou a probabilidade de se ter carcaças nos locais queimados. Com o modelo, foi possível estimar o número total de animais mortos.

 
Ao longo do estudo, foram encontrados pequenos lagartos, cobras, pássaros, roedores, marsupiais, vertebrados de médio a grande porte como quelônios, lagartos grandes, sucuris, jacarés, pássaros de médio-grande porte, tamanduás, tatus, roedores de médio-grande porte, ungulados e primatas.
 
Os animais mortos encontrados com mais frequencia foram pequenas cobras (9,3 milhões), roedores (3,2 milhões) e pássaros (983 mil).

Integrante do Mogu Matá - Rede de Monitoramento dos Impactos do Fogo na Fauna do Pantanal, Gabriela do Valle Alvarenga disse que a contagem das carcaças de animais mortos envolveu a colaboração de diferentes grupos, seguindo um protocolo padrão para a coleta de dados.

“Foram percorridos transectos de até dois quilômetros em linha reta ao longo de áreas recém queimadas, registrando os animais mortos encontrados. As estimativas mostram que os grupos de animais mais afetados foram as serpentes (mais de 60%), seguidas dos roedores e passeriformes, contabilizando 17 milhões de vertebrados mortos nos incêndios de 2020”, afirma.

Antes do estudo, haviam poucas informações sobre a fauna e o comportamento do fogo na região. “Antes dos incêndios de 2020 não dispúnhamos de informações básicas sobre a fauna local, como abundância e distribuição das espécies. Todas as informações adquiridas no ano passado são fundamentais para o entendimento de como as espécies de vertebrados irão se comportar após os grandes incêndios de 2020. O Pantanal é um ecossistema muito complexo, com diferentes fitofisionomias que o fogo pode impactar de maneiras distintas”, explica.

“Conseguimos estimar o número de vertebrados mortos com base em um modelo matemático, mas ainda não sabemos a dimensão do impacto global do fogo nesse ecossistema, por isso é de extrema importância continuar o estudo. A informação adquirida é essencial para identificar espécies e áreas mais sensíveis ao fogo, auxiliando no plano de manejo e proteção dessas áreas”,




 Dentre as serpentes, as aquaticas foram as que mais morreram. “O que já se conhece sobre as serpentes aquáticas é que são superabundantes na planície pantaneira e durante a estação seca costumam ficar enterrados em áreas de campo inundável, que se encontram secos nessa época do ano. Quando o fogo atinge uma área úmida seca é bastante comum ocorrer o incêndio de turfa, que consome a espessa camada matéria orgânica que ocorre naturalmente nesses ambientes. Esse tipo de fogo é de difícil combate e detecção, podendo queimar por semanas e atinge os animais que habitam esses ambientes. Como as serpentes possuem baixa capacidade de locomoção dificultando a fuga durante um incêndio costumam ser mais vulneráveis do que outros vertebrados com maior capacidade de fuga”, conta.


Apesar do grande número de animais mortos, os pesquisadores também se depararam com muitos sobreviventes. “Serpentes aquáticas, anfíbios e pequenos roedores foram avistados em cavidades no solo buscando abrigo e proteção contra o fogo”.



As observações deverão ser usadas para investigar a viabilidade dos abrigos subterrâneos.

Neste ano, Gabriela disse que já foi inicada a contagem dos animais mortos. A pesquisa também fará parte da pesquisa de doutorado dela, que irá abordar os sobreviventes que encontrados em cavidades subterrâneas.
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