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((((FDS))Descendentes de escravos enfrentam problemas básicos de estrutura na comunidade Mata Cavalo

Da Redação - Fabiana Mendes

Os moradores da Comunidade Matam Cavalo, em Nossa Senhora do Livramento (cerca de 40 km de Cuiabá), sofrem com problemas básicos de estrutura, pois a estrada de acesso é precária e não há posto de saúde no local. Apesar da riqueza histórica que traz, a comunidade está esquecida pelo poder público, como conta Jéssica Leny da Silva Pinho, presidente da Associação de Moradores.

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"Nossa comunidade está totalmente esquecida. A questão de saúde é delicada. Existe a necessidade de um posto de saúde. A cada dois ou três meses a prefeitura manda agentes de saúde na sede da comunidade, que atendem os moradores, mas não temos uma estrutura de saúde fixa no local", explica.
 
A comunidade é composta por cerca de 400 descendentes de escravos. O complexo Mata Cavalo é constituído de sete áreas de diferentes fazendas: Ourinhos, Estiva, Aguaçú, Mata Cavalo de Cima, Mata Cavalo de Baixo, Mutuca e Capim Verde.
 
Alguns moradores ainda moram em casas feitas de palha. Poucos barracos possuem banheiro e a água utilizada para beber e cozinhar é retirada em um único poço artesiano.
 
É uma área de solo fértil e rica em recursos naturais. Os moradores plantam uma cultura diversificada, um pouco de cada coisa: a banana, a mandioca, o milho, o arroz, a batata-doce, a cana-de-açúcar, o feijão, a abóbora, o cará. Mas o forte mesmo é a banana.
 
Apesar disso, os produtores da comunidade também enfrentam dificuldades para vender os produtos cultivados. Para Jéssica, é necessário que o poder público viabilize locais para que os produtos possam ser expostos e comercializados.
 
"A gente quer criar uma feira para que as mulheres e os homens que produzem na comunidade possam expor os produtos e, assim, termos renda. Produzimos azeite de mamona, a farinha que também é produzida na comunidade, além de quiabo, abacaxi e banana. Atualmente fazemos reuniões no barracão todos os domingos, quando alguns produtos são vendidos. A intenção é ampliar, expor e vender também em Cuiabá, Várzea Grande e outros municípios", conta.
 
Assistência aos moradores
 
No último domingo (14), os advogados Cássia Lourenço e Nilton Lourenço, proprietários do escritório Souza e Lourenço, localizado em Cuiabá, visitaram a comunidade para levar apoio jurídico aos moradores.
 
A advogada Cássia explica que enquanto os indígenas conquistaram o direito às suas terras ainda na época colonial, por volta de 1934, o direito dos quilombolas só foi reconhecido pela primeira vez na Constituição de 1988. No entanto, a primeira titulação de uma terra quilombola aconteceu sete anos após a promulgação da Constituição, em 1995.
 
“Em Mato Grosso, faz ainda menos tempo que conquistaram esse direito de ter uma terra para eles. Então, é importante que eles tenham conhecimento de seus direitos e até onde podem chegar”, pontua.
 
Surgimento de Mata Cavalo
 
A comunidade quilombola de Mata Cavalo é um dos grupos remanescentes de escravos em Mato Grosso que mais tem se esforçado na luta pela conservação de suas tradições e de suas terras, no embate contra fazendeiros e grileiros.


 
Na época da escravidão, o transporte de mantimentos era realizado por carros de boi e cavalos carregados. Para fazer o abastecimento de Poconé, a tropa (grupo de transportadores) precisava atravessar um córrego, que enchia no período chuvoso. Um dia os cavalos não conseguiram passar e foram carregados pela correnteza. Os animais morreram e a córrego ficou conhecido como o Córrego que Mata Cavalo. Como a comunidade quilombola fica no entorno do córrego, recebeu o nome do mesmo.
 
Um dos moradores mais ilustres da comunidade foi Antônio Benedito da Conceição, conhecido como Antônio Mulato. Considerado o homem mais idoso de Mato Grosso, ele morreu em 2018.
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