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Alvo de grupo que movimentou mais de R$ 1,8 bilhão tinha fazenda na ‘rota do tráfico’; Delegada vê aumento de participação feminina em crimes

Da Redação - Fabiana Mendes

A operação ‘Smurfing’ que investigou grupo de 40 mulheres envolvidas com o tráfico de drogas e lavagem de dinheiro evidência o aumento do gênero feminino em associações criminosas. Segundo a Juliana Chiquito Palhares, da Delegacia de Repressão ao Tráfico (DRE) de Cuiabá, algumas são esposas de presos, outras atuam no recebimento de dinheiro em suas contas e também na lavagem dos valores. Uma delas tinha, inclusive, uma fazenda na divisa entre Mato Grosso e Bolívia. A região é uma rota para o tráfico internacional de drogas.

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“Infelizmente nós estamos verificando a presença mais massiva de mulheres, tanto na organização criminosa como um todo, quanto no tráfico de drogas. É algo que vem crescendo bastante. Em que pese todos os malefícios e prejuízos à sociedade que as organizações criminosas voltadas ao tráfico produzem, é um crime sem violência e grave ameaça a pessoa. Então a vinculação de mulheres nessa situação tem aumentado”, disse em entrevista ao Olhar Direto.

Sob coordenação da delegada, foram cumpridos seis mandados de prisão preventiva de um total de 12 nas cidades de Cuiabá, Várzea Grande, Campo Verde e Juína. Também foram decretados dez mandados de busca e apreensão.

Em apuração preliminar com presas e encaminhadas à DRE, verificou-se que algumas são esposas de traficantes de drogas. “O que a gente pode perceber em conversas preliminares, em entrevistas com as mulheres aqui presas, é que algumas tem realmente o marido vinculado ao tráfico, outras tem empresas, participam mais da questão de recebimento de valores em suas contas, talvez participem mais da lavagem de dinheiro.”, explicou.

As investigações da Polícia Civil de Pernambuco revelaram uma estreita relação de alguns investigados com a Bolívia, sobretudo alvos residentes na região de fronteira. As informações indicaram que tal região é, provavelmente, uma das rotas pelas quais drogas ilícitas com origem boliviana entram no país. “Umas das investigadas, inclusive, tem fazenda na região de fronteira, tem outras pessoas envolvidas também com propriedades ali naquela faixa”, acrescentou Palhares.

“O tráfico de drogas ele não tem limites de estado e cidade. A Polícia Civil como um todo pelo Brasil, tem essas trocas, essas cooperações. A organização criminosa ela tem tentáculos em todos lugares mesmo, e esse é o papel nosso, né? De Polícia Judiciária, de investigação qualificada, entregando essa qualidade de investigação pra sociedade”, finaliza.  
 
Operação

A operação Smurfing, uma das maiores já realizadas no estado de Pernambuco, possui alvos em 17 estados brasileiros, incluindo 30 sociedades empresariais, o que revela uma investigação de consideráveis proporções e alta complexidade, sobretudo em razão da natureza do crime e as práticas adotadas para acobertá-lo.

Em Mato Grosso são cumpridas 30 ordens judiciais, entre mandados de prisão e busca e apreensão, nas cidades de Cuiabá, Várzea Grande, Campo Verde, Juína, Pontes e Lacerda e Comodoro. Os trabalhos são executados pelas equipes da DRE, Defron e Delegacia de Pontes e Lacerda, sob a coordenação das delegadas Juliana Chiquito Palhares e Judá Maali Marcondes. 

Investigações

A operação tem como base uma investigação policial iniciada em 2018 pela 42ª Circunscrição Policial – Delegacia de Ipojuca, e realizada em conjunto com a Diretoria de Inteligência da Polícia Civil de Pernambuco, o Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de dinheiro (LAB-LD) e NIDIM, para apurar a prática dos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa.

As investigações partiram do tráfico de drogas em Ipojuca (PE), que em um trabalho minucioso, acompanharam o caminho do dinheiro obtido através do tráfico, passando pelos operadores financeiros e empresas utilizadas por uma organização criminosa para atribuir a falsa aparência de licitude aos recursos de origem ilícita.

O trabalho investigativo que visa combater organizações criminosas, com foco não apenas à responsabilização criminal dos integrantes, mas também na asfixia financeira da organização, enfraquecendo sua estrutura e, sobretudo impedindo que aquela continue a desfrutar das riquezas obtidas de forma ilícita.  A operação possibilitou o bloqueio de aproximadamente 1,8 bilhões de reais, tamanha a proporção do fluxo financeiro da organização criminosa.

As investigações revelaram uma estreita relação de alguns investigados com a Bolívia, sobretudo alvos residentes na região de fronteira. As informações indicaram que tal região é, provavelmente, uma das rotas pelas quais drogas ilícitas com origem boliviana entram no país.

Outro ponto que chamou atenção nas investigações, foi a quantidade expressiva de mulheres atuando na organização criminosa em comento, totalizando 40 mulheres investigadas.

A operação da Polícia Civil de Pernambuco contou com apoio da Inteligência da Polícia Civil de Mato Grosso, da Delegacia Especializada de Repressão a Entorpecentes (DRE) e da Delegacia Especial de Fronteira (Defron) para cumprimento dos mandados, com reflexos positivos em várias regiões do país, posto que representa o forte embate à estrutura de uma das maiores organizações criminosas atuantes no Brasil.

Nome da operação

O nome da operação, “Smurfing”, faz referência a uma das técnicas utilizadas pelos criminosos na lavagem de recursos, na qual são realizados diversos depósitos de pequeno valor, em variados dias e horários, para dissimular a origem ilícita do dinheiro, prática muito utilizada por traficantes de drogas. 
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