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Complexo Hospitalar de Cuiabá adotou telechamadas para diminuir distanciamento na pandemia

Da Redação

Durante a pandemia, muitas pessoas que precisaram ficar internadas para receberem tratamento da Covid-19, bem como de outras enfermidades, acabaram tendo que ficar afastadas de suas famílias. O isolamento social, necessário para evitar o contágio entre as pessoas, acabou apontando problemas emocionais naqueles que precisavam ficar sozinhos em um momento difícil de suas vidas. 

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Para tentar contornar essa problemática, o Complexo Hospitalar de Cuiabá (CHC) passou a incorporar as videochamadas em seus atendimentos. Assim, pacientes que estavam internados puderam manter um pouco a proximidade com seus familiares e, dessa forma, realizar o tratamento com o apoio dos seus entes queridos. 

A psicóloga que atua na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, Manoele Pescador, conta como foi essa jornada sem precedentes ao longo dos dois últimos anos. Nesse período, cerca de 600 pessoas ficaram internadas na unidade hospitalar. Ela afirma que como a doença surgiu de “surpresa”, ninguém estava preparado para lidar com tamanha lacuna e distanciamento. 

O medo e pavor de contágio era tanto que, por mais que médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos se cuidassem e usassem roupas esterilizadas para evitar passar o vírus para os parentes, o risco continuava existindo. 

“A pandemia trouxe uma situação que até então ninguém tinha ouvido falar. No início não existiam os protocolos e não se tinha noção do que seria essa doença”, conta Manoele.

A psicóloga aponta que, nesse cenário, a internação em UTI apresentava um contexto ainda mais delicado para as famílias. “Normalmente, nós conhecemos os familiares dos pacientes em um momento muito delicado da vida, principalmente quando se interna na UTI. E o pior, em uma pandemia, com medo de pegar ou passar a doença, principalmente para a equipe médica, pois não tínhamos conhecimento”.

Preocupado em humanizar o tratamento, mesmo diante das novas circunstâncias, o hospital, junto a sua equipe multidisciplinar, promoveu pesquisas de métodos que pudessem diminuir esse distanciamento. E foi no Hospital Israelita Albert Einstein, que encontrou uma saída. Lá, as videochamadas eram feitas diariamente com os 34 leitos da UTI, sendo covid e não covid, uma vez que as visitas foram proibidas nesse período.

“Me disseram que para diminuir a distância, estavam fazendo chamadas de vídeo entre internos e os familiares que estavam em casa e não podiam estar ali acompanhando o progresso deles. Com isso, a administração do Complexo disponibilizou um aparelho celular para que pudéssemos fazer do mesmo modo esse trabalho. Queríamos humanizar os tratamentos e deixar menos frio o caos que a pandemia trouxe”, explica a psicóloga.

Manoele confidencia que duas situações em particular marcaram muito sua jornada de trabalho nesse meio tempo. Uma delas, foi quando uma das chamadas que seriam realizadas no dia, atrasou. Os familiares da paciente estavam aguardando com o grupo de oração da igreja que ele participava antes de adoecer. “A filha dele estava triste porque o pessoal não podia esperar. Nisso tive a ideia de fazermos todos online, e foi especial. Mas no outro dia, a paciente não resistiu e morreu”. 

O segundo episódio foi quando o pai de uma colega da equipe médica foi internado na terapia intensiva, precisando ser intubado. “Fiquei com ela do lado de fora esperando o procedimento terminar, ela estava bastante angustiada. Com isso entrei na sala para poder ver o que estava acontecendo, mas encontrei a equipe médica tentando reanimá-lo. Ele havia tido uma parada respiratória. Tentaram muito trazê-lo de volta, mas não foi possível”, afirma.

Telereabilitação

Especialistas manifestaram preocupação, sobretudo, com os casos de acidente vascular cerebral agravados pela própria Covid ou pelo isolamento social, fato que atrapalha a prevenção e provoca demora no atendimento dos sintomas mais leves. Professora de fisiatria na Faculdade Medicina da USP, Linamara Battistella mostrou como a telereabilitação e o telemonitoramento podem ajudar na recuperação desses pacientes.

No ano passado, na Câmara dos Deputados, foi promovido pela Comissão externa de Enfrentamento à Covid-19, um debate onde especialistas manifestaram preocupação com casos de pacientes que apresentam sequelas da doença. Entre as estratégias defendidas pelos especialistas, está o uso da tecnologia para auxiliar na recuperação dos pacientes. 

Um levantamento do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), justifica a medida.  Nove meses após a internação em UTI, 71% dos pacientes pós-Covid apresentaram algum tipo de limitação nas atividades diárias, 52% continuaram a relatar dor e desconforto, 56% apresentaram ansiedade e depressão e 64% mantiveram quadro de dispneia, ou seja, dificuldade de respirar.

Pensando nisso, o CHC há mais de um ano atrás, no meio do período pandêmico, promoveu atividades diferenciadas para que os pacientes que trataram e foram internados pudessem contar com uma equipe médica multidisciplinar sem qualquer limitação ou sintomas da pós Covid-19.
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