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"Não tinha dimensão do significado", diz empresária do agro que usou "fantasia" de "nega-maluca" em Cuiabá

Da Redação - Bruna Barbosa

A empresária e fundadora do Grupo Scheffer, que atua no setor do agronegócio, Carolina Scheffer, se posicionou sobre ter pintado o rosto com tinta preta para se "fantasiar" de "nega-maluca", em uma festa de aniversário realizada na sede do Grupo Bom Futuro, em Cuiabá, no último sábado (24). 

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Através da assessoria de imprensa, Carolina lamentou a escolha da "fantasia" e afirmou que, antes do episódio, não tinha compreensão do que era "blackface". 

"Lamento pelo uso de uma fantasia durante uma festa em Cuiabá. Não tinha a dimensão do seu significado, e agora compreendo ser ofensiva, mesmo sem qualquer intenção de gerar esse sentimento", diz trecho da nota.

A empresária também disse ter ficado "sensibilizada" com a repercussão do caso e se comprometeu a estudar sobre o tema. 

"Estou sensibilizada com a repercussão, e comprometo-me a estudar sobre o tema com a devida atenção e continuar buscando novos conhecimentos sobre um assunto tão relevante ao país", lamentou. 

O ato de pessoas brancas pintarem o rosto e corpo com tinta preta é conhecido como "blackface", prática que começou com atores brancos que pintavam a pele com carvão para representarem personagens negros, reforçando estereótipos negativos. 

Nas imagens do evento, a empresária que é branca e loira, aparece com o rosto e a corpo cobertos por tinta preta. Com vestido de bolinha, batom vermelho e peruca de cabelo crespo, Carolina quis representar a "nega maluca". 

Junto com o marido, Elizeu Scheffer, a empresária fundou o Grupo Scheffer em Mato Grosso. Atualmente, a direção segue com os filhos Gilliard, Gislayne e Guilherme Scheffer.

"Nega-Maluca"

A personagem, que surgiu no carnaval brasileiro, é um estereótipo racista da mulher negra. O coordenador de Juventude da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Refrano) em Mato Grosso, Vinícius Brasilino, ressaltou que o blackface é uma prática racista e que zomba da história das pessoas negras. 

"Tem práticas que mesmo abominável ainda tem pessoas que tem a pachorra de reproduzir. Blackface não é sobre fantasia é sobre o racismo que violenta nossos corpos e zomba a nossa história. Essa é Carolina Scheffer que se achou no direito de se pintar de preta enquanto o femicídio mata majoritáriamente as mulheres negras. Tem que ser denunciado. Se quiser fantasiar se fantasie de qualquer coisa, mas não se pinte de preto. Racistas não passarão", publicou nas redes sociais.

De acordo com o advogado e vice-presidente da Comissão de Defesa da Igualdade Racial da OAB-MT, Leonardo Prado, estudiosos atualmente cunharam práticas como o "blackface" de racismo recreativo. Ou seja, camuflado pelo "humor" e a "falta de intenção de ofender", reforça o racismo estrutural na sociedade. 

"Você traz a pessoa negra enquanto entretenimento, para pessoas brancas rirem de seus aspectos físicos e da sua cor. A prática é totalmente racista. Havia uma ideia de que aquilo seria uma fantasia, mas não é. Sempre foi uma atitude que reforçou o racismo que sempre estruturou a sociedade". 
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