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Executivo acusado de xenofobia por juíza assumiu cargo em empresa britânica em abril

Da Redação - Bruna Barbosa

Acusado de xenofobia pela juíza federal Clara da Mota Santos Pimenta Alvez, que auxilia o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin, o executivo Adriano Bastos assumiu o cargo na direção da petrolífera britânica British Petroleum (BP), no Brasil, em abril deste ano. O caso aconteceu na última sexta-feira (4), em uma pizzaria de Cuiabá. 

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A magistrada afirmou à polícia federal que um advogado e, posteriormente, o dirigente, se aproximaram e fizeram acusações sem provas ao sistema eleitoral, bem como a ofenderam por ela ser baiana. Adriano voltou para o Brasil após passagem pelo continente africano, onde atuou como presidente da BP de Angola. 

Bastos substituiu Mario Lindenhayn, que foi Head of Country da empresa no Brasil nos últimos oito anos. A petroleira está investigando a denúncia contra o dirigente. 

A denúncia da magistrada foi divulgada pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha de São Paulo, nessa segunda-feira (7). Clara, que é baiana, estava acompanhada de suas duas filhas pequenas, que haviam acabado de fazer uma apresentação escolar.

Outros pais também estavam no local participando da confraternização. À Polícia Federal, ela afirmou que um advogado teria se aproximado de sua mesa e proferido acusações, sem provas, de que as eleições deste ano foram fraudadas. Alves defendeu o sistema eleitoral, e uma colega afirmou que ela exercia a função de juíza e atuava no STF.

Segundo o relato da juíza aos policiais, foi então que o chefe da BP no Brasil, Adriano Bastos, também teria se aproximado de sua mesa e dado início às agressões verbais. No boletim de ocorrência registrado, ela diz que o executivo teria atribuído a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Bahia, estado que "não produz nada" e "não possui PIB".

Bastos, segue a magistrada, ainda teria dito que o eleitorado do petista é formado por "assistidos", além de "funcionários públicos" que "não trabalham, não fazem nada".

À polícia, a juíza federal também afirmou que o chefe da BP no Brasil sabia de sua origem baiana e de sua ocupação, já que suas filhas convivem juntas há mais de dois anos. O episódio foi notificado por ela ao compliance da petrolífera. Uma ação na esfera cível também será apresentada. Procurada pela coluna, a petrolífera não respondeu até a publicação deste texto.

A juíza Clara da Mota Santos Pimenta Alves, por sua vez, reafirma à Folha que o dirigente da BP teria sido o autor das ofensas.

"Frise-se que a senhora Clara e suas filhas eram as únicas pessoas de origem baiana no recinto e que a senhora Clara era a única funcionária pública, não havendo quaisquer outros possíveis destinatários das ofensas, proferidas em público, no ambiente de um restaurante, em mesa na qual estavam sentadas cerca de 12 pessoas", diz a notificação enviada pela defesa da juíza ao compliance da empresa britânica.

No documento, a magistrada diz que a suposta postura do executivo fere o código de conduta e os princípios éticos da petrolífera em que trabalha —e pede que ele seja responsabilizado.

Alves também afirma que os xingamentos relatados podem configurar injúria qualificada por conter elementos referentes à sua origem regional.

"O Brasil vive, atualmente, um ambiente de crise democrática em que setores da sociedade, notadamente ligados à extrema direta, questionam o resultado das eleições em que foram derrotados bem como à legitimidade do voto daqueles que votaram no candidato vencedor", diz a notificação enviada pela defesa da juíza à BP.

"Nesse contexto, e em linha com seus códigos de conduta, a companhia deve, por meio de seus canais internos de denúncia e compliance, adotar as medidas cabíveis para interromper episódios discriminatórios e prevenir novas investidas do seu 'head of country' [chefe nacional] no Brasil", afirma.
 
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