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Sarney defende MST e diz que não pode haver "demonização" dos sem-terra

Folha Online

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), usou a tribuna nesta quarta-feira para sair em defesa do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e das políticas agrárias do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Sarney, não pode haver a "demonização" nem a "criminalização" do MST.

Sarney disse ainda que os sem-terra são "vítimas da frustração" e que os conflitos entre os representantes do MST e os empresários do campo precisam ser atacados pelos Três Poderes.

O discurso ocorre às vésperas da leitura pelo plenário do Congresso do pedido de criação de uma CPI para investigar repasses do governo para ONGs (organizações não governamentais) ligadas ao MST.

"É um erro que nós estamos cometendo procurar criminalizar os sem-terra e ao mesmo demonizá-los. Os excessos, e eles existem, devem ser punidos bem como o respeito à propriedade, mas não devemos radicalizar. Temos que evitar o confronto e, como eu disse, não demonizar nem criminalizar o MST", afirmou.

Sarney afirmou que durante seu mandato na Presidência da República criou o Ministério da Reforma Agrária e cobrou uma atenção especial para o problema dos conflitos do campo.

"A violência no campo tem sido atribuída, por toda parte, ao movimento dos sem-terra. Mas eu quero fazer uma reflexão. Temos atrasado o processo de reforma agrária. Não modernizamos nossos métodos, não atualizamos nossas leis, não fomos, em suma, capazes de superar a imensa injustiça existente no campo. Somos todos nós, se não culpados, responsáveis, e sabemos que os sem-terra são vítimas permanentes da frustração de sua esperança de poder ter um pequeno pedaço de terra para produzir", disse.

Sarney disse que a sociedade precisa ter outro olhar em relação ao conflito no campo. "Passados tantos anos de criação do Ministério da Reforma Agrária, temos que reconhecer a vontade especial e o compromisso do presidente Lula com a solução do problema. Infelizmente, mesmo a sua determinação e os seus esforços têm sido insuficientes e são insuficientes. E são insuficientes por ser este um dos problemas em que a consciência da sociedade é o ingrediente a ser, antes dos demais, abalada e reformulada", afirmou.

Após o discurso, a senadora e presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Kátia Abreu (DEM-TO), cobrou a instalação da CPI --o que deve ocorrer amanhã, durante a sessão do Congresso. Para que a CPI comece a trabalhar, é preciso ainda que Sarney leia o requerimento em plenário para que os partidos comecem a indicar seus representantes. A comissão vai ser composta por 12 senadores e 12 deputados e o governo deve ter mais uma vez maioria na comissão.

O foco das investigações será a origem e o destino dos recursos da União para ONGs envolvidas com o MST em São Paulo, Pernambuco, Pará e Mato Grosso, "onde o MST é mais forte e se manifesta com mais violência e mais força".

A oposição suspeita que ao menos R$ 60 milhões tenham sido desviados pelo movimento de convênios com o governo. A senadora disse que uma das primeiras investigações da CPI será em cima do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) de São Paulo.

Três coordenadores dos núcleos de apoio do órgão no Pontal do Paranapanema (SP) exerceram funções na Cocamp, uma cooperativa criada pelo MST que é alvo de investigação da polícia por mau uso de recursos públicos.
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