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Jabaquara lidera ranking de devedor com o "nome sujo"

Folha de S.Paulo

O distrito do Jabaquara, na zona sul de São Paulo, é o que abriga o maior percentual de devedores com o nome no SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) da cidade.

A região de Pinheiros (zona oeste), que inclui Alto de Pinheiros, Itaim Bibi e Jardim Paulista, é a que tem a maior dívida per capita da cidade.

Os dados foram tabulados pela ACSP (Associação Comercial de São Paulo) e pela Folha a partir de informações do SCPC. O relatório da ACSP divide a cidade em 16 áreas, equivalente às suas distritais.

No distrito do Jabaquara, 13,5% da população foi incluída no SCPC neste ano. São 28,7 mil pessoas, para uma população de 212,5 mil. Na média, a dívida é de R$ 1.709.

Dados da pesquisa DNA Paulistano, feita pelo Datafolha no ano passado, apontam que 26% dos moradores do Jabaquara são assalariados sem registro em carteira. É o maior índice da cidade --supera até mesmo o de assalariados registrados.

Isso talvez explique o índice elevado de pessoas inadimplentes na área. Dados da ACSP apontam que o principal fator da inadimplência é o desemprego, seguido pelo descontrole de gastos.

"O assalariado sem registro é o que tem menor controle sobre seus ganhos mensais", diz Fernando Manfio, diretor da Witrisk, empresa especializada em gestão de risco do crédito.

CEP do risco

De acordo com Manfio, no momento de concessão do crédito, um dos fatores de análise de risco é justamente o local de moradia do comprador: o CEP da residência é incluído em uma base de dados que, a partir de modelos estatísticos, aponta o risco de inadimplência daquela pessoa.

Dessa forma, morar em um local que tem grande percentual de devedores aumenta a chance de o crédito ser recusado. "A região onde você mora é analisada em conjunto com outros fatores, como profissão, idade, se é casado ou não, se tem filhos ou não, renda, etc. O CEP é uma informação forte na análise de risco de quase todos os produtos de crédito."

Mas não é preciso mudar de casa para aumentar a chance de obter financiamentos. "O assalariado registrado do Jabaquara apresenta risco menor no crédito que o trabalhador informal da Lapa [região com menor percentual de inadimplentes]", diz o especialista.

Calote democrático

Marcel Solimeo, economista-chefe da ACSP, defende a tese de que o calote é democrático e atinge todas as classes sociais da mesma forma, proporcionalmente ao volume de crédito que elas obtêm. "Classes A e B se endividam menos e têm reservas que permitem cobrir as dívidas. Mas a inadimplência é proporcional à participação no crédito", afirma.

O que muda, diz Solimeo, é o valor da dívida. Quanto maior a renda da pessoa, maior o valor dos bens que ela adquire e, portanto, maior também é o valor da dívida registrada após a inadimplência. "Geralmente a pessoa se endivida proporcionalmente à sua renda."

Por isso, segundo ele, que a distrital de Pinheiros da ACSP tem o maior valor de dívida per capita. A região tem o segundo menor percentual de inadimplentes da cidade --4,6% da população--, mas a média da dívida de cada um dos 12.051 registros é de R$ 3.803,11.

"Era de esperar que locais que tivessem maior renda tivessem um débito per capita maior. O banqueiro e o financeiro vão liberar mais crédito onde há maior possibilidade de receber o dinheiro de volta", afirma Istvan Karoly Kasznar, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento) e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Desemprego

Solimeo também afirma que o comportamento do inadimplente e as causas da dívida são os mesmos, independente da classe social. Assim, o desemprego é sempre responsável por aproximadamente metade das dívidas registradas no SCPC tanto dos mais pobres como dos mais ricos. O descontrole de gastos vem em segundo lugar, com cerca de 15%. O terceiro e mais curioso fator é "emprestar o nome" para um amigo ou familiar para fazer empréstimo ou financiamento.

"Fizemos uma campanha que tinha o slogan 'Seu nome é seu maior patrimônio'. Se a pessoa precisa de um nome emprestado é porque o nome dela está sujo. Eu sempre digo: se ele não se importou com o nome dele, vai se importar com o seu?", disse Solimeo.

A crise financeira que começou no fim do ano passado não mudou muito o panorama da inadimplência em São Paulo, segundo o economista-chefe da ACSP. As regiões com maior e menor percentual de devedores continuam as mesmas nos últimos anos, assim como os locais com maiores dívidas per capita. O que mudou no último ano foi que houve um aumento no valor médio das dívidas.
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