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Notícias / Meio Ambiente

Greenpeace critica Brasil por investir em energia nuclear

Agência Lusa

A energia nuclear é um investimento "burro", caminha na "contramão" do desenvolvimento sustentável, além de ser "incapaz" de combater os efeitos do aquecimento global, disse o ativista do Greenpeace André Amaral, que considera um equívoco o governo brasileiro dar prioridade à geração eletronuclear.

"Somos contra a implantação das centrais nucleares. Não vai ser efetivo para o Brasil cumprir seus compromissos globais", destacou Amaral, que é biólogo e coordena a campanha de energia nuclear da ONG no Brasil.

O ativista considera "um erro" o governo colocar a geração nuclear dentro das metas de Copenhague para a discussão das mudanças climáticas: "A energia nuclear nunca deixou de ser suja".

Ele conversou com a Agência Lusa paralelamente ao maior evento nuclear da América Latina, que acontece nesta semana no Rio de Janeiro, e aproveitou para rebater o argumento de que a energia nuclear é limpa, afirmando que isso "é um lobby feito pela indústria nuclear que propaga a sua suposta renascença".

A favor

Já o presidente da (Aben) Associação Brasileira de Energia Nuclear, Guilherme Camargo, rejeitou a visão do ambientalista e afirmou que esse recurso energético não só pode servir para combater o aquecimento global como também seria uma alternativa à crise financeira.

"A energia nuclear está para ganhar um novo interesse. Hoje se fala no seu renascimento para a geração de energia elétrica, pois uma usina nuclear não emite efluentes líquidos ou gasosos para o meio ambiente e não emite gases de efeito estufa", argumentou.

Camargo defendeu a tese de que a energia nuclear faz parte da relação de medidas anticíclicas que atuam como "motor para vencer a crise econômica", com investimentos em infraestruturas e geração de empregos qualificados. 

Na reunião sobre o clima que será realizada em dezembro na Dinamarca, o presidente da Aben disse acreditar ser inevitável a discussão do tema nuclear: "Não há como atingir as metas que estão a ser propostas (para a redução da emissão de gases de efeito estufa) sem geração nucleoelétrica".

O ativista do Greenpeace, porém, afirmou que a alegação de que este tipo de energia pode ser usado como alternativa ao aquecimento global é "uma grande mentira".

Ao se posicionar contra a construção da usina de Angra 3, no Rio de Janeiro, e das futuras centrais nucleares no Nordeste e Sudeste, Amaral lembrou ainda que a energia nuclear continua a ser um fator de instabilidade nas relações internacionais no que diz respeito à proliferação de armas nucleares em países como Irã e Coreia do Norte.

Já o presidente da Aben qualificou este pensamento de "em desuso e totalmente fora de moda".

Lixo sem tratar

"Enquanto os governos têm uma meia-vida de dois anos, o urânio tem uma meia-vida de um bilhão de anos e a política energética tem uma meia-vida de centenas de anos", ressaltou.

O ativista do Greenpeace afirmou que mais usinas nucleares significam mais lixo radioativo e lembrou que ainda não existem depósitos ou formas de tratar os dejetos das centrais.

Segundo ele, a indústria nuclear está "relutante" em lidar com a questão do lixo radioativo. "Até hoje, nada foi feito sobre o estoque do lixo. É arriscado, inseguro e ainda é um problema sem solução para as outras gerações".

Para Amaral, investir em energia nuclear significa apostar em um futuro incerto. "Não temos mais tempo para isso", acrescentou.
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