Os resultados do primeiro turno das eleições municipais em Cuiabá e Várzea Grande continuam repercutindo, mesmo uma semana após o fechamento das urnas. As derrotas de Eduardo Botelho (UNIÃO) e Kalil Baracat (MDB), que eram favoritos para as prefeituras de Cuiabá e Várzea Grande, respectivamente, não foram previstas pelos institutos de pesquisa. Qual a explicação para isso?
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Olhar Direto entrevistou dois consultores de diferentes institutos de pesquisa, que foram unânimes ao admitir que houve erros nas previsões dos respectivos institutos. Além disso, destacaram que Botelho não conseguiu se manter na dianteira diante da polarização entre Lúdio Cabral (PT) e Abilio Brunini (PL).
Eduardo Botelho não avançou para o segundo turno, apesar de a maioria das pesquisas indicar que ele lideraria o primeiro turno. Ele ficou em terceiro lugar, com 88.977 votos (27,77% dos votos válidos), atrás de Abilio com 126.944 votos (39,61%) e de Lúdio, que recebeu 90.719 votos (28,31%).
Em Várzea Grande, Kalil Baracat (MDB) liderava com folga, mas foi surpreendido por uma reviravolta histórica de Flávia Moretti (PL), que obteve 68.760 votos, correspondendo a 50,54% dos votos válidos. O candidato do MDB alcançou 61.005 votos e 44,84% dos votos válidos.
“Os institutos erraram sim. Precisamos admitir. Erraram quando nós não conseguimos captar essa mudança que a rede social provocou nas últimas 72 horas”, diz Gonçalo de Barros, consultor da MT Dados.
De acordo com Gonçalo, a reviravolta em desfavor de Botelho teve início na terça-feira, ganhou força com o debate da TV Centro América na quinta-feira e foi efetivada no domingo da eleição. "As pesquisas não conseguiram captar essa mudança de trajetória”, diz
Ele também mencionou que a polarização entre petistas e bolsonaristas “encaixotou” Botelho, enquanto Abilio e Lúdio “guerrilhavam” entre si. Como exemplo, ele citou o número de abstenções e disse que os eleitores de Abilio e Lúdio foram votar no domingo como se estivessem em uma guerra, ao contrário dos apoiadores de Botelho, que não demonstraram a mesma mobilização.
“Na guerra ideológica entre as extremidades, eles [eleitores ideológicos] vão votar. 103 mil eleitores não foram às urnas votar. Mas os ideológicos da direita e da esquerda, para eles, era uma guerra. Eles foram votar”, contou.
“Havia uma tendência de votar no Botelho, mas foi mudando. Havia uma expectativa muito grande de que o Botelho já estava no segundo turno. É isso que está aí [abstenção], parte desses 103 mil [eleitores] que não compareceram para votar, certamente a grande maioria tendia a votar no Botelho”, opinou. “Eles não estavam na bolha, nas ondas ideológicas que surgiram nas últimas 72 horas”.
Em Várzea Grande, Gonçalo comentou que o movimento foi semelhante, comentado sobre a influência do bolsonarismo. Ele lembrou a última pesquisa da MT Dados na cidade, em julho. “Naquela oportunidade, o Kalil era amplo favorito, ele tinha uma larga vantagem de 50% a 14%. Existiu também e a gente tem que reconhecer que a questão ideológica do Bolsonaro falou alto no estado todo. Você tem que reconhecer que a direita está na frente na questão das redes sociais. E as redes sociais são o grande mote das eleições. É o grande trunfo que cada lado tem”.
Segundo Gonçalo, o cresciemtno de Moretti nos últimos 10 dias de campanha foi algo assombroso. Ele comenta que a onda ideológica pode ter interferido na subida da candidata liberal.
Percent Brasil
Ronye Steffan, pesquisador sênior analista do Instituto Percent Brasil, também afirmou à reportagem que havia uma tendência de queda de Botelho e crescente de Abilio na reta final da campanha. Contudo, diz ele, isso passou despercebido pela campanha.
“O último monitoramento nosso nós não conseguimos identificar essa virada, essa ascensão, ou seja, a queda do Botelho e a ascensão do Abílio, que eu acredito que foi de última hora e já quase nas urnas”.
Ele diz que a dificuldade de detectar essa mudança aconteceu principalmente nas regiões periféricas, onde acreditava-se que Botelho estava numa situação confortável por conta dos vereadores que o apoiavam.
O analista apontou que a polarização entre esquerda e direita interferiu no resultado, o que surpreendeu o próprio instituto. “Houve também uma questão em relação ao resultado, que foi essa polarização ideológica, essa disputa entre direita e esquerda. Mas também não pensávamos que iam atribuir isso totalmente ao Abílio e ao Lúdio e deixar o Botelho de fora.
Na avaliação de Ronye, a amostragem tem se mostrado insuficiente. Segundo ele, o número de amostras das pesquisas varia entre 600 a 1200 e abrange aproximadamente 120 bairros. Atualmente, Cuiabá possui mais de 300 bairros. O ideal, segundo ele, seria de 5 mil a 10 mil pessoas sentadas.
“Geralmente a amostra é representativa. Esse fenômeno da polarização entre direita e esquerda fez o resultado realmente estremecer e alterar [o resultado]”, contou. “Outros fatores também que a gente atribui a essa derrota da Botelho, que é essa falta de coordenação dos cabos eleitorais, deixar isso aí para os vereadores”.
Em Várzea Grande, o analista mencionou que havia um receio da população em se identificar nas pesquisas. Aqueles que concordavam em responder frequentemente afirmavam que votariam em Kalil. Contudo, ele ressaltou que existia um temor em responder às questões e de afirmar que votavam em Flávia Moretti.
Questionado sobre o motivo dessa discrepância nos números, Ronye destacou que é preciso haver uma atualização dos modelos de pesquisa e adequação às novas ferramentas, principalmente à internet e às redes sociais.
“A gente tem que adequar essas formas digitais. Porque dessa forma a gente consegue atingir uma massa muito grande. E nessa massa a gente consegue fazer as ponderações e equilibrar dentro dos parâmetros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) existe. Temos que adotar essa fase, ou essa forma híbrida”.
O presidente declarou que um modelo híbrido será testado já em uma pesquisa para o segundo turno das eleições em Cuiabá na próxima semana. A pesquisa contará com a participação de 2.500 entrevistados presencialmente e outros 2.500 por meio de formulários online.
Segundo ele, essa abordagem tem como objetivo aprimorar a coleta de dados. A pesquisa on-line será feita por formulários via Instagram, WhatsApp, Facebook e e-mail, através de formulários que serão disparados para eleitores de todas as regiões da capital.
“Estamos preparando uma pesquisa pro dia 17 ao dia 20 onde vamos fazer uma coleta de 5 mil entrevistas, 2.500 de forma presencial e 2.500 de forma híbrida. Esses dados vão ser ponderados, analisados e calibrados”.
“Dentro desses dados a gente vai trabalhar essas informações para identificar se quem responde é realmente eleitor, se tá dentro do perímetro urbano de Cuiabá, se está condizente com as respostas, alinhado. Ele [eleitor que responder ao questionário está] sendo comparado, voto, rejeição de forma adequada, porque a gente tem um nível também de aplicação”, completou.