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Brasileiro não sabe escovar os dentes nem usar fio dental corretamente

R7

Você sabe escovar os dentes? Usa fio dental todos os dias? Faz a limpeza bucal ao menos três vezes por dia? A grande maioria da população pode até dizer que sim, mas de acordo com um levantamento feito pelo Ministério da Saúde, em 2003, em parceria com as secretarias estaduais e municipais de saúde, universidades, CFO (Conselho Federal de Odontologia) e ABO (Associação Brasileira de Odontologia), a situação é bastante preocupante.

Foram examinadas 108.921 pessoas durante pouco mais de um ano, entre adultos e crianças, das cinco regiões do país. E diante dos resultados, o governo lançou o Programa Brasil Sorridente, que pretende ampliar o atendimento odontológico gratuito em todo o país.

Quase 27% das crianças entre 18 e 36 meses apresentaram ao menos uma cárie, e nas crianças até cinco anos esse índice sobe para 60%. Entre os adolescentes a situação é ainda pior. Apenas 55% possuem todos os dentes e 2,5 milhões de jovens nunca foram ao dentista.

E ao chegar à idade adulta, o problema se agrava. Mais de 28% não possuem mais seus próprios dentes em uma das arcadas – ou já foram arrancados ou estão com os dias contados. A gengiva é outro fator de preocupação. Menos de 22% da população adulta e menos de 8% dos idosos apresentam gengivas saudáveis.

Todos esses problemas poderiam ser facilmente evitados se, para começar, as pessoas escovassem corretamente os dentes. Além, é claro, de visitar o dentista pelo menos uma vez por ano. Procurar o profissional só quando a dor surge pode ser tarde demais: os dentes podem estar bastante comprometidos.

A cárie é a principal vilã da saúde bucal. Ela é conseqüência dos restos de alimentos depositados nos dentes e da falta da higiene bucal, que acabam formando a placa bacteriana. O ácido resultante dessa combinação é que forma a cárie. Portanto, quando os dentistas recomendam escovar os dentes depois de cada refeição e sempre que comer doce, não é exagero profissional.

A cárie aparece inicialmente na forma de uma mancha branca no esmalte do dente. Se não for tratada, ela perfura o dente, atinge a dentina e passa a provocar dor. O próximo passo é atingir o nervo e, aí sim, a situação é grave, pois isso pode ocasionar a destruição do dente. E adeus sorriso bonito.

A placa bacteriana também pode provocar doenças na gengiva, entre elas a gengivite, caracterizada por inflamação e sangramento espontâneo. Em seu estágio inicial, a placa é mole, facilmente retirada com o uso do fio dental. Depois de endurecer, só o dentista pode removê-la.

Para Norberto Lubiana, presidente da ABO (Associação Brasileira de Odontologia), “é preciso orientação permanente para que as pessoas percebam a necessidade e a importância de manter a saúde da boca em boas condições”.

Se não tratada, a cárie pode causar outros problemas de saúde

Norberto Lubiana, presidente da ABO, diz ainda que uma simples cárie pode se transformar em um grave problema de saúde, afetando até mesmo outras partes do corpo.
- As bactérias encontradas nas placas formadas nos dentes causam sangramento. O sangue que passa pela boca é o mesmo que circula em todo o corpo, por isso não é raro que essas bactérias se alojem no coração, nas articulações e possam, até mesmo, causar uma septicemia [infecção generalizada].

Além disso, a perda dos dentes pode modificar toda a estrutura facial, provocando a perda do equilíbrio muscular e causando uma série de incômodos. Entre eles, dores de ouvido, de cabeça, bruxismo (ranger os dentes), estresse e até problemas na coluna.

Cuidado com a saúde bucal deve começar assim que o bebê nasce

Para os dentistas, a prática da escovação e da limpeza dos dentes e da boca deve começar ainda na infância. As mães devem higienizar a boca do bebê mesmo que ele ainda não tenha dente. Mas para Amália Rodrigues Martins, membro da Academia Brasileira de Odontologia, os cuidados com a saúde da boca devem começar antes, ainda na barriga.

- As mães devem tratar possíveis cáries ainda durante a gestação. Pois logo que nascem, até os dois anos, a criança tem mais chance de entrar em contato com as bactérias que causam cárie. Elas ficam de prontidão e quando os primeiros dentes começam a nascer, atacam.

Por isso, provar ou assoprar a sopinha do bebê, dar beijos próximos da boquinha dele e compartilhar os mesmos talheres são proibidos em qualquer circunstância. Outra prática muito comum entre as mães, e abominada pelos dentistas, é a alimentação noturna a partir de um ano.
- Durante a noite a nossa salivação diminui muito, e isso propicia uma maior proliferação das bactérias. Mamadeiras durante a madrugada estão fora de cogitação.

A limpeza deve ser tão minuciosa quanto a dos adultos, mesmo quando o bebê ainda não tem dente. Nesse caso, a mãe deve passar uma gaze embebida em água filtrada depois de cada mamada.

Assim que nascerem os primeiros dentinhos, deve ser usada uma escova específica para a idade e um creme dental sem flúor – como a criança é pequena, ela acaba engolindo a pasta de dente, e o flúor em excesso pode manchar os dentes. Após os seis anos, a criança já pode usar o flúor, mas sob a supervisão de um adulto. Amália diz também que o fio dental deve ser usado desde o nascimento dos primeiros dentes.
- E os pais devem sempre escovar os dentes na frente dos filhos, para mostrar que isso é um hábito gostoso e saudável. É preciso dar o exemplo.

Brasileiro não troca de escova de dente

A recomendação dos dentistas é para que as pessoas troquem suas escovas de dente a cada três meses em média – ou menos em caso de ficar doente. Mas não é o que acontece, mesmo entre a população que costuma cuidar bem de seus dentes.

De acordo com dados de 2008 da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), o Brasil é segundo maior mercado de produtos de higiene oral do mundo, com uma participação de 9,2%. Perde apenas para os Estados Unidos, que correspondem a 16,2%.
Por outro lado, no mesmo ano, foram comercializadas no país cerca de 300 milhões de escovas de dente, o equivalente a 1,6 escova per capita, ou seja, durante um ano quase não houve troca de escovas.
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