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Notícias / Educação

Advogado de aluna expulsa da Uniban afirma que não houve direito de defesa

Folha Online

Os advogados da universitária Geisy Arrua, 20, expulsa da Uniban neste fim de semana após ser hostilizada por usar um vestido curto, afirmaram nesta segunda-feira que o direito de defesa da cliente foi cerceado durante a sindicância aberta para apurar o acontecimento do dia 22 de outubro.

Segundo Nehemias Melo, "a sindicância mostrou a todo tempo que o objetivo era encontrar um culpado, que era a Geisy". Ele afirma não ter tido acesso aos depoimentos dos alunos ouvidos na sindicância, que comparou a um "tribunal nazista que transformou a vítima em algoz".

O assistente jurídico da Uniban, Décio Lencioni Machado, disse à Folha que a universidade deu à estudante direito de defesa, mas que ela não quis indicar pessoas que pudessem defendê-la.

Geisy disse que, ao contrário do que afirma a universidade, nunca havia sido advertida sobre o modo que se vestia. No anúncio publicado em jornais de São Paulo em que comunicou a expulsão, a Uniban afirma que a aluna frequentava a unidade com trajes inadequados "indicando uma postura incompatível com o ambiente" e que chegou a ser alertada sobre o assunto, mas não mudou o comportamento.

"Nunca, de forma alguma. Se tivesse sido advertida, teria indo embora na hora", disse. Geisy também negou ter puxado o vestido e posado para fotos no dia do acontecimento.

Os advogados também indicaram as medidas que tomarão nos próximos dias contra a decisão da universidade, além do pedido de abertura do inquérito policial. O inquérito vai investigar se houve a prática dos seguintes crimes: difamação, injúria, ameaça, constrangimento ilegal, cárcere privado, ato obsceno e incitação ao crime.

A Assembleia Legislativa de São Paulo foi procurada para que fosse protocolado um requerimento para que o reitor da Uniban prestasse depoimento na Comissão de Educação da Casa. Eles prometem também procurar o Ministério Público para que a Promotoria investigue se houve violação dos direitos humanos no dia do acontecimento.

Além do processo por danos morais que a defesa elabora desde a semana passada, o escritório dos advogados também deve entrar com um processo contra a Uniban por causa da informação de que os honorários seriam pagos por uma emissora de TV --o que é negado.

Culpada

Os advogados também afirmaram que vão entrar na Justiça ainda nesta semana com um pedido para que Geisy consiga concluir o semestre acadêmico, que deve terminar em duas semanas. Eles afirmam que se for mantida a expulsão, a estudante perde o semestre todo e não tem direito a pedir transferência para outra instituição.

"Eu não quero afrontar ninguém. Não quero causar nenhum constrangimento. Se for necessário, eu nem desço na hora do intervalo. Eu só quero estudar", disse.

Geisy afirma que vai começar um tratamento psicológico nos próximos dias. "Eu saio nas ruas e algumas pessoas me apoiam, mas outras falam 'olha lá, aquela...' e completam com aquilo que me chamaram. As pessoas me ofendem e nem me conhecem. Eu me sentia a culpada. Eu me sentia o problema. Eu me sentia um lixo. Mas só me senti assim porque fizeram eu me sentir a culpada."
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