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Lula diz a assessores que sistema elétrico não é totalmente perfeito

Folha de S.Paulo

"Não tem hora, me liga." Com essa frase, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ao diretor-presidente de Itaipu Binacional, Jorge Samek, que fosse informado caso houvesse um problema grave em relação ao apagão. A conversa por telefone aconteceu pouco depois da meia noite, quando Lula foi informado que uma das linhas de transmissão já havia sido restabelecida.

Segundo a Folha apurou, Lula reclamou anteontem com assessores, logo após ser informado do apagão, que sempre ouviu de sua equipe que o setor elétrico era seguro e dotado de sistema de emergência para casos de panes ou acidentes.

Nas conversas, o presidente disse que o apagão mostrava que o sistema elétrico não é tão perfeito assim e que era necessário checar por que ele não estava protegido. Avaliou ainda que ele demorou muito para voltar ao normal.

Durante a conversa com Lula, Samek procurou tranquilizar o chefe dizendo que o sistema estaria restabelecido no dia seguinte pela manhã. "Não vai ter problema de energia, porque as [usinas] térmicas não estão ligadas. Basta ligá-las", disse ao presidente.

Naquele momento, o dirigente de Itaipu, que havia recebido um primeiro telefonema de Lula por volta das 23h, avaliava que a hidrelétrica deveria voltar a operar com três ou quatro linhas de transmissão e que as termoelétricas iriam suprir a ausência das linhas que ficariam fora de operação.

Samek voltou a ligar para o presidente às 7h30, já com a informação de que todo sistema havia sido restabelecido, com todas as linhas voltando a operar. "Não quis acordá-lo quando tudo voltou ao normal às 5h15. O problema mais grave estava solucionado. Agora, precisamos descobrir o que aconteceu de fato."

Na última conversa, Lula repetiu a Samek a mesma queixa que havia feito horas antes a assessores. "O presidente ficou satisfeito ao ouvir que o sistema tinha voltado ao normal, mas se queixou: 'Vocês vivem dizendo que se uma linha cair, outra entra em funcionamento, que o sistema é seguro. O que aconteceu?'".

Desde o início do governo, Lula sempre procurou dar uma atenção especial ao setor elétrico, diante do temor de repetir em seu mandato o racionamento de energia elétrica no período tucano.

Foi esse um dos motivos que levou Lula a recusar entregar, no início do primeiro mandato, o comando do Ministério de Minas e Energia ao PMDB. O ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) chegou a fechar acordo nesse sentido com os peemedebistas, mas Lula rompeu o acerto e indicou Dilma Rousseff para a área.

Samek procurou explicar o que havia acontecido ao presidente, mas admitiu que era preciso investigar a origem da falha, que até aquele momento não estava esclarecida. O dirigente de Itaipu disse a Lula que, se o mesmo incidente tivesse ocorrido em outra usina, o problema talvez nem fosse sentido no país.

"No caso de Itaipu, as linhas de transmissão caíram, fazendo a usina parar de gerar energia por segurança. Saíram de uma vez do sistema 14 mil megawatts, suficientes para abastecer São Paulo. Foi uma batida de frente, não foi uma batidinha lateral", afirmou à Folha.

À frente do cargo desde o início do governo Lula e indicado para o posto pelo próprio presidente, Samek, amigo do presidente, disse não ter dormido na madrugada de ontem. Segundo ele, a primeira hipótese era que uma ou duas linhas de transmissão haviam sofrido sérias avarias ou mesmo caído por conta de tempestades.

"Foi uma festa quando ouvimos a ordem do ONS (Operador Nacional de Sistema) para fazer a geração de carga total. Estávamos trabalhando com a hipótese de voltar a operar com três ou quatro linhas somente. Quando recebemos a ordem, tivemos a certeza de que não havia avarias sérias em todas as linhas", disse Samek.

O dirigente de Itaipu afirmou que ficou sabendo do problema logo quando ocorreu, às 22h13 de terça-feira. A surpresa negativa, segundo ele, foi que desta vez todas as cinco linhas de transmissão haviam caído. "Derrubou tudo de uma vez. A queda de linhas de transmissão é algo que acontece, já caiu várias vezes, mas no máximo duas. Aí fica mais fácil. Diminui metade da energia e você pode ir suprindo aos poucos, sem causar problemas."

Segundo ele, o presidente Lula foi quem ligou pela primeira vez, por volta das 23h, para saber o que acontecia. Disse que estava acabando uma reunião sobre pré-sal e pediu que em 40 minutos ele entrasse em contato com informações mais seguras.

Quando Samek ligou de volta, depois de meia-noite, Lula já estava no Palácio da Alvorada. Ele informou, então, que uma das linhas já havia sido restabelecida e que até as 6h todo sistema deveria voltar ao normal, com a ajuda das termelétricas --que acabaram não sendo acionadas.
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