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"É mais fácil presidir a Petrobras", diz favorito a dirigir PT

Reuters

O PT vai às urnas no próximo domingo e entrega a um novo presidente interno a missão de preparar o partido para a disputa pela sucessão presidencial de 2010, na primeira eleição em 21 anos sem a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ex-presidente da Petrobras e da BR Distribuidora, José Eduardo Dutra conta com o apoio de Lula e é o favorito na disputa. Outros cinco nomes concorrem à sucessão do deputado Ricardo Berzoini (SP), representando as diversas tendências que se abrigam na legenda.

"Presidir o PT é mais difícil que presidir a Petrobras. A Petrobras é profissionalizada, não tem disputa de tendências", disse Dutra à Reuters.

Ainda com imagem abalada pelo escândalo do mensalão de quatro anos atrás e criticado pela obediência sistemática ao presidente Lula, o PT estará à frente das articulações com as siglas aliadas para compor a candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). O alvo são as 15 legendas que apoiam o governo Lula, mas que não necessariamente estarão ao lado da pré-candidata.

"Vamos repetir a mesma base de apoio do Congresso", aposta Dutra. "A tarefa imediata da nova direção é debater com PMDB e PSB as divergências locais", admitiu, citando siglas que têm algum tipo de resistência à união com o PT.

Ressalvando que ainda não participa das negociações, Dutra disse que não cabe ao PT fazer juízo de valor sobre o PMDB, legenda considerada fisiológica e de práticas arcaicas e que será o principal aliado no ano que vem.

"Temos que respeitar o povo, que fez o PMDB assim. Queremos ter aliança pela capilaridade e pelo tempo de TV", declarou.

Questionado sobre posições como esta em relação ao PMDB, que já foram combatidas pelo PT no passado, Dutra não se abalou: "Ninguém faz política sem boa dose de pragmatismo. Quem está na política não pode ficar no principismo".

Quanto à candidata Dilma, escolha pessoal de Lula, Dutra disse que ela conquistou seu espaço no PT e está credenciada a disputar a eleição com pleno apoio da legenda.

Depois de chefiar a principal estatal do país, Dutra, ex-senador e ex-sindicalista de 52 anos, acredita na função do Estado como indutor e regulador da economia. "Quem acendia velas para o deus mercado viu que esse tipo de modelo econômico faliu com a crise", afirmou, defendendo a presença de estatais de porte, como a Petrobras e a BR.

Apesar da declaração de Dutra sobre a dificuldade de lidar com as tendências do partido, o cientista político Darlan Montenegro, que recentemente defendeu tese de doutorado pelo Iuperj sobre o processo de construção do PT, acredita em sua liderança.

"Dutra tem uma visão mais ampla e bastante trânsito com o conjunto das correntes", afirmou o estudioso, para quem Dutra estará no lugar certo no ano que vem.

Geólogo e vindo das estatais do petróleo, ele combina com um dos temas principais da futura campanha eleitoral, que são as reservas de petróleo do pré-sal.

Para Montenegro, o PT "preservou sua força" mesmo após o escândalo do mensalão, prática de pagamento para aliados em troca de apoio.

A chapa que sustenta Dutra tem vários petistas vinculados ao escândalo. O candidato saiu em defesa dos colegas. Para ele, o ex-ministro José Dirceu, os deputados José Genoino, José Paulo Cunha e José Mentor "estão no gozo de seus direitos partidários". A julgar pelo número de filiados, o escândalo pouco influenciou a atração pela legenda. São 1,350 milhão agora, frente a 850 mil há dois anos.

A candidatura de Dutra leva vantagem não só por representar a ala Construindo Um Novo Brasil, majoritária, mas por reunir duas outras tendências fortes, ambas ligadas à ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT de Luta e de Massas e Novos Rumos). No total, elas representaram 60 por cento dos votos da eleição de 2007.

Os outros candidatos, mais à esquerda, são os deputados José Eduardo Cardozo (Mensagem ao Partido e Democracia Socialista), Geraldo Magela (Movimento PT), e Iriny Lopes (Articulação de Esquerda e Militância Socialista), além de Serge Goulart (Esquerda Marxista) e Markus Sokol (O Trabalho).

Mesmo que não saiam vencedoras, essas correntes acabam por abocanhar postos na direção partidária. Está previsto segundo turno em dezembro se o candidato mais votado não atingir 50 por cento mais um. A posse será em fevereiro.
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