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Notícias / Ciência & Saúde

EUA mudam diretriz de câncer de colo de útero

Folha de S. Paulo

O exame papanicolaou, que detecta o câncer de colo de útero, só deve ser feito em mulheres após os 21 anos de idade e com uma frequência menor, diz uma nova diretriz do conselho americano de obstetrícia e ginecologia. A mudança acontece na esteira da nova recomendação que causou polêmica ao adiar a idade mínima para a realização de mamografias.

As orientações anteriores previam a realização do papanicolaou três anos após a primeira relação sexual ou aos 21 anos (o que ocorresse primeiro) e sugeriam a realização de testes anuais. Segundo as novas recomendações, mulheres com menos de 30 anos devem realizar o exame a cada dois anos e as com 30 anos ou mais podem passar a realizar o exame a cada três anos, desde que os últimos três testes não tenham indicado a presença de câncer.

Arte Folha

Mulheres em grupos de risco podem precisar fazer o exame com mais frequência. Já as de 65 anos ou mais podem deixar de fazê-lo desde que os resultados anteriores não tenham detectado sinais da doença.

"Uma revisão dos dados mostrou que fazer exames com um intervalo menos frequente previne o câncer da mesma forma, reduz custos e evita intervenções desnecessárias que podem causar danos", afirma Alan Waxman, coordenador do estudo que resultou na mudança de recomendações.

A maioria dos casos de câncer de colo de útero são causados pelo vírus HPV. O câncer entre jovens com menos de 21 anos é raro porque o sistema imunológico se encarrega de combater a infecção em um período de um a dois anos.

Além disso, os autores afirmam que a realização frequente do exame pode machucar o útero e causar problemas na gravidez, como parto prematuro e maior risco de cesariana.

A Sociedade Americana de Câncer apoiou a mudança e diz que pretende revisar suas próprias recomendações no próximo ano, mas ressalta que o intervalo maior não significa abandonar de vez o exame. "Um ponto essencial é que as mulheres que morrem de câncer de colo de útero nunca fizeram exames ou não fizeram exames em ao menos cinco anos", disse Debbie Saslow, diretora de câncer de mama e ginecológico da entidade.

Nos últimos 30 anos, a incidência de câncer de colo de útero nos EUA caiu em mais de 50%. A Sociedade Americana de Câncer estima que neste ano ocorrerão 11.270 novos casos, com 4.070 mortes em decorrência da doença.

As novas regras foram divulgadas na mesma semana que a US Preventive Services Task Force passou a recomendar que as mulheres só fizessem exames de mamografia a partir dos 50 anos. A polêmica em torno do assunto foi de tal ordem que a Casa Branca anunciou que a recomendação do grupo de especialistas não representava uma política de governo.

A revisão das recomendações médicas ocorre no momento em que o país discute a reforma do sistema de saúde, debatendo gastos e novas regras.

Inca

No Brasil, o Inca (Instituto Nacional de Câncer) recomenda a realização periódica do exame a partir do início da vida sexual, principalmente na faixa dos 25 aos 59 anos.

Para Nilson Roberto de Melo, presidente da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), as novas recomendações fazem sentido em países como os EUA, onde a incidência de câncer de colo de útero já diminuiu significativamente. Aqui, segundo ele, a incidência ainda é muito grande. "É o segundo câncer ginecológico mais frequente no Brasil em geral e, em algumas regiões, como o Nordeste, é o mais frequente", afirma Melo. Ele considera o papanicolaou um teste barato, fácil de ser realizado e pouco invasivo. O exame permite o diagnóstico muito precoce de lesões cervicais. Quando tratadas em estágio inicial, é possível evitar o desenvolvimento do câncer.
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