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Advogado diz que Battisti mantém greve de fome em protesto à retaliação da Itália

Folha Online

O terrorista italiano Cesare Battisti completou nesta segunda-feira 10 dias de greve de fome. Preso no presídio da Papuda, em Brasília, Battisti recebeu a visita de seu advogado Luis Roberto Barroso. Na conversa, o italiano disse que ainda não tem data para decidir sobre o fim da greve de fome e que tomou essa postura em protesto ao que chamou de "retaliação tardia e injusta do governo italiano".

Barroso disse que Battisti está "abatido, perdeu peso, apresenta alguma fraqueza, mas ainda está lúcido". Segundo o advogado, o italiano afirmou que não está em greve de fome para sensibilizar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva que dará a palavra final sobre a sua extradição.

"Ele me disse que a greve de fome não é dirigida ao presidente Lula, mas que foi a única forma de expressar seu protesto contra a Itália que 30 anos depois continua o perseguindo politicamente. Para ele, essa greve de fome é um protesto sofrido e silencioso por essa retaliação tardia e injusta do governo italiano", afirmou.

Battisti parou de alimentar-se no dia 13 para tentar chamar atenção dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que analisavam seu caso e, agora, a do presidente Lula na tentativa de defender a manutenção de seu refúgio no país.

Com o apelo do presidente Lula para que ele volte a se alimentar, Battisti pretende discutir a ideia com grupos que em seu apoio também entraram em greve de fome. Antes, Battisti tinha dito que pretendia continuar em greve até a morte, caso o presidente Lula decida enviá-lo para a Itália.

"Battisti me disse que iria submeter essa ideia às pessoas solidárias ao seu caso que também estão em greve [de fome]. Ele me pareceu sensível ao presidente Lula, mas quer falar com essas pessoas que estão compartilhando a sua dor", disse.

Barroso disse que orientou seu cliente a desistir da greve de fome. "Desde o início fui contrário a essa greve de fome, mas evidente que tomo decisões jurídicas e as pessoais são exclusivamente dele", afirmou.

A defesa vai esperar a publicação do acórdão, documento que oficializa a decisão do STF que autorizou a extradição e deixou nas mãos do presidente Lula a decisão final, para avaliar os próximos passos. Barroso disse, no entanto, que a decisão política de Lula será soberana.

"A decisão do STF foi claríssima: o STF por 5 votos contra 4, autorizou a extradição, reiterando o seu entendimento de que a palavra final deve ser dada por uma decisão política, discricionária do presidente Lula. Tudo que tinha para ser discutido já foi. Agora, resta a decisão política e soberana do presidente Lula ao tratado com a Itália que contempla diversas hipóteses para a recusa da extradição", disse.

Um grupo de parlamentares também tem se mobilizado para tentar convencer Battisti a parar com a greve de fome. Segundo o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que vai até o presídio na tarde de hoje, é preciso que Battisti esteja em plenas condições físicas para lutar por sua permanência no Brasil. "Está é uma situação grave e estamos preocupados. O próprio presidente Lula já fez um apelo para que ele volte a se alimentar", afirmou o petista.

O senador José Nery (PSOL-PA), que também acompanha o caso, marcou uma visitar para amanhã. Caso Suplicy não consiga convencer o italiano a retomar as alimentações, pretende fazer um novo apelo. "A greve de fome sensibiliza, mas não resolve o problema. Nós estamos conversando querendo conversar com o presidente Lula e ele já mostrou disposição em nos ouvir", disse.

Na sexta-feira, cerca de 20 senadores e deputados enviaram ao Palácio do Planalto uma carta pedindo para serem recebidos pelo presidente Lula com o objetivo de tentar convencê-lo a manter o italiano no país.

O grupo argumenta que Lula tem argumentos técnicos para manter o refúgio político a Battisti no Brasil. "Queremos apresentar ao presidente as razões jurídicas para a permanência de Battisti", disse Nery.

Ontem, Lula disse que já recebeu todos os palpites possíveis sobre o caso da extradição do italiano, mas que a decisão sobre o retorno ou não do terrorista para o país europeu será exclusivamente dele.

"Não comento Battisti porque não recebi sequer a decisão da Suprema Corte. Quando eu receber, eu vou tomar decisão, ou seja, todo mundo já deu palpite no caso Battisti. Agora, a decisão é minha na hora que eu tiver eu digo pra vocês", afirmou.

O caso da extradição do terrorista italiano só deve chegar à mesa do presidente em 2010. Lula só deve analisar o processo após a publicação do acórdão, que oficializa a decisão do STF e que pode levar até três meses para ficar pronto.
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