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Mesmo com carnaval, comerciantes do maior centro de artesanato de Salvador reclamam da crise

ABr

“Muita gente veio só olhar”. A reclamação é uma unanimidade entre os comerciantes de artesanato e produtos típicos da Bahia que trabalham no Mercado Modelo, um dos maiores centros de venda de artesanato do Brasil e passagem obrigatória de quem visita Salvador. O pré-carnaval, que em outros anos era sinônimo de boas vendas, em 2009, de acordo com os comerciantes, tem sido marcado por muita gente circulando, mas nada de compras.

Muitos apontam a crise financeira mundial como causa da diminuição das vendas. “O turista estrangeiro sumiu. Hoje, os brasileiros compram mais”, destaca Wellington Carvalho da Silva, 32 anos, que trabalha como vendedor do Mercado Modelo há 17 anos. “Cheguei garoto aqui”, comenta. “Antes, os turistas estrangeiros é que compravam mais. De cinco anos para cá, a maior parte das minhas vendas eu faço para brasileiros. Só que este ano está muito fraco, nem brasileiro está comprando”, reclamou o vendedor de instrumentos musicais e lembranças da Bahia.

"No ano passado, nesta época, eu não poderia nem estar conversando com você”, disse a vendedora Ana Maria de Jesus da Silva, que comercializa bordados, à reportagem da Agência Brasil. “O que vem movimentando o mercado são os navios, mas os turistas olham, olham, e reclamam que está caro”, destacou.

“Se cobro R$ 10 por uma boneca de barro, as pessoas reclamam”, disse Bruno Venâncio Reis, que trabalha na loja do pai, um antigo comerciante do mercado. Em 2008, a loja de bonecas de barro tinha três funcionárias a mais para dar conta do movimento. Neste ano, não contratou ninguém para o período carnavalesco e os três vendedores que se revezam no atendimento aos clientes passam longo tempo ociosos. Bruno tem esperanças de que o movimento volte a crescer na Quarta-Feira de Cinzas. “Durante os dias de carnaval, o mercado fica mais vazio. Na quarta-feira muita gente vem comprar as lembranças para a família, vêm muitos artistas, isso aqui fica movimentado”, disse.

Já a comerciante Diva Sampaio teme que até as vendas do mês de agosto fiquem comprometidas. “Em agosto, nosso movimento de turistas estrangeiros cresce, mas este ano, se continuar do jeito que está, acho que isso não vai acontecer”, destacou a vendedora que está no mercado há 14 anos.

O movimento maior em agosto é atribuído à Festa de Nossa Senhora da Boa Morte, no dia 29, na cidade de Cachoeira, região do Recôncavo Baiano. O município fica a 120 quilômetros de Salvador e tem uma presença muito forte de famílias de origem africana. A cidade tem como principal traço cultural o sincretismo religioso. “Muitos negros americanos vêm para essa festa. Negros que dão aula de candomblé. Eles movimentavam o mês de agosto aqui no mercado”, comentou Diva.

Os cruzeiros de turismo geralmente incluem no roteiro nos dias mais calmos da folia uma visita ao Mercado Modelo. De acordo com o Aníbal Passos Luz, que há 42 anos trabalha no mercado, é isso que vem salvando o movimento de pessoas no local, mas, em relação ao carnaval de 2008, ele se queixa de vender 45% a menos neste ano. Por semana, de acordo com Aníbal, três ou quatro navios aportam perto do mercado.

“As pessoas vêm mais para conhecer”, disse Aníbal, enquanto tocava seu pandeiro como forma de aguçar a curiosidade dos clientes. Sua loja, localizada bem na entrada do Mercado Modelo, é coberta até o teto de berimbaus, atabaques e mais duas dezenas de instrumentos típicos da cultura baiana.

O Mercado Modelo abriga 263 lojas de artesanato, presentes e lembranças da Bahia. Há também restaurantes tradicionais de culinária baiana, um com 80 anos de existência. Inaugurado em 1912, o mercado surgiu da necessidade de se ter um centro de abastecimento na Cidade Baixa de Salvador.

Localizado entre a Alfândega e o Largo da Conceição, o Mercado Modelo comercializava no início hortifrutigranjeiros, cereais, animais, charutos, cachaças e artigos para o candomblé. Suas mercadorias chegavam pela rampa do Mercado Modelo, antigo porto dos saveiros que atravessavam a Baía de Todos os Santos.

Pelo menos cinco incêndios atingiram o Mercado Modelo, mas o maior foi em 1969, que provocou a demolição do antigo imóvel. Em 1971, o mercado passou a ocupar o edifício da Terceira Alfândega de Salvador, uma construção de 1861 em estilo neoclássico, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
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