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Tempos Modernos" se inspira no pior da ficção científica

FolhaOnline

Tarefa difícil acompanhar um capítulo inteiro de "Tempos Modernos". A novela das sete de Bosco Brasil, que estreou na segunda na Globo, não consegue entrar nem naquela categoria espúria que abriga as coisas que, de tão ruins, chegam a ser boas. Ou pelo menos divertidas.

A trama é bastante primária, uma tradição em se tratando de novela das sete. Um magnata da construção civil, interpretado por Antonio Fagundes, quer lançar seu segundo prédio inteligente no centro de São Paulo, o Titã 2. Para isso, terá de desapropriar e demolir uma galeria de roqueiros, filmada na decadente Galeria do Rock (SP).

Contudo a ideia por trás dessa trama não é de todo ruim. O Titã é um misto dos prédios inteligentes de hoje com a visão de microcidade vertical colocada em prática por Oscar Niemeyer no edifício Copan. Fruto da utopia humanista dos anos 1950, o conceito do Copan de integrar comércio e apartamentos residenciais, acessível a pessoas de diferentes extratos sociais, é ainda atual. Ainda mais quando sobreposta à ideia de prédio inteligente.

O difícil é engolir a inteligência do Titã. Começando pelo supercomputador que controla todo o prédio. A julgar pelos primeiros capítulos, Frank --uma franca cópia do HAL 9000 de "2001, uma Odisseia no Espaço"-- talvez entre para a história como o mais burro dos computadores inteligentes. É capaz de avisar para Fagundes que sua filha irá ligar, mas não de monitorar a segurança, que faz corpo mole durante um resgate, nem de mostrar assassinato travestido de suicídio.

Frank parece mais preocupado em dar opiniões inúteis e servir como um espião de luxo para o magnata. E a interação entre os dois gera os momentos mais constrangedores dentro de um festival de diálogos infames. Esse talvez seja o principal problema da novela. A tentativa de emular o humor rápido das sitcoms naufraga por conta do texto duro, que faz com que mesmo bons atores percam o tempo da comédia.

Também muito difícil de ouvir é a língua falada pelos roqueiros da galeria. Uma mistura bisonha de todas as gírias paulistanas, totalmente fora de contexto, tá ligado, truta?

Se era para copiar clássicos da ficção científica, o autor podia se inspirar nos inovadores, dos livros de Jules Verne a "Star Trek". Em vez disso, recicla velhos conceitos e tenta encaixar um rei Lear capenga no pior da ficção dos anos 80.

TEMPOS MODERNOS Quando: seg. a sáb., às 19h10, na Globo
Classificação: livre
Avaliação: péssimo
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