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Bolivianos libertados recebiam R$ 0,50 por peça de roupa, diz polícia

G1

Os 14 bolivianos que foram libertados pela polícia em três oficinas clandestinas de confecção de roupas, no Bom Retiro, na região central, nesta segunda-feira (18), recebiam R$ 0,50 por peça de roupa produzida, de acordo com a delegada Maria Helena Tomita, titular da 3a Delegacia de Investigações sobre Infrações contra as Relações de Trabalho, contra Organização Sindical e Acidentes de Trabalho. E alguns deles foram aliciados na Bolívia pelos próprios parentes.

“Eles são aliciados com a promessa de que vão ganhar em dólar, mas já chegam devendo, porque os aliciadores descontam dos salários o transporte para o Brasil, alimentação e moradia. Por cada peça de roupa produzida, recebem apenas R$ 0,50 em média, uma peça que vai ser vendida por até R$ 10,00. No final do mês, recebiam de salário R$ 150”, afirmou a delegada.

Além disso, os bolivianos libertados viviam em péssimas condições de higiene, já que se alimentavam enquanto trabalhavam. De acordo com a delegada, as oficinas, localizadas em um prédio no número 316 da Rua Afonso Pena, não possuem alvará de funcionamento.

No local, três bolivianos – de 25, 29 e 31 anos - foram presos em flagrante acusados de aliciar e explorar mão de obra escrava de seus compatriotas. A polícia chegou até os suspeitos por meio de uma denúncia anônima. Na primeira oficina, foram libertados cinco trabalhadores, que cumpriam jornadas exaustivas de até 12 horas diárias, de acordo com a delegada; na segunda, três trabalhadores; e na terceira, quatro.

“Eles vão responder ao artigo 149, que trata de submeter pessoa à condição análoga à de escravo. Ficou evidenciado o cerceamento de liberdade e que cumpriam uma jornada exaustiva de trabalho. A pena prevista é de dois a oito anos de prisão. E um deles tem o agravante de que empregava um adolescente de 17 anos”, disse a delegada.

Apesar disso, os bolivianos declararam à polícia que não se consideram escravos. “Vários deles são parentes dos próprios aliciadores. Eles se sentem constrangidos em delatá-los. Mas o que caracteriza o crime é a jornada exaustiva de trabalho a que eles eram submetidos, sem qualquer direito trabalhista”, explicou.

Alguns dos bolivianos libertados pela polícia já tinham em mãos o protocolo de solicitação de visto de permanência no Brasil, de acordo com a delegada. Ao obterem o visto, os estrangeiros já têm direito a tirar a carteira de trabalho. “Não sabemos se eles serão mandados de volta para o seu país ou se permanecerão aqui”, finalizou Tomita.
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