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Haiti pode sofrer novo terremoto violento, afirmam especialistas

Terra

Um terremoto tão ou mais violento que o que devastou Porto Príncipe no último dia 12 ameaça a capital haitiana, advertiram os especialistas, insistindo na necessidade de reconstruir as infraestruturas da cidade segundo normas sísmicas rígidas, como as existentes no Japão ou na Califórnia, no oeste dos Estados Unidos.

O Haiti continuará por várias semanas exposto a um risco importante de fortes tremores secundários, um fenômeno normal depois de um terremoto e que vai diminuir com o tempo. O Instituto sismológico americano (USGS) avaliou quinta-feira em 25% a probabilidade de um ou mais tremores de magnitude 6 acontecerem durante este período.

O terremoto do dia 12, que matou pelo menos 111 mil pessoas, liberou grande parte da tensão acumulada nesta parte da falha Enriquillo. Porém, outra parte, localizada a leste do epicentro e diretamente adjacente a Porto Príncipe, pouco se mexeu, alertou o USGS. O instituto se baseia em medições preliminares de deformação do solo realizadas com radares e perspectivas aéreas.

De acordo com o USGS, esta parte da falha foi submetida ao mesmo acúmulo de tensão provocado pelo movimento das placas tectônicas da América do Norte e do Caribe, e pode liberar esta energia a qualquer momento. "Os tremores anteriores no mundo e a história sísmica do Haiti indicam que terremotos de alta magnitude podem se repetir no mesmo lugar em um curto espaço de tempo", disse David Schwartz, um especialista do USGS.

Ele citou o caso da Turquia em 1999, quando dois terremotos de magnitude superior a 7 foram registrados num intervalo de três meses. Para Schwartz, esse cenário pode se repetir em Porto Príncipe. "Nenhum de nós ficaria surpreso se isso acontecesse", afirmou.

A falha de Enriquillo ainda pode provocar um tremor de até 7,2 no Haiti, alertou Eric Calais, um sismólogo francês da Universidade de Purdue, no estado de Indiana, no norte dos Estados unidos. "Os tremores nesta região tendem a se repetir em sequência", disse, lembrando que, nos três últimos séculos, terremotos de magnitude comparável ou superior ao do dia 12 abalaram o Haiti pelo menos quatro vezes, entre eles os de 1751 e 1770.

"Como a região tem um passsado sísmico, é preciso reconstruir Porto Príncipe segundo normas sísmicas rígidas. O custo será mais elevado, mas é tecnicamente factível", afirmou Eric Calais. Uma avaliação exaustiva do risco sísmico no Haiti, o país mais pobre das Américas, e nas demais nações do Caribe, permitirá melhorar as normas de construção e edificar prédios resistentes aos terremotos, explicou o USGS.

Isso requer, porém, estudos geológicos aprofundados das falhas e do solo, e tais estudos costumam demorar vários anos, segundo o instituto.O Haiti foi negligenciado neste âmbito. Nos quinze últimos anos, somente duas equipes de geólogos e sismólogos se deslocaram ao país caribenho, afirmou Calais, que participou de uma destas expedições e havia advertido para o risco de fortes terremotos.

O especialista deve viajar ao Haiti nesta segunda-feira para coordenar uma missão de avaliação, a primeira desde a catástrofe do dia 12.

Terremoto

Um terremoto de magnitude 7 na escala Richter atingiu o Haiti no último dia 12, às 16h53 no horário local (19h53 em Brasília). Com epicentro a 15 km da capital, Porto Príncipe, segundo o Serviço Geológico Norte-Americano, o terremoto é considerado pelo órgão o mais forte a atingir o país nos últimos 200 anos.

Dezenas de prédios da capital caíram e deixaram moradores sob escombros. Importantes edificações foram atingidas, como prédios das Nações Unidas e do governo do país. Estimativas mais recentes do governo haitiano falam em mais de 200 mil mortos e 75 mil corpos já enterrados. O Haiti é o país mais pobre do continente americano.

Morte de brasileiros

A fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, Organismo de Ação Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Zilda Arns, o diplomata Luiz Carlos da Costa, segunda maior autoridade civil da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti, o tenente da Polícia Militar do Distrito Federal Cleiton Batista Neiva, e pelo menos 18 militares brasileiros da missão de paz da ONU morreram durante o terremoto. Também foi confirmada a morte de uma brasileira com dupla nacionalidade, cuja identidade não foi divulgada.

O Brasil no Haiti

O Brasil chefia a missão de paz da ONU no país (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti, ou Minustah, na sigla em francês), que conta com cerca de 7 mil integrantes. Segundo o Ministério da Defesa, 1.266 militares brasileiros servem na força. Ao todo, são 1.310 brasileiros no Haiti.

A missão de paz foi criada em 2004, depois que o então presidente Jean-Bertrand Aristide foi deposto durante uma rebelião. Além do prédio da ONU, o prédio da Embaixada Brasileira em Porto Príncipe também ficou danificado, mas segundo o governo, não há vítimas entre os funcionários brasileiros.
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