No “verão do apagão”, além de não conseguir ligar o ar-condicionado nem o ventilador por causa de sucessivas quedas no fornecimento de energia elétrica, moradores da capital e da Região Metropolitana do Rio também estão sem água para se refrescar. O problema é causado por uma falha no fornecimento de luz pelas concessionárias Light e Ampla para os sistemas de produção e transferência de água da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae).

“Nos últimos dez dias, tivemos cerca de 20 interrupções no fornecimento de energia elétrica. No verão, temos um aumento de 15% no consumo de água, que também fica mais turva por causa das chuvas e precisa de um maior tratamento nas estações. Se isso for ampliado por problemas energéticos, fica muito difícil atender à demanda”, afirmou o presidente da Cedae, Wagner Victer.

Na capital, onde o fornecimento de energia é de responsabilidade da Light, de acordo com a Cedae três elevatórias foram afetadas por falta de luz, o que causou problemas no abastecimento de vários bairros.

Os mais prejudicados, segundo a companhia, foram Bangu, Santíssimo, Tijuca, Vila Isabel, Glória, Centro, Cidade Nova, Saúde e o entorno da Praça Mauá. A Cedae informou que até a Estação de Tratamento do Guandu foi paralisada por falta de luz. Na Região Metropolitana, onde a distribuição de energia fica a cargo da Ampla, de acordo com a Cedae os municípios mais atingidos foram São Gonçalo, Itaboraí e Tanguá.

Morro da Conceição está sem água há uma semana

“É um absurdo esta situação. Depois de o carioca sofrer com o calor por causa da falta de luz, agora também não podemos tomar banho porque não temos água”, esbravejou a relações-públicas Lívia Abdalla, moradora do Morro da Conceição, na Saúde.

A região faz parte do projeto de revitalização da prefeitura para a Zona Portuária. A Cedae informou, na terça-feira (26), que o abastecimento estaria normalizado em 24 horas. Passadas mais de 72 horas, a situação é a mesma. Nesta sexta-feira (29), a Cedae identificou um entupimento em um ramal da região e deu um prazo de mais 24 horas para normalizar o abastecimento. Por conta do problema, a Fortaleza da Conceição, construção histórica localizada no alto do morro, teve que encomendar um caminhão-pipa para encher a caixa d´água.

A 1ª Delegacia de Polícia, no Centro do Rio, também foi afetada. “Estamos sem água já há dois dias”, informou o inspetor Moraes

Na Glória, na Zona Sul, também houve falta de água e foi preciso encomendar um caminhão-pipa. "Faltou água em um bloco do meu prédio durante um dia inteiro desta semana. E é muito difícil ter este tipo de problema no meu edifício”, contou a relações-públicas Susana Tupinambá, que mora na Rua do Russel. O Amarelinho da Glória, tradicional restaurante do bairro, ficou sem água de domingo (24) até quarta-feira (27).

Na Tijuca, na Zona Norte da cidade, o aposentado Arnaldo Bezerra de Lima, que é síndico de um prédio na Rua Maria Amália, está inconformado com a situação. “Nunca houve esse tipo de problema nessa rua. A água, que normalmente entra 24 horas por dia, só está entrando à noite”, reclamou o síndico, acrescentando que outros edifícios estão com o mesmo problema. “No prédio da minha filha, que é na mesma rua, também não está entrando água”, completou.

Cedae se reúne com Light e reclama da Ampla junto a Aneel

O presidente da Cedae, Wagner Victer, se reuniu nesta semana com representantes da Light em busca de uma solução. “A prioridade em atender a uma grande estação da Cedae, que abastece a casa de milhares de pessoas, é equivalente à prioridade em atender a um hospital”, observou Victer. Ele disse que foi montado um plano de melhorias no atendimento da Light à Cedae.

O mesmo não ocorreu em relação a Ampla. “Há duas semanas, em uma reunião com a Ampla, eles não apresentaram nenhuma proposta. Não vimos saída senão encaminhar uma reclamação formal à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel)”, disse Victer.

A Aneel confirmou que recebeu a reclamação da Cedae e que, no início da semana que vem, a Ampla vai ser notificada a dar explicações. Já a Ampla informou que não vai se pronunciar sobre o caso.

A Light informou que eventuais interrupções no fornecimento de energia elétrica às instalações da Cedae são tratadas prioritariamente devido à relevância do serviço público prestado por aquela concessionária. Interrupções são passíveis de ocorrer em qualquer sistema elétrico, principalmente em período de maiores riscos meteorológicos.