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Músicas na internet podem indicar ligação entre PCC e CV

Terra

Uma série de áudios e vídeos com músicas funk, exibidos na internet através do Youtube, podem mostrar indícios de que as facções criminosas Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, e Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, estão construindo uma parceria que vai além do convívio nas cadeias. A ligação entre integrantes das duas quadrilhas é uma das grandes preocupações das autoridades. Embora não existam indícios mais concretos de que os líderes tenham feito algum pacto, há uma infinidade de casos pontuais sobre ações em conjunto.

O mais grave deles foi o assassinato do corregedor da Penitenciária de Presidente Bernardes (SP), Antonio José Machado Dias, em 2003. O crime teria sido encomendado pelo suposto líder do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. Um dos matadores, Adilson Daghia, conhecido por Di, antes de mudar para São Paulo e integrar o PCC, pertenceu ao Comando Vermelho e era um dos homens de confiança do seu líder, o traficante Fernandinho Beira Mar. "Cada uma das organizações cuida de seu quintal. Eles trocam favores e eventualmente fazem negócios", disse o promotor Márcio Cristino, autor da denúncia que deu a Marcola mais 29 anos de prisão, no mês passado, pela morte do juiz.

As músicas têm letras que descrevem assaltos, tráfico de drogas, compra de armas e homicídios em que líderes e integrantes das duas quadrilhas são tratados como heróis. A polícia é ironizada e chamada de "terceiro elemento". A música Proibidão CV&PCC, visualizada 134.777 vezes até sexta-feira, por exemplo, faz referência a uma invasão do Comando Vermelho a uma favela do Rio e emenda com o aviso de que o bando vai invadir o presídio Bangu III para libertar um dos bandidos, identificado na letra como PT. Já CV RL, com 858.486 acessos, fala na "conexão criminosa" entre CV e PCC.

O delegado Rodrigo Bitencourt, da Unidade de Repressão aos Crimes Cibernéticos da Polícia Federal, frisa que o País vive sob um regime de liberdade de expressão, mas que é necessário analisar se as letras caracterizam um delito ou trata-se apenas da irreverência dos funkeiros. "Quem postou pode estar incitando o crime. Nesse caso os autores podem ser enquadrados por apologia", disse o delegado.

"O problema é que raramente há uma prova contundente, mas o Ministério Público, que tende a considerar essas letras como brincadeira de mau gosto, deve avaliar os casos", disse o coronel José Vicente, presidente do Forum Brasileiro de Segurança Pública.

Ligações
Depois que passou a investigar a estrutura do PCC, cuja organização ganhou o noticiário internacional ao promover em 2001 uma megarrebelião em 29 presídios paulistas, a polícia descobriu várias ligações com os líderes do Comando Vermelho. Nos inquéritos policiais há referências a telefonemas trocados entre Fernandinho Beira Mar e Marcola. Integrantes dos dois grupos dividiram celas em presídios do Rio e São Paulo e também se juntaram em alguns assaltos, compra de armamento e tráfico de drogas.
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