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Notícias / Agronegócios

Parceria com bancos internacionais tem auxiliado produtores rurais de MT

Da Redação/Elizete Mengatti

A base produtiva de qualquer setor agropecuário está nos recursos naturais, principalmente solo e água. Cientes da importância de buscar mecanismos que venham agregar uma produção sustentável e criar uma política de recuperação e preservação do meio ambiente, produtores rurais e organizações não-governamentais do estado de Mato Grosso vêm, há cinco anos, desenvolvendo uma parceria em que a produção, a recuperação de áreas degradadas e a recomposição de matas ciliares caminham juntas para um novo conceito de preservação do meio ambiente.

A iniciativa surgiu em 2004, quando se estabeleceu uma parceria entre as ONGs Aliança da Terra, Instituto Sócio Ambiental (ISA), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e os produtores rurais filiados ao Sindicato Rural do município de Água Boa (localizado a 730 km a leste de Cuiabá/MT), objetivando a preservação do meio ambiente. O projeto inicial surgiu por parte da ONG Aliança da Terra visando orientar os produtores rurais da região sobre os riscos ambientais que podem acontecer na propriedade, com a abertura de áreas para a exploração econômica.

Antes de dar início a qualquer tipo de projeto ambiental, técnicos agrícolas e ambientais da Aliança da Terra e do IPAM fazem o Cadastro de Compromisso Socioambiental (CCS). Este cadastro busca avaliar toda a propriedade rural no que se refere ao lado social – bem-estar dos funcionários; cobertura florestal – mata ciliar e floresta; condições físicas e químicas de rios, lagos e riachos que passam pela fazenda e erosões. Após a análise, um diagnóstico é encaminhado ao produtor rural.

De acordo com o gerente operacional da AT, Charton Jahn Locks, mais de 150 propriedades rurais do Mato Grosso já passaram pelo cadastro e atualmente integram o sistema de Compromisso de Adequação Socioambiental (CAS). Segundo Locks, isso significa que, após levantamento do diagnóstico ambiental da propriedade, o produtor busca readequar o passivo ambiental da fazenda conforme a lei determina.

“Após a apresentação do laudo, o produtor rural nos passa as suas condições e prazos em que irá sanar o seu passivo ambiental. Mediante o acordo, damos toda a assessoria técnica para que ele possa executar o projeto”, destacou Locks, informando que, após o prazo determinado, a equipe técnica retorna ao local para avaliar o andamento do projeto.

A experiência tem dado tão certo que muitos produtores rurais demonstraram interesse pela consultoria e já solicitaram uma visita da ONG.

Visando estimular o produtor rural a preservar o meio ambiental e desenvolver uma produção politicamente correta, parcerias com bancos internacionais são feitas para recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e compensação de crédito de carbono. Conforme explica Locks, o produtor rural que vem desenvolvendo sua atividade corretamente e que tem demonstrado consciência da importância de corrigir o que está desconforme à lei ambiental, recebe incentivo internacional. 

“Temos casos de produtores rurais que foram contemplados com recursos do banco Rabobank para recuperação de APPs. Esta iniciativa está sendo pioneira em Mato Grosso e tem dado um resultado muito positivo para o meio ambiente”, comemorou o gerente da AT.

O incentivo do banco internacional não está relacionado somente à venda de crédito de carbono. O gerente da AT explica que o banco procura incentivar também pesquisas voltadas à recuperação de áreas degradadas ou recomposição de matas.

Para o produtor rural e presidente do Sindicato Rural do município de Água Boa, Laércio Fernandes, os trabalhos que estão sendo desenvolvidos entre as ONGs e o setor produtivo têm proporcionado uma nova reformulação no relacionamento – produzir e preservar. Fernandes comemora os avanços que o setor da região tem alcançado e destaca que “a venda do crédito de carbono compensará o investimento feito na fazenda”.

“Sempre somos execrados como irresponsáveis, desmatadores e destruidores do meio ambiente. A falta de informação e apoio de parcerias faz com que este estigma prevaleça. As pessoas precisam saber que a situação está mudando”, alertou Laércio Fernandes.

Experiência – Buscando estudar os reflexos que a natureza apresenta após um incêndio na floresta e também como adotar técnicas para recuperar as áreas degradadas, estão sendo desenvolvidas algumas experiências em várias fazendas da região do Vale do Araguaia e Xingu, leste de Mato Grosso.

Recompor área degradada e mata ciliar requer habilidade, experiência, dedicação e novas técnicas. Assim define o coordenador-adjunto do programa Xingu, Rodrigo Junqueira, da ONG Instituto Socioambiental (ISA), que vem cuidando dos experimentos de áreas degradadas e recuperação de matas ciliares na região. Uma inovação que merece destaque é o plantio direto de sementes feito por plantadeiras, mesmo maquinário adotado nas lavouras de soja.

Para chegar a esta iniciativa, Rodrigo disse que foi necessário fazer várias experiências integradas ao custo-benefício ao produtor rural. “Buscamos desenvolver uma metodologia que aproveitasse a estrutura da fazenda. Esta técnica vem agregar mão-de-obra, custo benefício e tem dado retorno rápido no plantio”, comemora o coordenador do ISA.

A iniciativa completa em 2009 três anos de experiência, o que rende estudos com mais de 120 espécies de sementes adaptáveis a terrenos secos e encharcados, além do mais, tem auxiliado a agricultura familiar na venda das sementes nativas.

O cuidado do plantio direto está no manejo das mudas após um certo período de maturação, que gira entorno de três anos. Neste período a muda tem que ser remanejada para que as árvores maiores não venham prejudicar a germinação.

Questionado sobre o custo-benefício do plantio direto e o plantio por mudas, Rodrigo afirma que o plantio direto é muito mais barato do que a criação de mudas. “O processo de ‘fabricação’ da muda exige infraestrutura, mão-de-obra e há o risco da semente não germinar”, destacou.

Experiência com fogo - A busca para saber um pouco mais das consequências que o fogo pode causar na floresta motivou um grupo de pesquisadores do IPAM a desenvolver vários experimentos. Conforme o responsável pelos experimentos que estão sendo desenvolvidos na fazenda Tanguro, no município de Água Boa, Oswaldo Carvalho Júnior, do IPAM, o objetivo é saber qual a resposta da floresta após ser queimada.

A experiência tem apresentado várias surpresas e questionamentos. Numa área de 150 hectares, Oswaldo optou por fazer a divisão em três partes iguais. Cinqüenta ha ficaram como área de controle; outra parte era queimada anualmente nos períodos de seca (julho e agosto) e os outros 50 ha eram queimados a cada três anos. Todas as experiências eram feitas em parceria com a Nasa na identificação de densidade de carbono que era lançado na atmosfera, local, horário e a intensidade do fogo.

Conforme os estudos que foram sendo feitos, os pesquisadores chegaram a resultados interessantes. Quando o fogo acontecia anualmente, a intensidade do fogo era menor, porque havia menos material orgânico que facilitasse a combustão. Nas que eram queimadas a cada três anos, a intensidade do fogo era maior devido ao número maior de materiais orgânicos que auxiliam a propagação do fogo. Um outro mito que sempre intrigava os biólogos era a imigração de animais silvestres da localidade que estava sendo queimada.

Oswaldo explica que os animais maiores como antas, veados, capivaras e outros, retornaram ao habitat anterior para comer os brotos das árvores. Assim também se deu com os pássaros. “Claro que toda queimada é prejudicial ao meio ambiente, mas pudemos desmistificar que os animais não retornam ao seu antigo ambiente”, enfatizou.

Segundo os pesquisadores, as propriedades rurais que estão no cadastro têm desenvolvido ações em parceria e muitas buscam iniciativas próprias. “Podemos perceber que as parcerias têm dado certo e que os produtores estão empenhados em preservar o meio ambiente e produzir de forma consciente”, comemorou.



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