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Notícias / Cultura

Avatar é filme encomendado para justificar guerra

De Brasília - Vinícius Tavares

Perdoem-me aqueles que gostaram de Avatar, mas saí complematente completamente revoltado da sala de cinema no sábado à noite. Eu deveria ter seguido meus instintos e não ter assistido, mas resolvi conferir ao blockbuster por absoluta curiosidade depois de muito tempo relutando. Afinal, como eu teria a capacidade de escrever qualquer linha crítica sobre o filme sem ter ficado por, pelo menos, 30 minutos na sala de cinema? E foi o tempo suficiente para eu confirmar o que supunha.

Esteticamente o filme descarta comentários. O colorido e os efeitos especiais são espetaculares. Assisti a sessão 3D, com direito a um óculos especial (todo engordurado, diga-se de passagem) que realça tudo à nossa frente. A experiência 3D é surreal, amplia a percepção da tela, dando a impressão de que os objetos, o cenário e os personagens passeiam pela sala de cinema. Sobre o prisma da inovação tecnológica, Avatar é realmente muito interessante. O diretor James Cameron idealizou o projeto há dez anos e só pode concluí-lo agora por absoluta falta de tecnologia disponível até então.

Mas cinema não se resume a sons, imagens e efeitos especiais. A roteiro deve fazer o espectador refletir sobre a mensagem. É sobre este aspecto que faço minhas críticas. Poucas vezes assisti a um filme tão propalado pela mídia mas que tenha me decepcionado tanto. Ou melhor, em se tratando de cinema norte-americano, não me surpreendeu em nada.

Avatar é uma história que tem correspondência umbilical com o pesadelo dos dias atuais, nos quais imperam violência, ganância e prepotência do imperislismo para surrupiar as riquezas das nações do terceiro mundo. A trama se resume à guerra movida pelos terráqueos contra os nativos do planeta Pandora, onde localizam-se grandes jazidas de um minério que será muito valioso num tempo em que não restou de pé uma árvore sequer na Terra. A trama pouco se diferencia do clássico Poncahontas, a história de um navegador inglês que se apaixona por uma índia na América do século XVII e vive o conflito entre defender a harmonia entre os nativos e sua terra natal perante os interesses de seu País.

Saindo dos roteiros da Disney para a realidade, fica claro que é um filme feito sob encomenda para justificar as guerras promovidas pelas grandes nações, em especial pelos Estados Unidos, ao Oriente Médio e às outras nações menos desenvolvidas. Ou, quem sabe, no futuro, à invasão às terras da Amazônia para se apropriarem de minérios e água. Algumas passagens do filme se assemelham nitidamente à invasão ao Iraque e a resistência dos habitantes de Pandora, tal qual os inssurgentes e sua guerra urbana nos becos de Bagda. Os nativos da Pendora são tratados como tribais, ingênuos e ignorantes, bem ao estilo de vida norte-americano.

Em cartaz há 11 semanas, o filme já arrecadou mais de R$ 2,3 milhões no Brasil. Mas o pior estará por vir em Avatar 2, cuja produção ainda não tem data para iniciar. A grande árvore sagrada nos nativos foi derrubada. A natureza foi destruída e meio passo foi dado pelos humanos para explorar o tal minério que só existe em Pandora. Afinal de contas, se servir de exemplo, vale lembrar que o Iraque não foi vencido em um único golpe.
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