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Conheça as estratégias da defesa e da acusação no caso Isabella Nardoni

G1

O julgamento de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, acusados da morte da menina Isabella Nardoni, de cinco anos, em 2008, tem atraído a atenção de dezenas de estudantes de direito no Fórum de Santana, Zona Norte de São Paulo. A “aula” oferecida pelo promotor Francisco Cembranelli e pelo advogado Roberto Podval até esta quinta-feira (25) já deixou claro quais são as estratégias da acusação e da defesa para ganhar o caso.

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Cobertura completa

“A acusação está apostando na força dos indícios. A defesa, na força das falhas dos laudos”, afirma o jurista e professor de direito Luiz Flávio Gomes, que acompanha o julgamento dentro da sala do júri.

Promotoria e defesa convocaram 23 testemunhas ao todo. Apenas sete foram ouvidas. As demais foram dispensadas, uma (a avó materna de Isabella) pela acusação e as outras pela defesa.

Podval afirmou que a dispensa ocorreu porque "a demora no julgamento atrapalha a defesa". "A defesa é a última a ser ouvida. Esse julgamento não terminaria na sexta, ficaria para provavelmente domingo se ouvissem todas as testemunhas. Não sei o quanto os jurados ainda teriam paciência de nos ouvir. Então como eu falo por último achei por bem encurtar os depoimentos [porque isso] facilitaria a disposição dos jurados em me ouvir", afirma o advogado.

Testemunhas-chave

A principal testemunha da acusação foi logo a primeira a falar: a mãe de Isabella, Ana Carolina Oliveira. Durante seu depoimento, ela chorou várias vezes e chegou a emocionar uma das juradas. Ana Carolina falou sobre o dia da morte da filha e afirmou que Anna Carolina Jatobá teria gritado muito e dito que o acontecido foi “culpa de Isabella”. Ela também afirmou que Alexandre Nardoni era violento.

Após o testemunho, a defesa pediu que Ana Carolina ficasse à disposição da Justiça, para uma eventual acareação com os acusados. O juiz Marcelo Fossen concedeu o pedido e a mãe de Isabella ficou isolada no Fórum. Para Luiz Flávio Gomes, o pedido é um direito de Podval. “É algo que está tecnicamente correto”, afirma ele. Para o promotor, é um “ato de desespero da defesa” e “lamentável”.

Podval nega. “A acusação arrola, deixa ela chorando ali, eu não consigo fazer pergunta e depois eu sou cruel porque eu não a dispenso?”, questionou o advogado após o primeiro dia de julgamento. “Eu vou precisar ouvi-la novamente.”

O principal testemunho da defesa é o de Anna Carolina Jatobá, de acordo com informações do repórter da TV Globo José Roberto Burnier, que acompanha o julgamento dentro da sala do júri. Isso porque a madrasta seria mais detalhista e se emociona mais facilmente que Alexandre Nardoni.

Ainda assim, Nardoni se emocionou diversas vezes durante seu depoimento, de acordo com Luiz Flávio Gomes, embora o promotor o tenha acusado de chorar “sem lágrimas”.

Abandono de tese

Para Gomes, a defesa claramente abandonou a tese de que uma terceira pessoa estaria no apartamento. “O promotor perguntou diretamente para o Alexandre sobre a terceira pessoa e ele respondeu ‘não me recordo’. Isso deixa claro que essa tese foi abandonada e que agora a defesa se baseia apenas nas falhas dos laudos”, explica o jurista. “Segundo minhas contas ele [Nardoni] disse a frase ‘não me recordo’ de dez a doze vezes”, afirma.

Além disso, entre as testemunhas dispensadas pela defesa está o pedreiro Gabriel Santos Neto, que, em 2008, teria dado uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo afirmando que uma pessoa teria invadido a obra vizinha ao Edifício London, local do crime – mais tarde, em depoimento à polícia, ele negou a afirmação.

Podval preferiu ouvir apenas o jornalista Rogério Pagnan, autor da reportagem. Segundo o advogado, as afirmações do pedreiro não eram confiáveis.

Táticas

Segundo Gomes e Burnier, o advogado de defesa interrompe o promotor Francisco Cembranelli a todo momento, pedindo que ele cite as páginas do processo onde estão as coisas a que se refere. Cembranelli tem a obrigação de fazer isso pela lei, segundo Gomes, mas a defesa faz os pedidos como forma de quebrar o ritmo do promotor.

“Esta é uma tática muito frequente em julgamentos para atrapalhar a linha de raciocínio do adversário”, segundo o professor.

As interrupções da defesa geraram uma discussão entre Cembranelli e Podval nesta quinta-feira, que o juiz interrompeu com uma advertência para os dois lados.

Uma das principais armas da acusação foi a maquete do Edifício London, apresentada no segundo dia do julgamento, que pode ter custado até R$ 30 mil, segundo a empresa responsável por sua construção. A representação traz detalhes da perícia, como a localização das manchas de sangue que seriam de Isabella Nardoni.

Ainda assim, segundo Gomes, a acusação não parece utilizar de nenhuma “tática específica” para fazer seu caso. “A única coisa que aconteceu foram duas tentativas de utilizar a ironia, por parte do promotor. Mas o juiz está muito atento e cortou as duas”, explica.
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