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Homem fica 11 horas incentivando tia sob escombros em Niterói

UOL

"Se você morrer, eu vou junto." Foi com essa frase, repetida "mais de cem vezes", que o auxiliar de serviços gerais Ângelo Márcio Gomes da Silva, 35, encorajou a tia e madrinha, Maria Auxiliadora Gomes da Silva, 48, a resistir por 11 horas sob escombros até ser resgatada pelos bombeiros, anteontem.

Maria Auxiliadora, a Dorinha, estava em casa, no centro de Niterói, quando um deslizamento destruiu quatro imóveis --inclusive a casa dela.

Um armário evitou que ela fosse prensada contra uma laje, mas os bombeiros precisaram de quase meio dia para conseguir retirar os escombros.

"Enquanto isso, fiquei conversando com ela, para que não desanimasse. Havia um cheiro forte de gás, porque dois botijões estavam vazando, mas resistimos", comemora Silva, que cortou o dedo enquanto ajudava os bombeiros. "O momento mais tenso foi quando cheguei, porque vi tudo destruído e não sabia onde ela estava."

Ao ser resgatada, Dorinha foi levada ao hospital e continuava internada até a noite de ontem, mas já está bem e tem previsão de receber alta hoje. "A única consequência foi uma bolha na perna e, claro, o trauma pela situação", conta o sobrinho.

O filho de Dorinha --Sebastião Gomes da Silva, 22-- morreu no deslizamento. O corpo dele foi encontrado ontem à tarde e seria encaminhado ao IML (Instituto Médico Legal). "O marido da Dorinha só escapou porque tinha saído de casa. Ele voltou da rua bem na hora do deslizamento, mas não conseguiu salvar ninguém", diz o sobrinho.

O mesmo deslizamento causou a morte de mais duas pessoas, retiradas dos escombros poucas horas após o episódio.

Ontem, uma família deixou uma casa vizinha à área que deslizou. "Não tenho mais nada [além da casa], mas não posso continuar nela. Só nesta rua já houve quatro deslizamentos", disse o pedreiro Joaquim Soares, 53, enquanto transportava objetos para a casa de um vizinho.
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