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Regiões central e portuária do Rio têm vocação para moradias populares, diz sociólogo

ABr

As regiões central e portuária da capital fluminense têm cerca de 10 mil imóveis desocupados que poderiam ser desapropriados para a construção de casas populares, ajudando a diminuir o déficit habitacional de cerca de 220 mil moradias e atender pessoas removidas de área de risco, que estão desabrigadas. A avaliação é do sociólogo Paulo Magalhães, colaborador do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).

"É preciso estabelecer áreas próximas ao mercado de trabalho, com acesso a transporte - um drama para todas as cidades- nas quais as pessoas possam desfrutar da infraestrutura pré-existente", analisou Magalhães, que acompanha as políticas habitacionais no estado e também sugere a ocupação de áreas vazias paralelas à Avenida Brasil, ligação entre zona norte e o centro.

Na opinião do sociólogo, os prédios abandonados no centro ou na Avenida Brasil deveriam ser adaptados para receber famílias pobres, principalmente as com renda de até três salário mínimos. De acordo com ele, essa é classe que mais encontra dificuldade para financiar um imóvel e, por isso, não é atendida por projetos habitacionais da iniciativa privada.

"O déficit está aí. Os grupos privados não se interessam por esse mercado porque ele não tem como pagar. A inciativa privada só fará isso se for incentivada pela governo. Ou, o governo faz casas e vende diretamente para eles”, pontuou.

A prefeitura do Rio e os movimentos de luta por moradia sabem onde estão os imóveis desocupados na cidade, mas segundo o sociólogo, a pressão da especulação imobiliária impede a destinação dos imóveis para população carente. Para enfrentar o problema, avalia que a revitalização da zona portuária, anunciada pela prefeitura, poderia incluir unidades voltadas tanto para a classe média quanto para as classes populares (do ponto de vista do financiamento e do subsídio).

"O preconceito [de classe] iria aparecer de forma muito aguda, mas penso que habitações mistas seriam fantásticas porque a infraestrutura ao redor [do bairro] seria outra. O debate, no entanto, está polarizado, e as últimas chuvas, tragicamente, escancararam isso. Mostraram a desigualdade na cidade. Enquanto os moradores da zona sul, praticamente molharam os pés, casas desabaram e mataram pessoas nas regiões pobres", criticou.

Outra alternativa de Magalhães para o déficit habitacional está nas Olimpíadas. Assim como os movimentos sociais, sugere que a Vila Olímpica, local que abrigará os atletas durante as competições, em 2016, seja direcionado para habitação popular, como implementado em outras cidades-sedes. O projeto apresentado pela prefeitura, no entanto, estabelece que as unidades serão feitas por construtoras privadas para a classe média.

"Faz-se o jogo da especulação imobiliária com a ocupação de terrenos muito valorizados para classe média. Ou seja, a ênfase é diferente das necessidades que se apresentam".

A Secretaria de Habitação não comentou as sugestões do especialista e informou, por meio da assessoria, que não há previsão de destinar a Vila Olímpica a programas de moradia. Sobre a meta de construir 50 mil casas para famílias com renda de até dez salários mínimos, em dois anos, o órgão informou que cerca de 2,5 mil unidades serão erguidas na região do antigo Presídio Frei Caneca, no centro.
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