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Rio: suspeito de pichar Cristo diz que está arrependido

Terra

Arrependido e disposto a se entregar à polícia, o pintor de parede Paulo Souza dos Santos, de 28 anos, confessou ter pichado a estátua do Cristo Redentor, na noite do último dia 14. Paulo, que está escondido na casa de um amigo, disse que pretendia apenas fazer um ato de protesto e não imaginava que o caso daria tanta repercussão.

Paulo Souza e um outro suposto pichador, identificado pela polícia como Edmar Batista de Carvalho, o Zabo, de 26 anos, são acusados de pichação ao monumento público e injúria por preconceito (por se tratar de imagem religiosa). Se condenados, poderão cumprir pena de um a três anos de reclusão.

"Estava tentando protestar e acabei cometendo um erro. Minha pichação era para alertar sobre pessoas desaparecidas. Respeito todas as religiões. Queria só lembrar dos casos das engenheira Patrícia, a menina Gisele, que sumiu na escola Bahia, na avenida Brasil, e a jovem Priscila Belfort. Pensei em colocar uma faixa, só depois optei pela pichação", contou o pintor, que não tem passagem pela polícia.

Apesar disso, para o sub-chefe administrativo de Polícia Civil, Rodolfo Valdec, o fato de o acusado estar arrependido não basta para que ele seja perdoado.

"Ele está arrependido não é o suficiente. Ele terá que responder pelos crimes que cometeu. Tem crime ambiental envolvido e tem que ser avaliada a possibilidade de formação de quadrilha. Mas é claro que ele se entregando e estando arrependido pode ajudá-lo", disse.

Já para o delegado titular da 9ª DP (Catete), Carlos Augusto, que investiga o caso em conjunto com a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, o fato de Paulo querer se entregar muda as coisas.

"O fato de ele se entregar e mostrar arrependimento melhora muito a situação dele, perante a mim, ao juiz, à população..."

De acordo com o advogado criminalista Marcelo Napolitano, o crime cometido não tem uma pena longa, o que beneficia o acusado.
"Na nossa legislação, uma pena de até quatro anos pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos, como um trabalho comunitário, por exemplo. Além disso, se ele reponder por apenas um crime, que a pena mínima não exceda um ano, ele tem direito à suspensão condicional do processo. Com isso, o processo fica suspenso e o acusado terá que cumprir condições determinadas pelo juízo ", explicou.

Pintor planejou pichação após ver monumento cercado por andaimes
Morador de Santa Cruz, na zona oeste do Rio de Janeiro, casado e pai de um filho de quatro anos, o ex-soldado do Exército resolveu pedir a ajuda ao pastor Marcos Pereira da Silva, conhecido pelo trabalho de evangelização em favelas dominadas pelo tráfico no Rio,antes de se apresentar à polícia. Temendo ser hostilizado e, segundo ele, "tachado de marginal", Paulo pediu perdão à população carioca.

"Queria pedir perdão a Deus e a população carioca. Eu sei que cometi um ato errado. As pessoas estão achando que sou bandido ou traficante. Não sou nada disso. Sou um ex-militar. Não tinha a noção de que meu ato teria essa repercussão toda. Resolvi pedir ajudar ao pastor Marcos Pereira e ao Waguinho por confiar no trabalho deles", disse.

Paulo contou que planejou ir ao Cristo Redentor, após ver pela televisão a imagem da estátua cercada por andaimes. O pintor disse ainda que comprou o spray em uma loja no centro e se surpreendeu ao notar a falta de aparato de segurança no monumento, eleito a Sétima Maravilha do mundo.

"Comprei o spray no centro. Segui pela linha férrea. Fiquei surpreendido quando percebi que não havia um aparato de segurança no Cristo. Tentei fazer um protesto, mas volto a dizer que estou arrependido.Não queria aparecer dessa forma", contou o pintor, que preferiu não falar sobre suposta presença de outros comparsas.

Paulo Souza deve se apresentar à polícia até o fim desta semana. De acordo com advogado Alexandre Magalhães, o pintor deverá responder pelas acusações em liberdade.

"Ele está disposto a se apresentar e contar toda a verdade. É trabalhador e tem residência fixa. Além disso, não tem passagem pela polícia", ressaltou o advogado.

Pastor pretende trabalhar na ressocialização de pichador
Conhecido pelo seu trabalho de recuperação e ressocialização de criminosos, o pastor Marcos Pereira recriminou a ação do pichador, mas prometeu ajudá-lo.

"Os pichadores e as pessoas que cometem esse ato devem se arrepender. No caso do Paulo, ele mexeu com a Sétima Maravilha do mundo. É um monumento que precisa ser respeitado. A igreja evangélica não concorda com isso. Ele é um jovem simples que reconheceu o seu erro", afirmou.

"Que sirva de exemplo para outros pichadores. Vamos levar seu caso à Justiça e ajudá-lo em tudo que for preciso para sua recuperação", disse o dirigente da Igreja Assembléia de Deus dos Últimos Dias (Adud).

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