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Notícias / Brasil

Vítima de homofobia em jornal continuará curso de farmácia na USP

G1

Um dos estudantes atacados num artigo homofóbico publicado recentemente no jornal “O Parasita”, produzido por alunos da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, foi localizado neste sábado (24) pelo G1 e afirmou que quer a punição do responsável pelo texto que o criticou por ter beijado na boca um outro homem numa festa em 2009. O artigo não citou nomes.

Ele é assinado por “Joãozinho Zé-Ruela”, pseudônimo do autor do periódico, e ainda faz uma promoção polêmica para que as cenas do beijo homossexual do ano passado não se repitam: promete dar um convite de graça para a próxima “Festa Brega” para quem jogar fezes num gay (leia íntegra abaixo).

Por telefone, o jovem, que tem mais de 20 anos, e só aceitou falar com a reportagem sob a condição de anonimato, estuda farmácia e, apesar de ter sido hostilizado no jornal, afirmou que vai continuar na faculdade em São Paulo.

“Quem escreveu essas coisas deve ser punido. Não gostei do que foi escrito. Eu sou revoltado com preconceito. Isso, no entanto, não vai impedir que eu continue a estudar farmácia na USP porque amo a faculdade”, afirmou o estudante que beijou outro homem na Cervejada da farmácia e medicina no ano passado.

A nota do jornal se tornou pública após ter sido distribuída numa lista de e-mails na internet. Alunos descontentes com o teor do texto criticaram o jornal em seguida.

O caso ganhou repercussão e a Defensoria Pública informou que irá denunciar o periódico por homofobia à Comissão Processante Especial da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo. Os responsáveis pelo jornal poderão ser punidos com multa se forem considerados culpados.

A Coordenadoria de Políticas para a Diversidade Sexual afirmou que irá registrar boletim de ocorrência contra o veículo na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) por injúria e incitação à violência.

Repúdio


Neste sábado (24), a Associação Atlética Acadêmica de Farmácia e Bioquímica da USP, responsável pelas atividades esportivas da faculdade e organizadora da “Festa Brega”, repudiou “O Parasita” e informou que não possui nenhum vínculo com o jornal. O Centro Acadêmico de Farmácia e Bioquímica da universidade e a Faculdade de Ciências Farmacêuticas também criticaram a postura do periódico e negaram qualquer relação com ele. A USP não quis se pronunciar.

“O artigo deste jornal foi um fato isolado de homofobia. Amo a faculdade, gosto de estudar aqui. O jornal não tem nenhum vínculo com a atlética e centro acadêmico”, afirmou o estudante hostilizado no “O Parasita”. O G1 localizou um dos colaboradores do jornal que não quis comentar o assunto.

Leia abaixo íntegra do polêmico artigo:

"Lançe-merdas e Brega será na Faixa - Ultimamente nossa gloriosa faculdade vem sendo palco de cenas totalmente inadmissíveis. Ano passado, tivemos o famoso episódio em que 2 viadinhos trocaram beijos em uma festa no porão de med. Como se já não bastasse, um deles trajava uma camiseta da Atlética. Porra, manchar o nome de uma instituição da nossa faculdade em teritório dos medicus não pode ser tolerado. Na última festa dos bixos, os mesmos viadinhos citados acima, aprontaram uma pior ainda. Os seres se trancaram em uma cabine do banheiro, enquanto se ouviam dizeres do tipo "Aí, tira a mão daí." Se as coisas continuarem assim, nossa faculdade vai virar uma ECA. Para retornar a ordem na nossa querida Farmácia, O Parasita lança um desafio, jogue merda em um viado, que você receberá, totalmente grátis, um convite de luxo para a Festa Brega 2010. Contamos com a colaboração de todos. Joãozinho Zé-Ruela", escreve "O Parasita".
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