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Onda de violência deixa 23 mortos em oito dias na Baixada Santista

Globo.com

Nos últimos oito dias, em toda a Baixada Santista, Litoral Sul de São Paulo, 23 pessoas foram assassinadas. Segundo a polícia, a maioria é formada por homens entre 18 e 30 anos, sem antecedentes criminais. “Nota-se uma orquestração de condutas que nos apontam na direção da prática do crime organizado”, diz o delegado Josias Teixeira de Souza.

Um mapa da violência aponta que, nos últimos oito dias, além dos 23 assassinatos, 12 pessoas foram baleadas e não correm risco de morrer. Bandidos ainda atiraram em dois PMs, que conseguiram escapar.

“Infelizmente isso está ocorrendo, está nos surpreendendo, mas a gente crê que logo, logo essa situação volte ao normal, com todas as providências que a Polícia Militar e a Polícia Civil estão adotando”, assegura o coronel Sérgio Del Bel Junior, comandante regional da Polícia Militar.

No Guarujá, onde foram registradas seis mortes na madrugada de segunda-feira (19), a violência mudou a rotina. Muitas escolas não tiveram aula durante a semana – segundo a prefeitura, por falta de alunos. A notícia de que traficantes teriam ordenado um toque de recolher fez ainda com que comerciantes de Vicente Carvalho, um distrito do Guarujá, baixassem as portas segunda e terça-feira.

Na madrugada de quarta-feira (21), Marcos Soares e um rapaz de 21 anos saíam de moto de uma festa quando foram assassinados. Praticamente ao mesmo tempo e no mesmo bairro, em São Vicente, litoral paulista, outras três pessoas foram mortas. Segundo testemunhas, os assassinos, em todos os casos estavam encapuzados.

A mãe de Marcos Soares, que é enfermeira, fez um desabafo. “Meu filho simplesmente estava em uma festa com os colegas dele e ele morreu como um lixo”, disse Flávia Soares, mãe de Marcos. “Meu filho era um estudante de 18 anos. Ele simplesmente estava na hora errada, no lugar errado.”

“A gente está vivendo em pânico. São muitas mortes. Não tem como trabalhar. Fico com medo, não tem como”, admite a comerciante Daniela dos Santos.

Toque de recolher


Uma equipe do Fantástico percorreu durante quatro dias esta semana vários pontos da Baixada Santista. Ruas e praças que, mesmo à noite, costumavam ficar cheias de gente estavam vazias. No local, só a polícia.

Mesmo com o policiamento reforçado, os crimes continuaram. Na última quinta-feira (21), às 19h, um rapaz que estava sentado em uma esquina foi executado com um tiro na nuca por dois homens em uma moto. O rapaz, de 29 anos, tinha saído da cadeia no começo do ano. Ele foi morto a poucos metros de casa.

Policiais militares apontam uma origem comum para a sequência de crimes. No dia 23 do mês passado, nove ladrões foram presos e muitas armas apreendidas. Houve troca tiros e um assaltante foi morto.

Na segunda-feira passada (19), o soldado Paulo Rafael, que tinha participado da prisão dessa quadrilha, foi assassinado com tiros de fuzil. A ordem dessa execução, de acordo com PMs, teria partido do chefe do tráfico da região. Seria em represália à morte do assaltante no mês passado.

Um dos PMs entregou um diagrama, apontando que o soldado Paulo Rafael foi assassinado por traficantes. O delegado que investiga os crimes que aconteceram no Guarujá também suspeita de represália. “É uma das linhas que nós temos a hipótese de uma retaliação do crime organizado a esse fato”, aponta o delegado Josias Teixeira de Souza.

De acordo com o policial militar que elaborou o diagrama que explicaria os assassinatos, o que há é uma guerra entre PMs e traficantes – e inocentes acabaram sendo mortos. Integrantes do Ministério Público dizem que também têm informações nesse sentido, mas o comandante da PM na região faz uma ressalva.

“É prematuro dizermos que há alguma relação causal entre esses crimes. Existem várias hipóteses, várias linhas de raciocínio, mas por enquanto é mero exercício de imaginação”, afirma o coronel Sérgio Del Bel Junior, comandante regional da Polícia Militar.

A Corregedoria da Polícia Militar está na região para investigar se há envolvimento de PMs nos assassinatos. Enquanto a equipe do Fantástico esteve na região, o dia mais violento foi quinta-feira (22). Segundo a polícia, mais três pessoas foram baleadas, só que agora na cidade de Cubatão, na mesma região.

Cubatão está deserta. Na delegacia, a informação é de que são seis feridos: cinco homens e uma mulher. Os ataques aconteceram em pontos diferentes da cidade. Mais uma vez, as vítimas são jovens, e a maioria não tem antecedente criminal.

“Será que vamos fazer alguma coisa? Porque o meu filho não é mais um. É o meu filho”, diz Flávia Soares, mãe de Marcos.
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