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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

Opinião

Um Clássico Redivivo (ou Sherlock in Home)

Arquivo Pessoal

A nova era do cinema mundial tem mostrado heróis cada vez mais aventurescos e ativos. E com a atual onda das adaptações das histórias em quadrinhos para o cinema, já estava na hora da literatura clássica ter a sua chance. É nesse ponto que surge o novo filme de Sherlock Holmes.

Vivido por Robert Downey Jr., o histórico detetive ressurge depois de quase 30 anos longe das telas. Entretanto, para os amantes do personagem de Sir Arthur Conan Doyle, o filme causa um certo choque. Acostumados com a fleuma do detetive dedutivo, que nunca faz nenhuma atividade física sem necessidade e que resolve boa parte dos seus casos sem nem sair de seu quarto no número 221b da rua Baker, os espectadores definitivamente não irão reconhecer o indivíduo briguento, teimoso e desleixado que protagoniza o filme.

Se fosse uma mera adaptação de alguma das muitas obras literárias, seria um fiasco. Entretanto, o diretor Guy Ritchie resolveu recriar Sherlock Holmes à sua própria maneira. E acertou em cheio.

Sem recorrer à nenhum tipo de histórico nem tentar explicar quem é ou como surge o maior detetive de todos os tempos, o filme acerta ao simplesmente deixa-lo existir, como alguém a quem todos conhecem e entendem, quase como parte sine qua non da arquitetura londrina. Com um roteiro intenso e movimentado, o diretor repagina um ícone da literatura mundial de uma forma que seja palatável à nova realidade, fazendo-o mais agitado e irônico, mas mantendo a inteligência superior e o incrível poder de dedução do detetive. Além disso, a habitual calma britânica fica de fora do roteiro do blackbuster, dando lugar à um filme cheio de ação e aventura, desde a primeira cena.

Por falar na primeira cena, os leitores habituais de Doyle, que já conhecem o desprezo com que Holmes trata os oficiais da Scotland Yard, a polícia britânica, não se decepcionam ao notar um claro ceticismo do detetive para com a competência dos agentes da lei. E a primeira cena já demonstra essa dicotomia. O espectador não sabe exatamente se o personagem esta agindo junto à Yard ou se está sendo perseguido por ela.

Assim, enquanto alguns aspectos literários são completamente ignorados no filme, outros são bastante explorados, como o respeito da própria polícia para com Holmes. Apesar de não saber o que o detetive vai fazer e de não entender como ele chega às suas conclusões, os oficiais da lei, na maioria das vezes representados pelo inspetor Lestrade, apóiam e auxiliam Holmes nas mais loucas aventuras.

Outra coisa que obrigatoriamente tem de ser citada é a participação do fiel companheiro de Holmes, o Dr. John Watson. Normalmente calmo, controlado, totalmente dedicado ao parceiro (chegando mesmo a ser excessivamente protetor), meio covarde e até mesmo cético, na tela Watson é sarcástico e algo agressivo, salvo em poucas cenas, como no momento em que, ao perseguir outro personagem, Holmes cai de uma janela e pede pelo Doutor, sem conseguir sua ajuda.

Brilhantemente interpretado por Jude Law, o Dr. Watson do filme é mais egoísta, aparentemente mais preocupado com seu casamento do que com o desenrolar dos acontecimentos dos casos que investigam. Com o andamento do filme, porém, fica claro que todo este distanciamento é apenas fachada e que o bom Doutor continua um parceiro fiel e dedicado.

Vale destacar também a atuação brilhante e impecável de Rachel McAdams como Irene Adler, a única pessoa no elenco capaz de acompanhar Downey Jr. e Law, sem ser ofuscada pelo brilho dos dois.

Juntando personagens de várias histórias diferentes, Ritchie constrói uma trama envolvente e agitada, com muita ação e aventura. Com um final de quero mais, o filme mostra que mesmo os mais clássicos podem ser adaptados e reescrito sem perder a originalidade e ainda assim atrair um público cada vez mais exigente, que busca ação do início ao fim da película.

Felipe Fortes é advogado em Cuiabá

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