Olhar Direto

Quarta-feira, 08 de maio de 2024

Opinião

Um Presépio de Amor e Solidariedade

Num estábulo em meio a animais, pastores, José e Maria, numa manjedoura forrada com capim e módicos lençóis, se destaca a figura iluminada do Menino Deus Jesus. Quem poderia imaginar o salvador anunciado pelas profecias, o Desejado de todas as nações, o Rei dos Judeus, participando de uma cena tão humilde e singela. Qual mistério possui tanta simplicidade para um acontecimento tão grandioso, anunciado pelos sábios como a redenção da humanidade?

Cerca de mil e duzentos anos depois do nascimento de Jesus, em plena época medieval, quando a igreja católica ostentava grande poder e riqueza. Tempo em que os nobres ocupavam os melhores lugares nos templos católicos e as autoridades eclesiásticas se cobriam de ouro e luxuosas vestes, sob o teto de igrejas fabulosas construídas com o suor e o sacrifício do povo, período de guerras entre mouros e cristãos, eis que surge neste cenário de exclusão, desigualdade e cruzadas, a figura do Presépio, retratando a humilde cena do Nascimento de Jesus!

Contam que o primeiro Presépio surgiu numa capelinha improvisada, perdida nos arredores de um cidade italiana, contam que ele foi montado no local por Francisco de Assis, jovem que deixou a riqueza da família para dedicar sua vida aos pobres, mendigos, leprosos e outros necessitados.

Dizem que Francisco, desde criança, se chocavam com a condição miserável em vivia o povo de sua cidade, inclusive os trabalhadores da tecelagem de seu pai. E, depois de vivenciar momentos de epifania religiosa, este olhar solidário e ético frente as mazelas e injustiças vivenciadas pelos pobres se intensificou, fazendo-o renunciar a tudo para trabalhar na capelinha, onde desvalidos da redondeza encontravam ajuda e conforto espiritual.

Foi São Francisco em plena Idade Média, depois passar por frio e privações na capelinha de pedra, quem teve a iluminação de resgatar o significado profundo do Nascimento de Jesus. Um momento sublime vivenciado por pessoas simples do povo como os pastores, o carpinteiro José e sua esposa Maria.

O Presépio, apesar de sua simplicidade e apesar de seu significado passar despercebido para muita gente, faz um contraponto simbólico à arrogância, à ostentação, faz um contraponto às injustiças sociais que sempre afetaram pessoas invisibilizadas pela história. Traz um olhar fraterno sobre os que precisam ser olhados sem preconceito e discriminação, principalmente, aqueles e aquelas que enfrentam a fome, a violência e condições sub-humana de vida em sua passagem pelo mundo.

Foi com a capacidade de ver os semelhantes além das aparências, foi como um praticante do verdadeiro e revolucionário amor ensinado por Jesus que São Francisco, com uma sensibilidade ímpar, criou um cenário com o poder de reacender o sagrado no coração dos homens.

E assim, como os Três Reis Magos que, após avistarem a Estrela do Oriente, atravessaram por dias e noites o deserto para reverenciar o Menino Deus na manjedoura, muitas pessoas descobriram na imagem singela do Presépio que o reino de Deus está no coração humano e na capacidade de amar o próximo como a si mesmo. Descobriram a grandeza que mora na humildade e nas coisas simples, a distância que existe entre o Ter e o Ser, entre a indiferença e a solidariedade.

Que a Estrela do Oriente se junte à Luz de outros povos e crenças, mostrando aos seres humanos um caminho de União, Paz, Fraternidade e prática verdadeira do verbo Esperançar!


Paulo Wagner é Professor, Escritor, Jornalista e Mestre em Estudos de Linguagens e Literatura.
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