Olhar Direto

Segunda-feira, 06 de maio de 2024

Opinião

Outra pra estrada e a Confraria

Esta é de uma turma do barulho. A Confraria ou Os Confrades. E era domingo. E domingo, se não estiver no interior ou na estrada, serve pra dormir. Ou enlouquecer.

Devia ser lá pras onze e meia. E, mais uma vez, pensei em sequer beber um gole. Pelo menos não de cerveja, só café, que café é bom e mal não faz.

Todavia, ao pisar a rua logo percebi a ilusão. Não beber como, se embaixo da árvore em frente à casa do Índio e da Taizy, e do salão de beleza dela, do outro lado do Mercado JM (de Aldo e Eliane), já se reuniam o fauno Evandro, o militar Melo, o santista Sebastião, que esses dias fez 69 anos. E Poconé, o Cowboy do Asfalto, locutor de rodeio e cavalhada e tal. E Itauçu, que fala pouco, porém fala. Depois ainda chegou Gaia, o Homem do Gelo; Laércio, o Lázaro II, passou por lá, rapidão. E, do outro lado da rua, ainda vi o eterno Casal 21, Neco e Luciana.

Logo sentiu-se a falta do Junior Santista, titular da turma, cuja ausência me foi depois explicada por seu filho Hugo, que ainda ‘ontem’ havia chegado de Campo Verde, terra onde, aliás, segundo as boas línguas, Cuco e seu sósia Jair [quando este por lá aparece] e Ademir, o palmeirense, comandam tudo. De fato e de direito!

Falta maior ainda sinto, e sentirei até o fim, de Mori, o Maurício, vascaíno e petista-lulista roxo e, disparado, o melhor de todos nós. (Em março de 2020, início da pandemia, aos 39 anos, ele sofreu um AVC isquêmico e, daí, definhou sobre uma cama de hospital até cerca de um ano depois).

Falta também sentirei, sempre, do Velho Crispim, flamenguista, uma versão do Homem que Nasceu Há 10 mil Anos Atrás, do Raul, pois de tudo ele sabia e em tudo “estava lá”. Na sua biografia, entre tantos feitos, houve uma perseguição de araque ao camarada Picu, de faca em punho, emprestada pelo açougueiro Valdecir. Mas cadê pegar, se o Picu é avião e mais novo uns 35 anos? (Crispim morreu durante a pandemia e não de covid-19, mas dessas doenças em série que costumam condenar pessoas mais velhas, fruto de exageros alimentares, e etílicos, e de uso obrigatório de remédios, cada vez mais).

Sem Mori e Crispim, confesso, ficamos um tanto órfãos de um verdadeiro líder da Confraria, famoso grupo nascido da feliz/infeliz ideia de não sei quem e que só durou com Mori na liderança. Mas, mesmo antes de ele sair de cena, Os Confrades já estavam se esvaindo, porque o Troféu O Mais Chato do Mês, em votação aberta, poucas vezes era recebido de boa pelo ‘eleito’.

Hoje, o vácuo, incalculável em tamanho e profundidade, é preenchido, ‘malemá’, por Junior Santista e pelo Poconé, vascaíno a honrar eternamente a memória do Mori.

No horizonte da manhã quase tarde, de figuras femininas à la Circe, nenhuma eu vi. A Confraria dos Pés-Vermelhos é de homens; logo, mulher é encanto. E assunto. Das que despertam algum interesse em mim, sentimental ou artístico, e já deram o ar da graça por aqui, vou destacar somente Aline, a Muchacha; mas esta, nunca mais, desde fins de janeiro de 2021, logo que voltei do interior após a morte da minha mãe. Sem ela, para mim, a cidade fica, a cada dia, mais sem graça.

E de quem mais? Pretendia, ainda, dar um destaque, um close, na garota de cabelo batido feito cantora de MPB que às vezes passa acompanhada de outras belas e um menino. Antes de saber o nome dela, ia falar; agora, não mais. Não nesta crônica.

O tempo passou, a tarde veio vindo. Domingo à tarde é dose, convenhamos. E, para alguém que aguenta pouco feito eu, as tais doses do dia já tinham ido.

Aí fiquei pensando, feito o Ismael de “Moby Dick”, de Herman Melville, quando ficava emburrado e azedo: é hora de pegar a estrada outra vez. Espairecer, conhecer outras paisagens, buscar inspiração, hoje um tanto rasa. Ele pegava a do mar, a esburacada estrada do oceano; eu, talvez, um avião ou o velho e bom chão preto, mesmo.

Que tal, de novo, Chapada ou Barra do Garças, as duas únicas cidades do interior que de fato me atraem! Ou, então, se fosse rico, Paris, sobre a qual o Professor PM me contou esta pérola. Disse-me o PM numa agradabilíssima mesa do Choppão onde às vezes almoçamos e tomamos algumas Becks e Original, pra variar: “Se eu tivesse dinheiro, mas muito dinheiro, muuuuiiiiiito, passava seis meses em Paris, três no Rio de Janeiro e os outros três em Rosário Oeste, onde estão minhas raízes. Ali, no balanço da rede, lendo bons livros e saindo todo dia à tardinha pra rever os amigos nessas conversas de velhos na Praça da Matriz contando coisas do arco da velha, mas também, é claro, sem deixar de olhar, gulosos, para outras barras de saia mais top”.

Mas, camarada PM, eu argumentei, e Cuiabá, não entra nem um tiquinho no seu itinerário?!

– Ora, meu caro, Cuiabá... Em Cuiabá, sim, eu parava pra mijar!

“Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei... e tal”, conforme disse Drummond.

Talvez, quem sabe, até imitasse o PM nessa vida rica sonhada e só parava cá na city pra dar aquela escapadinha básica ao banheiro.
 
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