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Segunda-feira, 06 de maio de 2024

Opinião

BRT X VLT, Por que não os dois?

"Ea, ea, só não nasci em Cuiabá, mas quando cresci meu Bom Jesus mandou buscar". (Rasqueado do pau rodado de Pescuma e Pineto). Cheguei em Cuiabá em 08 de agosto de 1983, iniciei minha vida profissional sendo professor na E.E. Alcebiades Calhao, no bairro Quilombo, depois passei por várias outras unidades municipais e estaduais, até chegar na EMEB Profª Pedrosa Morais e Silva, no bairro Novo Paraíso.
 
Foram 20 anos seguidos na educação (professor e diretor escolar). Daí para o processo político partidário foi um passo. Trabalhei como assessor do ex-prefeito Coronel José Meirelles. Durante oito meses fui vereador de Cuiabá. Também atuei como superintendente do Arquivo Público do Estado, secretário municipal de Meio Ambiente, secretário-adjunto de Educação de Cuiabá e secretário de Serviços Urbanos em duas gestões com prefeitos diferentes. Na segunda gestão Emanuel Pinheiro, fui eleito a vice-prefeito e assumi a Secretaria de Obras Públicas.

Estou pontuando tudo isso para dizer que conheço nossa gente, que conheço cada pedacinho deste município porque sou um no meio de todos que convive com todos, que fala com todos há mais de três décadas. Gosto de cuidar de pessoas e gosto de cuidar da cidade. Do assustado professor do primeiro dia de aula lá da década de 1980 ao obstinado secretário de obras do ano de 2023, nunca fugi do trabalho, do diálogo e nem do embate honesto e justo.

A cidade de Cuiabá está em um espaço territorial muito grande em relação ao número de habitantes, o que faz de nossa capital uma cidade espalhada e por isso cara. Isso ocorreu por vários motivos, mas os dois principais são a falta de organização do poder público, que não fez o dever de casa, que era de organizar os espaços à medida que a cidade crescia, principalmente alocando as pessoas das regiões de invasão para espaços vazios e já urbanizados;  a segunda são os interesses privados e a especulação imobiliária que faz termos verdadeiras fazendas desertas em pleno núcleo urbano.

A título de comparação, segundo dados do IBGE de 2019, a cidade de Cuiabá aparece distribuída em um território com 160,59 km² com uma população de 618.124, que comparado com Recife-PE, que tem algo próximo a 143,98 km², e com uma população de 1.494.586 pessoas. Logo cada morador de Cuiabá vive em uma cidade, mas paga aproximadamente por duas cidades.

Adentrando a questão do transporte público das grandes cidades, sabemos que estamos em um momento de grandes debates que envolvem meio ambiente, poluição e qualidade de vida. Esses fatores têm empurrado as principais cidades do mundo para altos investimentos em transporte público.

Automóveis ocupam muito espaço nas ruas, nas edificações, nos milhares de metros quadrados necessários para estacioná-los. Geram acidentes com mortes e ferimentos graves, produzem poluentes, geram enormes congestionamentos, desperdiçam tempo precioso. Além disso, são ineficientes para o transporte urbano: exigem muita energia para mover as toneladas de aço e plástico, mas transportam, em média, 1,5 pessoa.

As frotas de ônibus urbanos são o meio principal de mobilidade urbana para centenas de milhões de cidadãos mundo afora. Para enfrentar o duplo desafio imposto à qualidade do ar e as longas distâncias de deslocamento das pessoas, as cidades buscam uma transição energética e tecnológica para melhorar o transporte público, isso já é uma imposição mundial.

Aliando estas duas questões: áreas urbanas mais limpas e transportes mais eficazes, é que entendemos que Cuiabá terá muito em breve que trabalhar com duas ou até três modalidades de transporte público para interligar não somente bairros centro, mas inclusive entre regiões e intermunicipal para integrar o núcleo metropolitano.

Podemos elencar a necessidade de termos nas principais vias o VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), e estes serem interligados com os núcleos habitacionais espalhados pela cidade que denominamos de regiões com o BRT (em inglês: Bus Rapid Transit) e possivelmente com ônibus elétricos completando os trajetos onde o BRT e VLT não cheguem.

Aí vem a pergunta: porque então não concluir o VLT, que já tem um investimento significativo? Quais interesses, se é que existem, para destruir o que já está pronto para, daqui uns anos, ter que implantar novamente? Quem ganha? Porque quem perde já sabemos que é a população em geral. Perde dinheiro, perde em mobilidade e perde em qualidade de vida.

Defendo que o mais sensato é concluir o VLT e incrementar o transporte ligando as estações do VLT com BRT para chegarmos aos núcleos periféricos, seja habitacional ou industrial. Aí sim estaríamos caminhando para o futuro e modernizando nossa cidade.

Quanto à questão do poder público subsidiar parte do bilhete, no mundo já é assim e compensa muito uma vez que diminui o número de veículos nas ruas, consequentemente diminui os acidentes e a economia, tanto na manutenção de vias quanto no sistema de saúde, cai muito. Logo, abrir mão do VLT, principalmente no estágio que ele se encontra, é um retrocesso irreparável, inadmissível e caro à população metropolitana de Cuiabá.
 

José Roberto Stopa é Formado em Geografia e especialista em Metodologia do Ensino Superior, atualmente é Vice-Prefeito e Secretário de Obras Públicas do município de Cuiabá.
 
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