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Sexta-feira, 24 de maio de 2024

Opinião

Pequena história da escola rural mista de Sucuri em Cuiabá

Tudo começou com o grupo de Cultura Sarã, formado por vários artistas locais de Cuiabá, que desenvolveu a primeira experiência com os ribeirinhos que viviam as margens do rio Cuiabá, mais precisamente na comunidade de Sucuri.

Localizado hoje a 8 km de Cuiabá, faz parte do município como distrito, criado pela lei municipal nº 5.395 de 26 de maio de 2011. No século XVIII fazia parte da grande região denominada rio acima.

O lugar tinha todas as características culturais que identificavam a cultura cuiabana original e com pouca influência externa. Formada por pescadores e pequenos posseiros, muitos eram afrodescendentes e tiravam seus sustentos da terra em pequenas roças, criação de pequenos animais e da fartura do pescado do rio. 
O linguajar típico era entrecortado por muitos vôtes…, xá por Deus…, agora quando… aufa..., expressões hoje esquecidas por quem viveu em Cuiabá entre as décadas de 60 a 90 do século XX.

A distância com a sede do município era realizada por estrada de terra batida e muito esburacada. Por vezes se encontravam carros atolados na época das chuvas ou com pneu furado na época da seca, à espera de alguém para ajudá-los.

Embora rica em cultura identitária, os poderes públicos municipal e estadual deixavam os ribeirinhos sem muita assistência aos bens e serviços públicos como saúde, educação, transporte, etc.

Em 1987 o núcleo de educação rural da Secretária Municipal de Educação de Cuiabá, liderado pela dupla Gilberto Fraga (Ex Secretário Municipal de Educação) e Ana Maria, teve a iniciativa de integrar a comunidade de Sucuri a educação oficial da sede do município.

A ideia era resgatar os adolescentes e adultos da Escola Rural Mista de Sucuri (Hoje com prédio novo é a Escola Municipal Hilda Caetano), usando a modalidade EJA, e proporcionar no período noturno uma educação com professores interinos contratados pela Secretaria Estadual de Educação de Mato Grosso. 

A experiência foi enriquecedora e importante para a carreira dos recém formados Professores Pedro C. N. Felix, (Área de humana) a Fabíola Gonçalves Stavaux Baudson (Área de linguagem) e Tânia Maria Lima Beraldo (Área de Ciências).

Durante todo o ano letivo de 1987 houve uma recíproca troca de experiências entre professores e alunos. 
Não só ensinamos como aprendemos com os alunos e alunas, verdadeiros cuiabanos vivenciando suas crenças e visão de mundo. A precariedade do transporte e da estrada não tirou o fôlego da experiência que começava lá pelas 18 horas e ia até mais de 23 horas após entregar os últimos alunos em sítios localizados a outros quilômetros de distância da escola.

Víamos neles uma vontade de aprender a coisa culta oficial e, ao mesmo tempo, de repassar de forma simples seu jeito de ser cuiabanos de tchapa e cruz.

Muitas vezes fui nos fins de semana na casa da saudosa dona Jaci suas filhas e netas para saborear seus quitutes e os doces de caju que ela fazia e vendia em Cuiabá. Hoje isso é memória, mas já foi realidade cristalina de muitos que viveram no Sucuri dos anos 80 do século XX.
 
Pedro Felix é professor e escritor em Cuiabá 
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