Olhar Direto

Domingo, 05 de maio de 2024

Opinião

De Midas ao culto do supérfluo.

O soberano da cidade de Frígia, (hoje uma região da atual Turquia) localizada na Ásia Menor da Grécia Antiga, Midas, era um homem ganancioso. Reza a mitologia que ele ao ajudar Sileno pai do Deus Dionísio que estava bêbado e perdido pelas ruas e levá-lo ao deus, ele foi bem recebido e pela atenção dada ao seu pai, Dionísio o agraciou com a proposta de um pedido, tal qual um gênio da lâmpada. Midas, então, pediu que tudo que ele tocasse virasse ouro, tendo seu pedido realizado. Porém, não contava que seu pedido viraria contra si, pois, Midas não conseguia se alimentar, beber água, tão pouco dormir. Seu alimento virava ouro em pedra, a água ouro líquido e sua cama antes de lençóis macios, ao deitar-se transformava em rocha. Quase morreu de inanição. Desesperado, foi até Dionísio para que seu pedido fosse revertido. Dionísio assim o fez!

Pouco tempo depois, Midas se envolveu em outro episódio constrangedor, ele entrou em uma disputa musical com Apolo, Deus da Música, na qual ele perdeu, embravecido com sua derrota, o rei Midas questionou a vitória de Apolo, que jogou-lhe uma praga, nascendo em Midas uma orelha de burro. Envergonhado, Midas passou a usar um turbante, e somente seu barbeiro sabia de suas orelhas. Obviamente, o barbeiro fora instruído a não contar a ninguém sobre as orelhas de burro do Rei. Não conseguindo guardar o segredo, atitude quase que natural dos seres humanos, o barbeiro cava um buraco e ali deposita o segredo, não muito tempo depois, através da Terra, todos passam a saber das orelhas de burro do Rei. Mais uma vez suas atitudes impensadas o levam ao desespero, Midas mata seu barbeiro e em seguida tira sua própria vida.

Sabemos que a palavra mito a grosso modo, significa algo que criamos em nosso imaginário, os povos antigos não somente gregos e/ou romanos, mas de todos os continentes representaram muito bem essas criações através da mitologia. Ao lermos o passado e fazermos uma analogia no presente, percebemos que muitos de nós comportam-se como Midas, a ganância desmedida, buscando ouro e riqueza, fama e poder, cultuando o supérfluo. Dão títulos de mito a figuras públicas, elogiam e endeusam ao mesmo tempo que odeiam e apedrejam. Midas em seu tempo não suportou o peso de querer pertencer e ter aquilo que não estava destinado a ele. Milhares em nosso tempo, comportam-se como Midas, contam moedas de ouro em redes sociais, apoiam-se no vazio da ostentação, forjam pertencimentos, constroem castelos em terrenos arenosos.,

O homem fruto de seu tempo e a seu tempo, de seus anseios e devaneios, de suas metamorfoses e vontades construídas pelo outro e polarizada para todos. De Midas ao culto do supérfluo o homem caminha pelo ego oco de si. E, nesta constância de ser e estar, de ter e pertencer, de espelhar-se em personalidades sem aprofundar-se em si mesmo, o homem transpõem os tempos e continua a comportar-se tal qual Midas se fez! No final, afogam-se em suas próprias ações desmedidas.​

Lidiane Álvares Mendes é doutoranda em Estudos de Cultura Contemporânea/ UFMT. Bolsista CAPES. Autora do livro: Na esteira da loucura: Colônia de Alienados Eduardo Ribeiro – Manaus/AM
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