Olhar Direto

Domingo, 05 de maio de 2024

Opinião

A finitude do EU-SER

Inseridos na sociedade do consumo, da oferta, do lucro como premissa, da exposição do corpo e das inquietudes da mente, sujeitos dos outros, das opiniões, likes e cancelamentos, atribulados em nossa matéria, em construir e ter, em status social, esquecemo-nos da finitude do Eu - do Ser. Fadigados exercemos nossos papéis roboticamente, a dinâmica que nos fez refém da hiperconectividade. A individualização do eu sozinho atrás da tela, polarizado pelo meio virtual nos fez senhores de nós na bolha das redes sociais, unfollow transformou-se sinais de amor e ódio, admiração e decepção, aumentando a pressão em ter e poder dos feeds, storys e status, mas que, no isolamento da claridade da tela aumenta a sensação de ansiedade volatizada até se tornar crônica, a valorização da liquidez dos relacionamentos, que se tornam descartáveis a cada match.
 
Absorvemos a cultura do sucesso e nos tornamos a sociedade do cansaço, refiro-me a esta sociedade estruturada pelas narrativas do escritor coreano Byung-Chul Han, em seu livro “A sociedade do cansaço”, neste livro de bolso, Chul Han, discorre em pequenos socos estomacais o nosso comportamento. Para ele, em grande parte do tempo estamos em uma busca frenética por autoafirmação, utilizando de frases de uma positividade exagerada, das selfies que retocam o rosto e o corpo e não amadurecem a alma.  Byung-Chul Han, escreve sobre a falta de propósito e sentido que nos levou ao que ele considera como uma sociedade cansada -  conectada – porém, cansada que busca aspirar tudo a todo tempo, gerando estafa física e mental.
 
O contemporâneo é paradoxal!
 
Sendo paradoxal, ele traz suas contradições ao validar a positividade subjetiva das redes sociais, o contemporâneo virtual negligencia as emoções naturais como a negação do outro, existe uma distorção do EU -  e - o eu é finitude. Nas telas, cultuam-se a sobrecarga tanto dos pesos de academia em busca de corpos espartanos, quanto do trabalho, do lazer, da vida em si. Perde-se o sentido literal de viver, de apreciar os detalhes de guardar experiências e memórias, os flashes das fotografias tomaram para si estes detalhes que passaram a ser efêmeros. Do equilíbrio vida – trabalho – saúde e espiritualidade tão característico das décadas anteriores se contrapõe a vida acelerada que acontece nas redes, a sociedade do cansaço já demonstra suas primeiras fissuras, corpos e mentes exaustos: insônia, transtornos mentais, fadiga e problemas cardiovasculares são alguns dos diagnósticos que sinalizam a finitude do EU-SER.
 
Observamos envoltos no próprio ritmo  as redes sociais e a hiperconectividade nos ingerir, gerenciam nossas vidas pelos algoritmos, alimentam vontades de ter e possuir, consagram pessoas como semideuses, aplaudem os vícios, nos tornam juízes de comportamentos e promotores de valores. Atrás das telas, nos vestimos de opiniões, de SER, cancelamos e elegemos, adotamos posturas de efeito manada, senso comum. Nas redes, expomos nossas vidas e intimidades, opiniões desfundadas, likes em troca de likes.
 
O contemporâneo é parodoxal! Limita e manipula-nos, o virtual algoritmo é ardiloso, atrai e distrai, é nessa distração que o Eu-Ser esquece da finitude de si.
 
Referência
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução de Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015. 80 p.
 
Lidiane Álvares Mendes é doutoranda em Estudos de Cultura Contemporânea/ UFMT. Bolsista CAPES. Autora do livro: Na esteira da loucura: Colônia de Alienados Eduardo Ribeiro 
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