Olhar Direto

Sexta-feira, 26 de abril de 2024

Opinião

O preço do voto

Arquivo Pessoal

A recente reforma eleitoral começa a produzir os seus efeitos. Novas regras no financiamento de campanha, no limite de gastos e outras mudanças na lei começam a fazer o seu caminho e assim, como com a lei da ficha limpa, introduzem importantes alterações no sistema.
 
A atual frustração de um grande número de potenciais pré-candidatos é já resultado disso. Ir a votos sem dinheiro e sem provas dadas na resposta às necessidades concretas das populações requer, no mínimo, fortes convicções em ideais sociais consubstanciados em programas desprovidos de estranhos interesses. Isso é pedir demais a muitos senão mesmo o impossível e os próprios começam a compreender que não basta já só fazer promessas, pois o eleitor aos poucos está a assumir ser ele mesmo uma expressão política e a exigir que os eleitos cumpram as suas obrigações da representatividade. Assim, concorrer para servir não está a estimular aqueles que habitualmente se arranham para conseguir ocupar um cargo e onde cada vez mais se observa não bastar somente ocupá-lo, é preciso agora desempenhá-lo e bem.
 
Por outro lado, os tradicionais financiadores de campanhas estão também eles apreensivos com a idéia e pedidos de injeção de dinheiro no processo eleitoral. Apreensivos pelas incertezas em conseguir assegurar o reembolso da sua aplicação financeira, em virtude das más práticas no exercício de funções públicas se encontrarem com maior grau de intolerância e bem mais susceptíveis de investigação. E apreensivos também por desagrado na dificuldade em manter sigilo da promiscua relação com agentes públicos que, despertos para o crime, acabam revelando mais vaidades do que códigos de honra. Vaidades essas que exibem em praça pública babando para simples cidadãos comuns, taxistas, vendedores, professores, o preço de uma cadeira de vereador, de deputado ou de um conselheiro. Nesta feira de exibições o instituto jurídico da colaboração premiada encontra terreno fértil para fazer com muito sucesso a promoção de delações nunca antes imaginadas. E para complicar um pouco mais a opacidade deste recurso econômico perverso, tramita atualmente no congresso nacional uma proposta de lei contendo medidas, entre outras, de criminalização do enriquecimento ilícito de agentes públicos ou de responsabilização dos partidos políticos e criminalização do caixa dois. Caso aprovada será mais um esforço no sentido de corrigir uma democracia desvirtuada pela corrupção e um sinal de alerta para todos que pretendem uma sociedade civil sequestrada, incapaz de contrariar a sua extorsão a céu aberto.
 
O descrédito que se instalá-la sobre a ação política afasta as pessoas da democracia e abre espaço para modelos organizacionais que a história já provou serem profundamente deficitários na procura de igualdade e justiça social. O voto tem assim um preço que precisa muito ser repensado para que com ele possamos adquirir melhores interlocutores e melhores políticas.
 
*Rui Perdigão é administrador, consultor e presidente da Associação Cultural Portugueses de Mato Grosso
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