Olhar Direto

Quinta-feira, 25 de abril de 2024

Opinião

Geni e o mensalin

Divulgação

José Geraldo Riva senta. A expressão é leve – melhor, aliviada. Com um sorriso no rosto aguarda a audiência começar, enquanto é fotografado e filmado incessantemente pela mesma imprensa que dele recebeu tantos afagos gordos: os que foram seus cúmplices em troca de vultuosos anúncios publicitários agora o cercam, como lobos, farejando manchetes e closes. Não duvido que entrem, em breve, na mira da língua do ex-todo-poderoso da Assembleia.
 

Começa a sessão, e Riva começa o estrago: Os deputados que apoiaram os governos Silval, Blairo e Dante recebiam um extra, em cash, para tal - prostituição parlamentar que já acontecia antes, segundo ele, mas que durante a gestão Maggi teria saído da articulação do Executivo para as suas mãos. E que mãos hábeis, ao menos para correr pelo errado: Do 1º ano de Blairo ao último de Silval a quantia a ser dividida teria saltado de 1 para 15 milhões de reais.
 

Às 4:20 em ponto, para o delírio dos jornalistas que se perguntavam se era uma alucinação, Riva mete o loco e nomeia 33 ex-coleguinhas que venderam seus mandatos, incluindo os atuais deputados Sebastião Rezende, Guilherme Maluf, Gilmar Fabris, José Domingos Fraga, Wagner Ramos, Daltinho, Mauro Savi e Pedro Satélite; entre os ex-deputados, o falecido Renê Barbour – nome do plenário da Assembleia. Segundo Riva, “só não pegou quem não quis”.
 

Mas foi na indicação de conselheiros pela Assembleia que ele sarrou sem piedade: Além de melar os planos de Maluf, Rezende e Domingos Fraga, que estavam se engalfinhando para suceder o conselheiro afastado Humberto Bosaipo, Riva abriu o jogo sobre a compra da vaga de conselheiro de Alencar Soares para Sérgio Ricardo por R$ 2,5 milhões - arrochados, claro, da Assembleia Legislativa de Mato Grosso. E todos os citados neste parágrafo receberam da mesada de Riva enquanto foram deputados - inclusive o atual conselheiro Campos Neto, pra não ser injusto com os demais.
 

E foi isso: Em 47 minutos José Riva abriu a Caixa de Pandora do seu reinado, deixou um enxame de caralhos voadores sair dela em plena luz do dia e começou, provavelmente, a maior carnificina política que este estado já viu. Creio eu que seja só o começo, e não vou estranhar se a semana na Assembleia começar de plenário vazio, com muitas ‘excelências’ dando um rolé no exterior – com exceção da Janaína, que vai estar mais faceira do que nunca.
 

Com razão: ela não está na lista. Toda essa caca que já fedia e agora recende na Assembleia não está na sua conta. Esse dinheiro mais que suspeito a elegeu, mas elegeu também os demais, ainda que proveniente de outras fontes. E precisamos ter a humildade e o senso de responsabilidade para assumir que nós, eleitores, muitas vezes também fazemos vista grossa para o mar de dinheiro injetado em qualquer campanha vitoriosa, tenha o sobrenome que for. O grosso do dinheiro da corrupção serve pra comprar seu voto, seja na urna ou durante o mandato, e todas essas mesadas foram pulverizadas nos bolsos de muitos em troca de apoio.
 

Tal humildade e senso de responsabilidade parecem ter tomado conta, ontem, de José Riva. Silente por tanto tempo, enquanto era massacrado sozinho por um ‘modus operandi’ que não lhe era exclusivo, Riva finalmente entendeu que lealdade no crime não existe e deixou um legado maior em uma tarde do que nos 20 anos anteriores. E, assim como Roberto Jefferson, ganhou o meu respeito – logo eu, que faço galhofas com ele desde que me lembro por gente.
 

Isso significa que ele é inocente? Nunca. Que ele deve ser poupado pela justiça? Não. Que concordo com essa forma de fazer política? Jamais. Isso significa que vi, naquele rompante de coragem nitidamente libertador, uma verdadeira vitória no combate à corrupção. É a Geni fazendo história enquanto muito paladino da justiça entope seus discursos de ‘moralidade’ e cia, mas nos bastidores se alia aos mesmos partidos e operadores de esquemas de sempre.

Cuiabá, 1º de abril de 2017 (é dia da mentira, mas é verdade).

 

 

 

*Fellipe Correa foi candidato a vereador pela Rede Sustentabilidade em 2016 e sua campanha custou aproximadamente R$ 2 mil em espécie.
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